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OPINIÃO

Eternamente John Lennon, um gênio da música

Mais uma vez chegamos ao dia 8 de dezembro e uma legião de fãs lembraram do  aniversário da morte de John Lennon, um dos grandes mitos da música. Só que desta vez são 44 anos de seu inesperado e trágico desaparecimento. Segunda-feira à noite, em frente ao edifício Dakota, no Central Park, em Nova Iorque. O estúpido assassino, Mark David Chapman, chamou Lennon depois sacou a arma e disparou cinco vezes. 

O artista cambaleou até uma pequena sala instalada no Dakota, gemeu e caiu de bruços. A inveja, o ódio e a insânia jamais desacompanharam os célebres se fizeram por qualquer motivo ou causa. Assim foi com Gandhi, Luther King, os Kennedy, entre outros. Infelizmente, ele pagou o tributo de quem estava no centro da celebridade. Afastado da vida artística, assumiu o papel de “dono-de-casa” em tempo integral.

No recolhimento, fazia pão e cuidava de seu filho Sean. Mas, a quem John Lennon fazia mal? Ao sistema capitalista selvagem dos americanos e às hipocrisias da política externa da Casa Branca? A rede de intrigas da espionagem? Aos ditadores e tiranos das Américas Latina e Sul? Perguntas e respostas que fervilham nossas células cinzentas como diria o detetive Hércules Poirot, personagem da célebre escritora Agatha Cristhie. A quem John Winston Lennon, nascido em Liverpool no dia 9 de outubro de 1940 fazia mal?

Com sua guitarra, poesia, belas e instigantes músicas espalharam-se pelos quatro cantos do mundo. Desde adolescente ele identificava com a música, inclusive fundou a banda The Quarry Men, em 1957, que contou com a presença de Paul McCartney e que daria origem ao grupo The Beatles. Em 58, George Harrison passou a integrar do grupo.

Após dois anos, a banda mudou de nome e passou a se chamar The Silver Beatles, que contou também com a presença de Pete Best (baterista) e Stuart Sutcliffe (baixista), originando The Beatles. Em 1962, Ringo Starr entrou no grupo. Eles tocaram a música que ninguém mais tocou; eles não se pareciam com nenhum outro grupo e se tornaram a maior influência de todos os tempos sobre a juventude.

 A chegada dos Beatles aos Estados Unidos foi uma espécie de “invasão britânica” de rock and rol de muito impacto. Até Elvis Presley foi esquecido por algum tempo. Ganharam fama, sucesso, dinheiro e milhões de fãs no mundo inteiro. Atingiram em parte seu objetivo, uma vez que conseguiram criar um comportamento de vida para toda uma geração carente de inovações. No entanto, sucumbiram como grupo em 10 de abril de 1970. “ Crises de relacionamentos, vaidades, uso de drogas para superar problemas existenciais, individualismos... “O sonho acabou. As coisas continuam como eram, com a diferença de que estou 30 anos e uma porção de pessoas usam cabelos compridos também. Só isso!” disse.  

Após a extinção dos Beatles do grupo, Lennon passou a se preocupar com assuntos pacifistas, como o repúdio à Guerra do Vietnã. É provável que ele tenha exercido uma influência maior e mais profunda nos movimentos sociais do que a maioria das figuras políticas. Na carreira profissional gravou 12 discos, com destaque para Imagine, Double Fantasy e Mind Games. Yoko Ono teve participação ativa no segundo momento de sua carreira. Com ela teve somente um filho, Sean Taro Ono Lennon, que nasceu em 9 de outubro de 1975, justamente quando Lennon completou 35 anos.

As atitudes que ele tomava não parecem pertencer a uma espécie de antepassado histórico dos nossos atormentados dias. Os profetas, os estudantes nas ruas, as mulheres gritando por liberdade, as barbas patriarcais dos hippies, a liberação sexual, os conflitos entre pais e filhos, a escalada das drogas, a fome e a miséria social de mãos dadas, enfim, o apelo patético pela paz, bombardeando nossas mentes.

Um filme que se repete nos dias de hoje. Lennon mesmo diria numa frase lapidar: “Parte de minha política e a de Yoko e não sermos levados a sério. Somos humoristas – o Gordo e o Magro. “Nós queremos ser os palhaços do mundo”. O sopro da violência/ demência sequer respeita os palhaços. Ele anteviu, de certa forma, as quedas dos muros e das fronteiras como o hino musical “Imagine”.

Pediu pelo desarmamento no momento certo e clamou pela paz ao mundo marcado por guerras, exclusões e desigualdades sociais. A ideia de “Imagine” era anárquica, ultrapassava os ideais utópicos. Nenhuma religião, nenhuma norma, homem natural, sem fronteiras os países. Todas as pessoas vivendo em paz. “ Talvez me julguem um sonhador, mas eu não sou o único”. Desabafo, metáfora artística ou expressão de revolta?

Por exemplo: as músicas Imagine, Power To The People, Happy Xmas, Mother, Instant Karma. Mind Games, Woman, Just Like, Only People e Give Peace a Chance – formam, na verdade, um dos mosaicos mais líricos, contemporâneos e pungentes da inquietação que dominou a juventude. Uma inquietação fora do normal encravada na memória daqueles que foram jovens adolescentes em épocas contraditórias e revolucionárias. É bem verdade que muita coisa não mudou. 

Os ditadores, os guetos, as favelas, as palafitas, continuam existindo. Além disso, as invasões, as guerras, as drogas, as agressões do homem à natureza, a miséria social, a fome, o desemprego, o terrorismo, o fanatismo, o caos, o narcotráfico, as armas, fazem parte da rotina do mundo de hoje. Além da concorrência da Mídia, a ditadura de modismos e os mercadores de ilusões passam por cima da sociedade como pata de Godzila. Mesmo assim, é preciso saber viver, amar, existir e gozar à própria vida. 

É preciso sonhar, respeitar o direito de ir e vir. Podem ter certeza que a obra musical de John Lennon não foi assassinada pelo “beatlemaníaco” Mark David Chapman. Ela sobreviveu ao seu autor e permanece sendo ouvida até hoje em todo o mundo. Muita gente se inclina diante de sua imagem revolucionária, irreverente, polêmica… que desafiou frontalmente os conceitos e a ordem natural dos fatos. 

Foi um iconoclasta dele próprio, derrubando, quebrando e desfazendo suas próprias loucuras e fantasias, em busca da verdade e de uma mais perfeita forma de liberdade. Lennon estimulou rebeldias, defendeu proscritos, exaltou a força popular contra os governantes oportunistas. Em sua carreira, ganhou 235 milhões de dólares. Deixou somente 30 milhões.

Doou a metade de seus bens à Fundação Espírita que fundou, em favor das crianças abandonadas, dos órfãos e dos idosos. “Tudo o que eu estou dizendo é Dê à Paz Uma Chance, e que não temos nenhuma resposta, nem o segredo de uma nova forma para a sociedade. Porque não tenho nem acredito que qualquer pessoa tenha” acentuou. 

John Lennon não desconfiou da rapidez e do radicalismo que o sonho terminou. Nem os homens sérios, nem palhaços são respeitados. Mas, belas mesmas eram as guitarras, o som novo, os jovens faquirizados na coreografia alucinante, as canções de paz, os gritos de protesto contra a guerra, a opressão, a pobreza, o sentido burguês da vida.


* Jornalista, pesquisador musical e escritor.

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