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OPINIÃO

Esqueça os cargos: o futuro do trabalho é sobre resolver problemas

Cerca de 170 milhões de novos postos de trabalho serão criados até 2030, segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial, divulgado em 2025. Isso confirma o que todos já sabem, o mercado segue em plena transformação, marcado por uma sequência de avanços tecnológicos sem caminho de volta. Os novos cargos serão engenheiro de fintech, especialista em Inteligência Artificial (IA), especialista em dados, engenheiro de energia renovável, entre outros. 

Você deve ter notado que os títulos das vagas não soam como algo disruptivo, inclusive, parecem ser mais do mesmo. O que paira em minha mente quando vejo essas tais previsões sobre as profissões do futuro é que a estrutura de cargos está falida. E se continuarmos dando lugar a ela, só vamos reforçar um sistema que limita o potencial humano no trabalho. 

Na prática, líderes e liderados se apegam tanto a funções que se esquecem que elas nascem, morrem e mudam. O que não se altera é a natureza do trabalho: habilidades aplicadas a afazeres, com a finalidade da resolução de tarefas. Ou seja, é sobre competências e, no final, somos — ou teríamos que ser — resolvedores de problemas. 

E por que falo em limitar o potencial humano? Muitas vezes, ao ocuparem determinadas vagas, os talentos simplesmente passam a corresponder ao que é esperado naquela caixinha e param de contribuir — seja por respeito, medo, foco ou falta de oportunidade — em missões nas quais suas habilidades seriam mais bem utilizadas. Se isso não te convenceu, vamos a um número perturbador: um estudo recente da Gallup, empresa de análise de dados e consultoria, aponta que 68% das pessoas dizem não aplicar suas melhores habilidades profissionais em suas rotinas de trabalho.

O risco de colocar profissões acima de habilidades e resolução de problemas é enorme. Neste cenário, nossos próprios talentos passam a ser ocultos (ou não solicitados), a grama do vizinho segue sendo sempre mais verde e ficamos míopes ao achar que a solução para as nossas dificuldades não está dentro de casa.  

Está certo que esse sistema que tanto criticamos não existe à toa. Delimitar atividades, salários, expectativas e objetivos segue trazendo clareza tanto para líderes quanto para liderados, mas não é preciso ser Albert Einstein para perceber que ele não tem sido produtivo. O que proponho não é implodir esse sistema. Quer dizer, não sem antes salvar dele o que realmente funciona. A proposta aqui seria mudar a ordem das coisas e prioritariamente alocar pessoas para resolver desafios conforme suas habilidades. 

Companhias como Spotify, IBM e Google estão adaptando seus processos de seleção para contratar pessoas com base em suas habilidades ao invés de focar em funções ocupadas no passado. Essas empresas dizem usar cargos ou missões como âncoras ou nortes, para mostrar aos seus times o que é esperado. E isso deveria ser só o começo. O fato é que deveríamos nos movimentar ainda mais rápido, porque as mudanças não perdoarão nosso atraso em se adaptar às novas necessidades.

Já ficou claro que a principal dificuldade de não ter uma organização focada em skills é que os conhecimentos dos nossos profissionais são ora subestimados, ora subutilizados. Por isso, te convido a uma breve reflexão: quantas oportunidades são perdidas todos os dias na sua empresa por encaixarmos pessoas redondas em vagas quadradas, ou vice e versa? A estrutura de cargos e hierarquia está te ajudando ou te atrapalhando? 

E para não dizer que não falei sobre IA, a solução passa por ela —  ou por aplicar tecnologias que trazem agilidade, escalabilidade e produtividade. Para se tornar uma organização baseada em skills é preciso mapear e conhecer os colaboradores que você tem dentro de casa e entender quais são as habilidades que essas pessoas possuem e querem utilizar mais no ambiente de trabalho. Por fim, é necessário estruturar um modelo de gestão por redes. Ele vai permitir uma liderança mais eficiente dos talentos disponíveis, baseada em suas competências específicas para solucionar desafios. 

É sobre usar a tecnologia para colocar o humano no centro e construir novas maneiras de trabalhar. É sobre impulsionar e não limitar. A pergunta é: somos corajosos e flexíveis o suficiente para focar em resolver os problemas reais e não nos esconder atrás de cargos ilusórios? 
 

* CEO e Cofundador da acaso, startup com soluções de inteligência de skill-matching.

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