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OPINIÃO

Habemus carnaval

Quando inicia o ano, boa parte do povo pernambucano passa a esperar ansiosamente pela chegada do carnaval, seja em fevereiro, seja em março como nesse ano, o que importa é que ele chegue. Apesar do sistema de prévias carnavalescas cada vez mais intenso por essas terras, aguarda-se com ânsia o período do reinado de Momo. 
É dito numa canção de André Rio: “Que bom te ver de novo. É fevereiro, eu agradeço a Deus. Tua cara pintada, teu sorriso. O Recife é teu. O trio, a tribo, a trupe na rua. Na lua ou em qualquer lugar. No frevo, no passo. Ou num mar de braços abertos abraçando o mar”.

Inexoravelmente, o carnaval 2025 está chegando a todo vapor e a olhos vistos. As prévias já prenunciam o tom das festividades e com tanta alegria e entusiasmo, já se pode ouvir: evoé! Conforme atesta Moacyr Franco em emocionante composição: “A nossa vida é um carnaval. A gente brinca escondendo a dor. E a fantasia do meu ideal. É você, meu amor”. É tempo, pois, de reafirmarmos o passo na folia, mas sempre com responsabilidade. O carnaval é, incontestavelmente, possuidor de uma magia inexplicável que só quem participa dele consegue compreendê-lo melhor. 

Em se tratando do carnaval pernambucano, Recife e Olinda dividem a atenção de muitos foliões. Na capital, há o maior bloco do mundo, Patrimônio Cultural Imaterial do Recife e de Pernambuco, o Galo da Madrugada, é quem dá o primeiro passo da folia pernambucana. Não há maior concentração de gente em linha reta numa festa noutro lugar. 

Assim está grafado em seu Hino: “A manhã já vem surgindo. O sol clareia a cidade com seus raios de cristal. E o Galo da madrugada, já está na rua saudando o carnaval. Ei, pessoal! Vem moçada! Carnaval começa no Galo da Madrugada”.

Enquanto o Galo abre alas para o carnaval logo cedinho no sábado de Zé Pereira em Recife, o Homem da Meia-Noite abre os festejos em Olinda, pontualmente, fazendo jus ao seu nome, encerrando o sábado e iniciando o domingo de carnaval. É um Patrimônio Vivo de Pernambuco que atrai a cada ano uma multidão maior de foliões. 
Em seu desfile, entrega a chave da cidade à Troça Cariri Olindense, de quem foi dissidente. Assim aduz o Hino do mais conhecido gigante das ladeiras olindenses: “Lá vem o Homem da Meia-Noite. Vem pelas ruas a passear. A fantasia é verde e branca para brincar o carnaval”. E tome freeeeevo. Eu disse Freeeeevo.

Seja nos embalos do repertório multicultural recifense ou no multiculturalismo proveniente da Marim dos Caetés, as pessoas se envolvem entusiasticamente com os festejos de Momo, só parando, parcialmente, na quarta-feira de cinzas. Vale ressaltar que em diversas outras cidades pernambucanas a folia carnavalesca também marca presença com suas identidades próprias. 

Pode-se dizer que efetivamente o carnaval pernambucano inicia em Recife, com o desfile do Galo da Madrugada. Eis que o Frevo do Galo é emblemático ao pronunciar: “Acorda Recife, acorda. Que já é hora de estar de pé. Levanta, o carnaval começou. No bairro de São José”.

Vale também recordarmos alguns versos da Banda de Pau e Corda: “O Recife acordou deu bom dia. Encontrou todo o povo nas ruas. Nas pontes, nas praças, se amando. Se encontrando com alegria. No eterno gingado de frevo, ciranda e baião. Batida de coco, maracujá e limão. Vem, vem, vem fazer parte deste cordão. Recife tem um lugar pra você dentro do coração”. Já em Olinda, o Hino do Elefante é enfático: “Olinda, quero cantar. A ti, esta canção. Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar. Faz vibrar meu coração. De amor a sonhar, minha Olinda sem igual.
Salve o teu carnaval”. É tempo de reverenciarmos toda a potencialidade cultural do estado e, sobretudo, sua variabilidade musical com frevo, ciranda, samba, coco, maracatu, dentre outros ritmos mais.

Em suma, muitas pessoas já estão numa inconteste contagem regressiva para o carnaval. Umas mais envolvidas, outras menos. Apesar de nem todo mundo ser adepto de tais festejos. Nas palavras de Alceu Valença: “Eu tenho mais que tá nessa. Fazendo mesura na ponta do pé. Quando o frevo começa, ninguém me segura. Vem ver como é. O frevo madruga lá em São José. Depois em Olinda na Praça do Jacaré. Bom demais, bom demais. Bom demais, bom demais. Menina, vamos nessa que esse frevo é bom demais”. Habemus carnaval!

 

* Advogado e professor.
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