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OPINIÃO

Menos bebês no mundo: sua empresa está preparada?

Com metade da população acima dos 35 anos e a idade média do trabalhador beirando os 40, o Brasil fica grisalho, acompanhando a tendência mundial. Como publicou a Bloomberg Línea no último fim de semana, em 2030 11,7% das pessoas no planeta terão mais de 65 anos - percentual que, na América Latina, subirá para 18,8% em 2050.

Tal mudança no perfil demográfico não aconteceu da noite para o dia, mas... "de repente, não há bebês o suficiente e o mundo inteiro está alarmado", destacou há alguns meses o Wall Street Journal. 

Por aqui, ainda estamos longe do quadro atual de países como Japão, Itália e Portugal. Mas, após atingirmos em 2041 nosso ápice populacional, projetado para 220,4 milhões de habitantes, começaremos a encolher... por falta de bebês.

No mês em que se celebra o nascimento, há mais de dois milênios, de uma criança que mudou o destino do mundo, é inevitável refletir sobre a queda da natalidade - inclusive por opção. Há 25 anos, pesquisas mostravam que 13% dos casais não queriam ter filhos. Hoje, são 19%.Qual será o impacto desses berços vazios? E não daqui a dois milênios, mas no nosso dia a dia daqui a, digamos, duas décadas. 

Os lançamentos imobiliários ainda incluirão playgrounds? Haverá mais geriatras e cuidadores do que pediatras e babás? As academias terão mais aulas para evitar perda de massa muscular que treinos de alto impacto para quem busca hipertrofia? Como se comportarão a moda e o entretenimento? O prazo do financiamento imobiliário será de 50 anos?  

Só que, apartado do cotidiano, o envelhecimento da população é muitas vezes tratado quase como um tema acadêmico, algo que parece passar longe da realidade das marcas que consumimos, das empresas onde trabalhamos e dos serviços que contratamos. 

Algo dicotômico em um mundo corporativo que celebra constantemente a longevidade das marcas - e já são muitos os exemplos. Basta olhar para toda a vitalidade de centenárias como Açúcar União, Granado, Hering, Pernambucanas, Salton, Votorantim e Ypioca, entre tantas outras. 

Mas está o mercado preparado para consumidores que também chegarão aos 100? Embora não se espere que os centenários sejam muitos no curto prazo, os sexagenários serão. As estatísticas apontam que, até 2050, seu número dobrará. E eles terão peso crescente nas relações de consumo e na força de trabalho - afinal, a aposentadoria é cada vez mais tardia em um sistema previdenciário pressionado. 

Porém, completar 60 anos no mercado de trabalho pode ser prenúncio de adeus até para quem está na liderança: muitos bancos e grandes empresas ainda hoje adotam limite etário (em geral, na casa dos 60) para CEOs e conselheiros. 

O que talvez explique a surpresa de alguns diante do recente conselho do gênio das finanças Warren Buffett, 93, ao CEO do grupo de luxo LVMH, Bernard Arnault, 75. Buffett afirmou que seria um erro Arnault se aposentar daqui a cinco anos, com tanto ainda pela frente. 

E, de fato, com os avanços da medicina e a melhoria das condições de vida, não serão poucos os que terão uma vida longa e saudável, permitindo uma contribuição profissional mais duradoura. Contribuição que, em mais casos ainda, será mandatória, por não poderem se aposentar tão cedo. 

A questão é: as empresas estão prontas para mudar a mentalidade em relação à idade de seus colaboradores e o seu padrão de atendimento a um público cada vez mais longevo? Cada vez mais ativos, bem-informados e independentes, muitos sexagenários se distanciam a passos largos do estereótipo do idoso frágil, que pouco sai de casa. 

Como atraí-los, como garantir a sua preferência, como customizar ofertas para o seu perfil - estes são desafios cada vez mais presentes nas empresas que se acostumaram com um perfil demográfico no qual crianças e jovens eram dominantes.

Claro que há setores que já respondem a essas mudanças, sobretudo nas áreas de saúde e cuidados pessoais. Arquitetura, tecnologia e transporte também avançam em soluções para todas as idades. Contudo, muitas marcas de segmentos como financeiro, lazer, mobilidade, alimentação e educação ainda terão de se adaptar às transformações trazidas pelo envelhecimento populacional. 

Se ainda não o fizeram, não é por falta de exemplos por toda parte. Claudia Raia deu à luz um bebê aos 55. Shakira é sex symbol aos 48. Cristiano Ronaldo segue como atleta de alta performance às vésperas dos 40. E não só famosos a servir de exemplo. 

O goiano Valdomiro de Sousa se formou em medicina aos 90 anos. Janete Mendonça, 63, é aluna do curso de música da Universidade Federal de Pernambuco - uma entre os 51,3 mil estudantes que têm mais de 60 anos e estão matriculados em um curso de graduação no Brasil, segundo o Censo de Educação Superior do Inep.

Raia, Shakira, Ronaldo, Valdomiro e Janete simbolizam uma nova definição de maturidade. Mais saudável, mais sociável, mais experiente, mais ativo e com menos filhos ou netos para cuidar, esse será, cada vez mais, um perfil numeroso entre seus colaboradores, consumidores e colegas. Preparado?

VP de Marketing da Falconi.

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