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Os desafios para tratar o câncer de mama em pessoas trans

O mês de outubro, marcado pela campanha do Outubro Rosa, traz à tona a importância da conscientização e prevenção do câncer de mama. No entanto, dentro deste debate, há uma parcela da população que, muitas vezes, passa despercebida: as pessoas trans.

Tanto os homens trans como as mulheres trans podem desenvolver o câncer de mama, mas, infelizmente, o acesso a exames de rastreamento e as recomendações médicas para este grupo ainda são pouco discutidos.

Algumas etapas do processo de transição de gênero podem aumentar ou reduzir as chances do câncer de mama. Mulheres trans, por exemplo, costumam fazer uso de terapias hormonais com o objetivo de promover mudanças corporais.

O principal hormônio utilizado é o estrogênio, que induz o desenvolvimento de características femininas estimulando, inclusive, a formação do tecido mamário. Estudos indicam que o uso prolongado de hormônios femininos pode elevar o risco de desenvolver a doença, embora este risco ainda seja considerado mais baixo do que o das mulheres cisgênero. De qualquer forma, o rastreamento regular é uma medida fundamental para a detecção precoce.

Por outro lado, homens trans que realizaram a mastectomia durante o processo de transição apresentam risco bastante reduzido para o câncer de mama. Mas eles não estão completamente livres da possibilidade de surgimento da doença, uma vez que células mamárias remanescentes podem desenvolver o câncer.

Para aqueles que não optaram pela mastectomia ou que fazem terapia hormonal com testosterona, o risco pode ser semelhante ao das mulheres cisgênero e é necessário realizar periodicamente exames para rastreamento. 

Diante disso, protocolos inclusivos e específicos para a saúde da população trans são essenciais. Muitas vezes, essas pessoas enfrentam barreiras no acesso ao sistema de saúde, seja por falta de preparo dos profissionais para lidar com as especificidades da população trans, seja por discriminação, medo ou diversos outros fatores. Todo esse contexto dificulta a realização de exames de rastreamento importantes, como a mamografia.

Com o objetivo de estabelecer a forma mais adequada para rastreio do câncer de mama na população trans, o Colégio Americano de Radiologia (ACR) publicou, recentemente, algumas orientações baseadas em diversos estudos científicos.

Elas levam em conta fatores como a história médica individual, incluindo a avaliação de fatores de risco, histórico pessoal ou familiar de câncer de mama, antecedente de irradiação torácica, presença de mutações genéticas, a duração e o tipo de terapia hormonal e a presença de cirurgias mamárias.

Através de uma análise detalhada de todas essas variáveis, é possível definir intervalos e métodos de rastreamento adequados para cada caso, podendo ser indicadas mamografia, ultrassonografia e até mesmo ressonância magnética das mamas.

A inclusão dessa população nas políticas de saúde pública e nas campanhas de prevenção não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia necessária para garantir que todos, independentemente da identidade de gênero, tenham acesso a cuidados adequados e prevenção eficaz contra a doença.

Afinal, o câncer de mama não faz distinção de gênero, e a detecção precoce continua sendo a melhor forma de salvar vidas.

Nos últimos anos, muitos avanços ocorreram em relação ao diagnóstico e ao tratamento do câncer de mama nas mulheres, resultando em uma menor mortalidade ao longo do tempo.

Contudo, ainda pouco se fala sobre o câncer de mama nas pessoas trans. Devemos ampliar as discussões sobre o assunto para garantir que todas as pessoas trans tenham acesso à informação e aos cuidados necessários para proteger sua saúde.

O conhecimento é um importante aliado da população e pode ajudar a salvar vidas. O câncer de mama não deve ser um tabu, e o rastreamento inclusivo é um passo vital para a igualdade na saúde.

* Médica radiologista do Centro Diagnóstico Lucilo Ávila.

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