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OPINIÃO

Novo ano, novos investimentos: por onde começar a avaliar a saúde financeira?

Empreender é, acima de tudo, tomar decisões. E poucas são tão complexas quanto decidir se, quando e como buscar investimento. 

No Brasil, com a taxa Selic em 11,25%, ainda há um desafio extra: o custo do capital. Nesse contexto, cresce a importância de avaliar rigorosamente a saúde financeira da empresa antes de iniciar qualquer captação. Sem essa base, até os projetos mais promissores se tornam armadilhas.

Por diversas vezes, gestores financeiros observam uma dificuldade comum entre os empreendedores. Mesmo aqueles que apresentam boas ideias ou produtos disruptivos acabam tropeçando na falta de clareza ao apresentar dados como fluxo de caixa, balanço patrimonial e projeções de retorno, que acarretam respostas negativas de captação ou projetos que não entregam o valor esperado.

Um estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que 68% das empresas usam recursos próprios para operar, mas essa abordagem tem limites. 

Com o tempo, o uso de capital externo, seja bancário ou de risco, passa a sustentar o crescimento sustentável e atender a demandas mais robustas, como investimento em tecnologia, novas contratações ou ampliação de capacidade produtiva.

Há um ditado no mundo das finanças que nunca perde o charme: "receita é vaidade, lucro é sanidade, caixa é rei". O fluxo de caixa é o indicador mais direto da saúde de uma empresa, pois reflete todas as entradas e saídas de recursos. Não basta olhar para o faturamento quando é preciso mapear prazos de pagamento, condições de recebimento e o impacto de custos financeiros, como juros de empréstimos ou antecipações. 

Em um cenário de taxas de juros elevadas, negligenciar esses aspectos pode corroer o caixa, mesmo que o resultado operacional aparente ser positivo.

Antes de qualquer investimento, seja para adquirir máquinas, expandir operações ou contratar tecnologia, dois indicadores devem estar na mesa de qualquer executivo: o ROI (Retorno sobre Investimento) e a TIR (Taxa Interna de Retorno). Essas ferramentas não são apenas números para apresentações - na prática, elas validam se o capital será bem empregado. 

O ROI é útil para entender a eficiência de um projeto, ou seja, quanto retorno ele pode gerar para cada real investido. Já a TIR ajuda a comparar o retorno projetado com alternativas mais seguras, como aplicações financeiras de baixo risco.

Por mais robusto que um projeto pareça, fatores externos podem colocar em xeque a viabilidade de um negócio. Inflação, variações cambiais, mudanças regulatórias e custos de insumos são exemplos de variáveis que impactam diretamente os resultados.

Empresas do setor de logística, por exemplo, sofrem impacto direto das flutuações no preço do combustível. Por isso, antecipar cenários e criar estratégias de mitigação também são habilidades que destacam marcas resilientes.

Os projetos devem ser pautados em dados concretos, com o uso de KPIs - indicadores de desempenho - específicos, simulações financeiras, estudos de mercado e, no caso de tecnologias mais acessíveis, inteligência artificial (IA) e Big Data para coletar e interpretar informações.

O capital de terceiros é uma das alavancas mais poderosas para o crescimento empresarial, mas exige responsabilidade. 

Avaliar a saúde financeira, considerar fatores externos e trabalhar com números concretos é uma necessidade, já que investir sem preparo é como navegar sem bússola: pode-se até chegar a algum lugar, mas as chances de naufrágio são imensas.

Ao estruturar as decisões com uma base sólida, o empreendedor atrai os melhores investidores e garante que cada real captado seja convertido em valor sustentável.
 

* Diretora executiva de Finanças da Startup Unlog.

Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria para possível publicação.


 

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