O peso de ser mulher na advocacia: um desabafo sobre poder e voz
É fácil criticar quando se está de fora. Quando o trabalho já foi feito, a obra pronta, todos parecem saber o que fariam melhor. “Ah, se fosse eu naquele lugar, seria diferente. Seria perfeito.” Mas como é fácil falar sem ter de prestar contas. É cômodo apontar o que poderia ter sido, projetar o que será no dia em que aquela pessoa, tão confiante em suas próprias palavras, chegar ao poder.
Olhando para a realidade, pergunto: e as mulheres? Como é fácil perpetuar uma estrutura onde o poder não se dá a elas. As mulheres continuam longe do palco principal, e isso não é acaso. É uma escolha coletiva de manter essas vozes como vícios, nunca virtudes. Há muito tempo as mulheres têm lutado para ocupar espaços de decisão, mas o sistema se recusa a culpá-las pelo sucesso ou pelo fracasso, simplesmente porque não lhes permite estar à frente.
No ambiente da advocacia, essa realidade é ainda mais dura. A mulher que se impõe é rotulada de “grossa”, “arrogante”, “difícil”. Se ela fala baixo, é ignorada. Se fala alto, incomoda. Não é fácil. O timbre da nossa voz parece não ter o peso necessário para sustentações orais. O tom não é suficientemente grave para silenciar as outras vozes, tão acostumadas ao espaço de poder que ocupam sem questionamentos.
O caminho até aqui foi longo e cheio de dúvidas. Não pelas pessoas envolvidas, mas pelas estruturas que se repetem. Eu, como advogada, conheço o trabalho da candidata Ingrid Zanella, e sei de sua competência. Mas minha dúvida era mais profunda: será que simplesmente mudar o poder é suficiente? Será que não chegou a hora de olharmos além da simples alternância? Não é isso que estamos precisando? A presença de uma mulher advogada na presidência da Ordem, com uma vice também mulher, seria realmente uma ruptura com o passado, ou apenas mais uma resistência a deixar espaços de poder finalmente serem ocupados por mulheres?
Essa dúvida é legítima, mas a resposta está cada vez mais clara para mim. A mudança real, a que esperamos há tanto tempo, não se faz apenas com nomes diferentes. Faz-se com a coragem de colocar uma mulher, pela primeira vez na história, à frente da OAB Pernambuco. Faz-se com o reconhecimento de que competência não tem gênero, mas que o gênero tem, sim, um peso na forma como a competência é vista, julgada e, muitas vezes, ignorada.
Portanto, não me restam dúvidas: meu voto será em Ingrid Zanella e Schamkypour Bezerra. E espero que com isso, possamos dar um passo decisivo para que as mulheres avancem e, finalmente, tenham seu lugar merecido. Não apenas na advocacia, mas em todos os espaços de poder.
* Advogada e sócia do escritório LA Advocacia.
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