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O desafio da mão de obra qualificada no comércio exterior

Estamos enfrentando cada vez mais dificuldades para formar bons profissionais e em conseguir bons candidatos. A dificuldade enfrentada pelas empresas do setor de Comércio Exterior em encontrar mão de obra qualificada não é novidade, especialmente quando se trata de bons profissionais em início de carreira. 

Nos últimos meses, essa preocupação tornou-se ainda mais urgente, com algumas empresas mantendo vagas abertas por mais de dois meses, sem sucesso na contratação. Além disso, a perspectiva da abertura de um novo terminal em Suape promete aumentar ainda mais a demanda por profissionais que compreendam as complexidades da logística internacional e seus principais atores.

Como professor universitário, formei inúmeros alunos ao longo dos últimos 20 anos, a ponto de perder a conta. Posso afirmar que conheço 90% do mercado de comércio exterior em Pernambuco. É perceptível a diferença na formação dos estudantes de hoje em relação aos de tempos atrás. 

Seja pela quantidade de alunos que tínhamos; pelo estilo da nova geração (o temido conflito de gerações pode estar em evidência aqui); pelo aumento da demanda do mercado, com mais novas vagas; pela estrutura que algumas faculdades possuíam, mais focadas na área de comércio exterior; ou, talvez, por uma combinação de todos esses fatores, o que nos atormenta bastante. O fato é que estamos enfrentando cada vez mais dificuldades  para formar bons profissionais e em conseguir bons candidatos.

Desta forma, as empresas terminam tendo que buscar no mercado, muitas vezes até no concorrente, um bom profissional para a vaga de assistente júnior. E isto só acontece mediante o pagamento de salários equiparados a um Assistente Pleno ou Sênior, mesmo que ele ainda não tenha toda esta base de conhecimento. 

É possível Imaginar a dificuldade de explicar para toda a organização o motivo deste disparate salarial, não é verdade? Além disto, tirar um funcionário daquela empresa, que o tirou de outra empresa (a tão comentada “dança das cadeiras” do comércio exterior), sempre abala as relações entre as organizações. Imaginem isso acontecendo entre concorrentes? E o pior, este não é um problema local, é nacional.

Mas, se, por um lado esta tem sido uma das grandes preocupações deste segmento de comércio exterior do Brasil, por outro lado também é notável a insatisfação dos profissionais da área com os baixos salários que as empresas estão pagando, dados os tantos pré-requisitos que elas exigem. 

Parece um contrassenso, mas eis a explicação: os profissionais deste mercado, em menos de um ano de início na área chegam a dobrar seus salários, em função da necessidade de gente com médio conhecimento no setor. O que cria uma expectativa de um bom crescimento salarial anual para este entrante no segmento.

Porém, este segundo momento, o do novo aumento salarial, não acontece tão rápido, nem todas as empresas possuem estrutura organizacional que comporte, ou seja, terminam que os novatos se frustram rapidamente, inclusive porque também ainda não possuem este conhecimento tão diferenciado que os façam dar outro salto salarial. 

Este é o principal motivo da tão difundida reclamação de baixos salários que ouvimos entre os profissionais. Este aumento salarial, em todos os demais segmentos, se dá mediante a apresentação de resultados, mediante o engajamento e a entrega acima do previsto, o que a própria inexperiência, no geral, ainda não permite.

E é assim, diante deste cenário, a princípio sem solução, que está surgindo uma possível alternativa: um programa de capacitação prática neste segmento, promovido pelas empresas privadas, do setor, que prevê a formação de 30 novos profissionais para a primeira turma e formação e conhecimento sendo passado pelas próprias empresas apoiadoras do projeto. 

O intuito é criar um grupo de profissionais bem formados, que estejam disponíveis para o nosso mercado, com capacidade de rapidamente se integrar às empresas, sem continuar o processo predatório de tirar mão de obra de outras. Uma cooperação empresarial sendo feita por empresas pernambucanas que têm visão, que estão diminuindo e quem sabe extinguindo o quase inevitável apagão de mão de obra no comércio exterior de Pernambuco! É aguardar que o programa está saindo do forno.

 

* Consultor de comércio exterior de internacionalização de empresas, diretor de OCCA, diretor de Inovação da ABDAEX, coordenador de MBA em Comércio exterior, coordenador dos cursos de Gestão da UNIFBV e mestre em Economia.

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