Flagelados das secas e flagelados das chuvas
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Séculos e séculos, o semiárido do Nordeste brasileiro foi castigado pelo flagelo da seca. Parecia uma maldição eterna como fenômeno climático sazonal. São Pedro, o regente das nuvens, acompanhou durante séculos o sofrimento dos sertões. O xique-xique, o mandacaru, o cacto e os juazeiros resistiam bravamente. A asa branca, as ararinhas-azuis e as onças pintadas clamavam a misericórdia dos céus.
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Aconteceu uma evolução biológica revolucionária na fauna e na flora, tipo um Big Bang sertanejo: o cruzamento do xique-xique, o mandacaru, a jaguatirica, as onças pintadas e a asa branca, fez surgiu a espécie do Homo Sapiens Sertanejorium, segundo o cientista criacionista Charles Darwinovsky. O Sapiens Sertanejorium tem a resistência do mandacaru e a valentia das onças pintadas.
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Os criacionistas vermelhos inventaram a fake news de que os Sapiens são descendentes dos sapos barbados e o Homem Sapo é analfabeto de nascença. Eu não creio nesta teoria marxista.
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A grande seca de 1877 a 1879 ficou na história como a tragédia que resultou na morte de 600 mil nordestinos, dizimou os rebanhos de gados e outros animais de criação. As pessoas e os animais morriam de fome, seca e inanição. Não havia politica pública para amparar os flagelados, eles só dependiam da caridade popular. Os efeitos perversos da seca continuaram ao longo de décadas no século seguinte.
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Impactado pelos horrores da seca, o Imperador Dom Pedro I fez a declaração histórica: “Não restará uma única joia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome”. Na real, o Imperador tinha muitos poderes no reinado, mas não tinha o poder de substituir São Pedro no reino do céu. Esta certamente foi a maior catástrofe do Império e da história do Brazil.
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Em 1975 a cidade de Recife foi atingida por uma grande cheia provocada pelo transbordamento da barragem de Tapacurá, em São Lourenço da Mata. O governador do Estado era José Francisco de Moura Cavalcante. O general-presidente Ernesto Geisel aprovou a ampliação do sistema de barragens e Recife livrou-se das enchentes.
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Uma nova grande seca assolou os Estados nordestinos nos anos 2000 a 2002. A falta de água causou a morte de mais de 100 mil cabeças de gado. Houve crise de desabastecimento de gêneros alimentícios. A redução das chuvas afetou as hidrelétricas, com apagões e racionamento de energia.
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A construção de obras de infraestrutura hídricas, barragens, adutoras, irrigação e transposição de bacias do São Francisco e políticas públicas mitigaram o flagelo das secas sazonais. Mas o problema ainda persiste em menor escala. A era dos retirantes, felizmente, ficou no passado.
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Obra de arte primorosa e pungente, o quadro Os Retirantes, de Cândido Portinari, projeta os mortos-vivos da seca, crianças esquálidas, família maltrapilha e sem destino, num céu de desolação. Guernica, de Pablo Picaço, expressa o protesto surrealista contra o horror do bombardeio nazista na guerra civil espanhola de 1937.
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Brasileiros de todas as regiões hoje pranteiam os mortos, desaparecidos, desabrigados, as vítimas da tragédia no vale das lágrimas do Rio Grande do Sul.
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periodista, escritor e quase poeta