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OPINIÃO

Formação continuada: o protagonismo docente como base transformadora

A formação continuada de professores e professoras é uma das ferramentas mais poderosas para transformar a educação pública. No entanto, conforme apontado por Magda Soares, é indispensável que essa formação coloque esse (a) profissional como protagonista, respeitando sua experiência e saberes acumulados. Essa perspectiva rompe com modelos tradicionais, que os (as) tratam como meros receptores de conteúdos, dessa forma, a proposta é uma abordagem centrada na prática, reflexão e produção de conhecimento.

No cenário atual, formações alheias à realidade escolar mostram-se ineficazes para atender às demandas específicas dos (as) docentes.  Segundo Magda Soares, a formação deve partir do chão da escola, da vivência cotidiana, para que esses saberes construídos tenham relevância prática. Dessa forma, o (a) docência se concretiza quando eles se sentem como os principais responsáveis por sua formação, contribuindo com reflexões baseadas em suas práticas.

Uma das estratégias para alcançar esse protagonismo é a criação de espaços que valorizem a troca de saberes entre os (as) professores (as). Grupos de estudos permitem que ocorra diálogos, compartilhamento de desafios e buscas de soluções coletivas. São momentos que fortalecem a identidade docente, ao mesmo tempo que promovem um senso de pertencimento e colaboração.

Outra proposta é a realização de congressos e eventos que permitam aos professores e professoras apresentaren seus projetos pedagógicos e resultados de pesquisa-ação. Nesses espaços, eles e elas deixam de ser ouvintes passivos para se tornarem autores e autoras de conhecimento. Além disso, a publicação de artigos e capítulos em livros semestrais fortalece essa perspectiva, ao documentar e disseminar as boas práticas realizadas na rede de ensino.

A pesquisa-ação também surge como uma metodologia central para a formação docente na perspectiva do protagonismo. Ela convida o (a) professor (a) a investigar os desafios do cotidiano escolar, propor intervenções, implementá-las e refletir sobre os resultados. Esse ciclo contínuo promove uma formação mais significativa, já que conecta teoria e prática de forma orgânica.

Magda Soares ainda reforça que a formação só faz sentido se for contextualizada, considerando as especificidades culturais, sociais e pedagógicas de cada comunidade escolar. Isso significa que a política de formação continuada deve ser flexível, adaptável e capaz de dialogar com a diversidade das escolas e seus profissionais.

Para além disso, é essencial reconhecer a prática como fonte legítima de teoria. É plausível ressaltar que esses profissionais carregam consigo um conhecimento valioso que emerge de sua experiência. A formação continuada deve, portanto, criar espaços para que esse saber prático seja valorizado, sistematizado e compartilhado com outros profissionais.

A tecnologia também pode desempenhar um papel crucial nesse processo. Plataformas digitais de formação, repositórios de boas práticas e comunidades virtuais de aprendizagem ampliam as possibilidades de participação e troca de saberes e práticas, promovendo o protagonismo docente em ambientes digitais.

A valorização do trabalho colaborativo e a criação de políticas públicas consistentes são pilares indispensáveis para sustentar a formação continuada. Eventos, publicações e projetos devem ser institucionalizados para garantir que todos tenham acesso às mesmas oportunidades de protagonismo.

Em síntese, o protagonismo docente, conforme defendido por Magda Soares, é a chave para uma formação continuada significativa. Quando professores e professoras são colocados no centro do processo formativo, eles não apenas aprimoram sua prática, mas também se tornam agentes transformadores da educação pública, contribuindo para um ensino de maior qualidade e equidade.

Mestre em História, especialista em História da África e Pedagogia, pesquisador do NEAB/UFPE, do CEA/UFPE e do Afrika'70 . ([email protected])

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