Natal o ano todo e todo ano é Natal
Na contagem regressiva para o Natal, à medida que as ruas se iluminam e os corações se aquecem com a expectativa da celebração, surge uma pergunta inquietante: por que o espírito natalino não permanece em nós ao longo de todo o ano? Em 2024, um ano marcado por desafios globais, crises humanitárias e transformações sociais, o Natal vai além da promessa de renovação. Ele nos convida a uma reflexão crítica sobre a verdadeira história dessa data tão especial.
A tradição nos ensina que o Natal celebra o nascimento do Menino Deus, símbolo de esperança, humildade e amor incondicional. Porém, parece que essa mensagem se dilui em meio ao frenesi do consumo, à superficialidade das confraternizações e à efemeridade das boas intenções. Olhando para o próximo ano, precisamos reconhecer que a verdadeira celebração do Natal não é um evento pontual, mas uma postura de vida que transcende o dia 25 de dezembro.
O ano que está prestes a terminar nos mostrou como a humanidade ainda é marcada por desigualdades gritantes, guerras, desastres climáticos e a busca incessante por poder e lucro em detrimento da solidariedade. O espírito natalino, que deveria simbolizar a união e o cuidado com o próximo, muitas vezes é relegado a meros gestos simbólicos, deixando de transformar, de fato, as estruturas que sustentam essas desigualdades.
Mas e se aceitássemos o desafio de viver o Natal todos os dias? Se incorporássemos os valores do Menino Deus (humildade, justiça e compaixão) em nossas rotinas? Em vez de limitar o amor ao presente embalado com laço dourado, poderíamos oferecer presença genuína ao outro. Em vez de promover festas que duram uma noite, poderíamos construir pontes que durem uma vida.
A virada do ano é sempre vista como uma oportunidade de recomeço. Contudo, de nada adianta mudar o calendário sem mudar os corações. O Natal não deveria ser uma data, mas um processo contínuo de transformação pessoal e comunitária. Em 2025, que tal construir um mundo em que a solidariedade não dependa de campanhas de fim de ano, mas seja a base das nossas relações humanas?
O nascimento do Menino Deus nos ensina que grandes mudanças começam em gestos simples. Ele nasceu em um estábulo, cercado de humildade, e transformou o mundo com a mensagem de que o amor é a força mais poderosa que existe. Em tempos tão marcados pela indiferença, temos o dever de acolher esse ensinamento como um compromisso diário, e não como um rito anual.
Ao olhar para o futuro, precisamos nos perguntar: que legado estamos deixando? Que testemunho de fé e humanidade estamos oferecendo às próximas gerações? O espírito natalino deve ser um farol que nos guia pelos 365 dias do ano, iluminando não apenas nossas casas, mas também nossas atitudes, nossos discursos e nossas escolhas.
O desafio, portanto, é fazer do Natal uma prática cotidiana. Que ele seja visto não como um fim, mas como um começo. Que a chegada de 2025 traga consigo não apenas promessas de mudança, mas ações concretas que reflitam os valores que tanto celebramos em dezembro.
Vivamos o Natal como um movimento que transforma nosso jeito de enxergar o mundo, de lidar com as diferenças, de cuidar dos mais vulneráveis. Se o espírito natalino sobreviver a cada dia do ano, estaremos verdadeiramente celebrando o nascimento do menino Deus, e não apenas repetindo rituais vazios.
O mundo precisa de mais do que luzes e enfeites; precisa de transformação. Que 2025 seja o ano em que o Natal finalmente deixe de ser uma data para se tornar um estado permanente de ser. Essa é a verdadeira celebração, e ela começa agora, com cada um de nós.
* Articulista, filósofo, pedagogo e teólogo ([email protected]).
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