Enfermagem: substantivo feminino
O documento Standart Curriculum Guide é um marco na Enfermagem brasileira, pois, já em 1917, preconizava o ensino da história da profissão. Neste momento, convido à reflexão não apenas sobre o percurso da Enfermagem, mas também sobre o papel da mulher e as oportunidades profissionais atuais para os enfermeiros e enfermeiras.
Em 1917, também surgia o embrião do que hoje conhecemos como o Dia Internacional da Mulher. Na Rússia do czar Nicolau II, mulheres marchavam sob o lema "Pão e Paz", reivindicando melhores condições de trabalho. O que nos separa daquele tempo e do presente? Essencialmente, nada. Continuamos sendo mulheres em busca de nosso melhor, mulheres em busca de "pão e paz".
Nesse contexto, a relação entre mulheres, Enfermagem e protagonismo se torna um tema fundamental. É essencial que a atual geração de enfermeiros e enfermeiras olhe para trás e reconheça o legado construído por nossas antecessoras no âmbito profissional, científico e humanitário. Somente assim será possível compreender o vasto campo de oportunidades que temos hoje.
Missões como a Missão Parsons, em 1923, e a Missão Rockefeller, nas décadas de 1920 e 1940, trouxeram para o Brasil os fundamentos da Enfermagem moderna, consolidando a profissão e as mulheres enfermeiras como protagonistas na saúde pública, na figura das Enfermeiras Visitadoras. Durante a Segunda Guerra Mundial, 78 enfermeiras brasileiras voluntárias atuaram nos campos de batalha, juntando-se a milhares de outras mulheres ao redor do mundo, que contribuíram para suas nações no campo, na indústria, na ciência e na saúde.
Nós, mulheres enfermeiras, estamos presentes na história desde tempos imemoriais. Florence Nightingale revolucionou a Enfermagem moderna e o processo de cuidar. Mary Seacole, mulher negra e jamaicana, atuou no tratamento de doenças tropicais. Elizabeth Kenny, nos confins da Austrália, desenvolveu métodos para reabilitação de pacientes com poliomielite, influenciando diretamente a Fisioterapia moderna. Edith Ward revolucionou o uso terapêutico da luz solar, abrindo caminho para a fototerapia neonatal. E essa lista poderia continuar indefinidamente, pois ser mulher e ser enfermeira é, historicamente, sinônimo de transformação, cuidado e ciência.
Hoje, a Enfermagem se expande para os mais diversos campos, consolidando-se como uma profissão autônoma e rompendo com a centralização hospitalar. Novas formações e especializações avançam amparadas por legislações que garantem maior respaldo profissional. A mulher segue na luta, encarando jornadas triplas e quádruplas, sendo senhora de si, derrubando barreiras e desafiando tabus.
Por fim, faço uma observação pessoal: não me agrada a expressão "empoderamento feminino", tão frequentemente utilizada. Como conceder algo a alguém que, na verdade, sempre o teve?
* Doutoranda em Enfermagem e coordenadora do curso de Enfermagem do Centro Universitário UniFBV Wyden.
___
Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail cartas@folhape.com.br e passam por uma curadoria antes da aprovação para publicação.