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O papel do educador no Brasil. É importante pensar no ato de ensinar

O educador tem o papel de libertar por meio da palavra. Quem aprende é um sujeito capaz de, pelos seus atos, provocar mudanças na sociedade e na história. Para construir conhecimento é necessário considerar a experiência de cada um. É preciso valorizar o profissional da educação, oferecendo-lhe condições para que haja exercício de uma práxis que faculte ao educando um pensamento crítico da própria realidade.

O futuro é construído no presente. O enredo da humanidade se engendra por meio de vertentes dialéticas, nunca por meio de dicotomias inexoráveis. Há um estado que permeia os elementos que compõem a nossa existência, que não é permanente. Ao contrário, pertence a um logos em movimento. Despertar é ter consciência dessa estrutura semovente.

O professor é alguém que interage e dialoga com os alunos, considerando as circunstâncias, o meio ao qual estes se inserem, e o histórico de cada um. Encará-lo como um mero agente que intermedeia assuntos complexos das ciências humanas e exatas, como uma autoridade pedagógica inquestionável, é desumanizar a educação. Desta maneira, os alunos deixam de ser sujeitos e passam a cumprir o fim único de absorver conteúdos sem questionar o que lhes foi transmitido em sala de aula.

Estabelecer vínculos por meio do ensino é situar o interlocutor como um ser que vive em sociedade, sendo capaz de percebê-la. Educar é subverter a lógica da “pedagogia da opressão” (obra brilhantemente escrita por Paulo Freire) por que se estrutura uma realidade que privilegia alguns e vilipendia muitos. A formação do indivíduo dá ao coletivo condições de produzir pensamentos políticos, cujo fim seja fazer uma construção para o outro.

O professor é peça essencial naquilo que forja indivíduos dentro de um grupo. Hoje, há diversos recursos que podem auxiliá-lo – um deles é o uso da tecnologia, a qual, se bem utilizada, ajuda o educador a orientá-lo. Erro, contudo, é substituí-lo. Humanos aprendem a agir por meios humanos. Adstrita esta característica, o método que poderia libertar, aprisiona. Há uma necessidade urgente de saber manejar as ferramentas disponíveis em nosso tempo para beneficiar as pessoas do presente.

O que jaz no silêncio é consentido por todos. “Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade” (FREIRE, 1996, P.32). Interessa à sociedade ter profissionais que sejam inquietos e que a todo instante se instruam quanto ao que se pratica no dia a dia. Aquele que não se relaciona com as circunstâncias cotidianas é um anacrônico; aliena-se e perde o vínculo que tanto se deseja estabelecer com quem está aprendendo.  

Habilidades cognitivas e socioemocionais existem paralelamente. Ambas são parte de um só conhecimento. Renunciar-se ao próprio meio é um ato que tende muito mais ao hermetismo que à transmissão clara de um pensamento que escarafuncha radicalmente as questões sociais, políticas e individuais.

Consiste no ato de ensinar uma troca. O método assume a propriedade fundamental da consciência humana. Quando existe a dedicação de transmitir algo a alguém, recebemos do outro a intenção de praticar o que foi apreendido. Educar, grosso modo, quer dizer: “trazer para fora”. E o que, afinal, se torna evidente recebe em si a luz do conhecimento. Compreender e aprimorar a visão de mundo é também projeto político, pois faz emanar na pessoa vontade encarnada em ações conscientes. Parafraseando o mestre Freire, o saber muda as pessoas, e estas mudam o mundo.

A atividade docente, nos dias de hoje, vem sofrendo um processo de precarização. Há uma maior quantidade de alunos por turma; os salários são baixos, o que os obriga a ter mais de uma atividade para complementar a renda mensal; e a infraestrutura de trabalho é, quase sempre, ruim. É necessário haver um resgate desta que é uma carreira de Estado. A educação, enquanto mercadoria, tende a pressionar os catedráticos. Os discentes ingressam nas universidades para participar de um mercado que também se precariza. Ampliam-se o adoecimento mental e físico. A lógica vigente os faz agonizar.  

O professor no ensino superior tem uma missão muito significativa. É pela confluência de ideias e debates no ambiente acadêmico que haverá a formação das mentes que deixarão à sociedade seu legado como trabalhadores. Este  é um serviço que exige de ambos muita devoção para discutir temas que sejam relevantes às necessidades dos nossos dias. Pensar é sempre um ato de resistência. Dar agência a esses formandos é apostar no futuro de um país, constituindo-se enquanto povo, moldando-se enquanto ser.  

* Avaliador do Inep e sócio da Somos Young.

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