É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma
Luchino Visconti foi um extraordinário cineasta italiano e realizou obras memoráveis que fizeram com que ele entrasse na galeria dos “grandes” da 7ª Arte. Tinha título de conde e era filho de um duque. Paradoxalmente, na década de 1940, filiou-se ao Partido Comunista.
Destacou-se no teatro e na ópera, mas foi no cinema que pode produzir/dirigir, de 1943 a 1976, filmes extraordinários, como “Morte em Veneza”, fundamentado na obra de Thomas Mann. Em 1963, convidou o ator americano Burt Lancaster para atuar no filme “O Leopardo”, baseado na obra de Giuseppe Lampedusa, que trata da decadência italiana, com a unificação promovida por Garibaldi.
De um lado, a aristocracia quer manter os privilégios; do outro, o anseio dos que estão fora do círculo em querer uma parte restrita à nobreza. As portas se abriram, mas o anseio dos que estavam fora da gafieira, perdão, do círculo, não transcorreu como se desejava – porque entraram outros interesses, outros jeitinhos (o último regime perfeito foi o do Éden e deu no que deu).
Tem sempre alguém para oferecer um “toco” em troca de vantagem e, na outra ponta, terá sempre alguém de olho grande nas promessas, mesmo que sejam ilegais, imorais e engordem.
O mundo de hoje vive situação parecida, respeitadas as devidas proporções. Dois países ricos e poderosos – EUA e à China – têm grandes diferenças socioeconômicas, absorvidas como naturais. Quem vai à capital do mundo (NY), vê os homeless se aquecendo no fogo montado em tonéis, vê pessoas catando comida no lixo e, se entrar mais um pouco, verá famílias morando em trailers sem esgoto e sem água encanada.
Na China, há dois países num só: um, rico, desenvolvido, com grana saindo pelo ladrão e o outro ainda existe na área rural, com estimativa de que 13 milhões de pessoas vivam na linha da pobreza, com renda de cerca de R$ 340 mensais.
Eu digo: “o sujo está falando do mal lavado”. Nosso país mandou a monarquia de volta para Portugal e criou a república. As desigualdades da época do império estão vivas e só não são piores porque programas de bolsas distorcem a realidade, mas não criam desenvolvimento.
Municípios sobrevivem do Fundo de Participação dos Municípios - FPM e dos poucos tributos gerados pela renda dos programas. Uma das consequências: a mão de obra não vai para o batente; é mais lucrativo ficar em casa recebendo as bolsas.
Visconti foi questionado sobre a convivência numa só pessoa na nobreza e no comunismo: tirava de letra. O que se sabe é que vendeu joias da família para seguir a carreira de cineasta. E que cineasta! No Brasil, as joias da coroa estão na caverna de Ali Babá. Para entrar, basta dizer a senha. Aquela “abre-te sésamo!” perdeu a validade.
E agora, João?
* Executivo do segmento shopping centers ([email protected]).
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