opinião

Muda, Pindorama! Na cantiga da perua, é de pior a pior

Dedico este artigo ao meu colega o genial poeta Drummond, que um dia perdeu as ilusões de ser brasileiro

 
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Década 1990, havia um slogan: “Muda, Brazil!” O Brazil mudou. E daí e daí?! Segue o lema da cantiga da perua: “É de pior a pior!” A sentença nos tempos da guerra do Vietnã, década de 1970 -- Make love, not war”, faça amor, não faça guerra -- comoveu a humanidade. Assim foi decretado em Woodstock, em São Francisco da Califórnia, nos bordeis de Brasília, na Praça dó Capitólio de Campina Grande, na Casa da Luz Vermelha, no Salão Oval da Casa Branca e na rampa do Palácio do Planalto. Amem! Todos disseram. Amém!

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Sob o signo da Guerra Fria, décadas de 1950 e 1960, o Doutor Strangelove, um estranho amor, cavalgava a bordo de uma ogiva nuclear para simbolizar o equilíbrio do terror. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS e os Estados Unidos da América estavam armados até o tutano e os artefatos nucleares poderiam destruir o mundo. O timoneiro chinês Mao Tse-tung dizia que o capitalismo era um tigre de papel, mas não convinha arriscar. 

O Papa polonês Karol Wojtila mobilizou os anjos da guarda do bem para combater os anjos das trevas, discípulos de Lúcifer (Vade retro, satanás!) e o maldito muro de Berlim desmoronou em 1989. O efeito dominó acarretou a falência múltipla do comunismo no Leste europeu. Ainda hoje anencéfalos da caterva vermelha sentem saudades do muro. 

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Os ativistas costumam aplicar o rótulo de que o regime autoritário vigorou de 1964 até 1985. Vejamos algumas vírgulas. O AI-5 foi revogado pelo general-presidente Geisel no crepúsculo do seu governo, em outubro de 1978, como parte da redemocratização. A anistia e a volta do exilados políticos aconteceram em 1979. Exclamação. Em 1982 houve eleições diretas para governadores, deputados federais e estaduais e eleições indiretas para 1/3 dos senadores biônicos. Reticências. 

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Mas, no meio do caminho tinha uma pedra: além dos biônicos, o pacote de abril de 1977 continha teores casuísticos, tipo o voto vinculado e a famigerada Lei Falcão, de restrições à propaganda eleitoral. Leonel Brizola, inimigo implacável do regime, foi eleito governador do Rio de Janeiro. A história é escrita pelos vencedores, dizem os isentões.   Ilusão de ótica. Neste reino de Pindorama a história é escrita pelos perdedores.

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Ditadura, nunca mais! Censura, never more! Viva a democracia! Vírgula! Ponto e vírgula! Interrogação. Reticências! Et cetera! Lero-lero! 

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Uma vez meu colega o genial poeta Carlos Drummond de Andrade me contou um segredo: “Eu também já fui brasileiro/ moreno como vocês. /Ponteei viola, guiei forde/ e aprendi na mesa dos bares que o nacionalismo é uma virtude./ Mas há uma hora em que os bares se fecham/ e todas as virtudes se negam.”
Eu disse a ele: “Drummond, Vossa Excelência tem razão”. Ele respondeu: “Thank you, colega Adalbertovsky!” Saudades do meu amigão!


* Periodista, escritor e quase poeta.

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