Palmas para o criativo e sustentável
Encerrei a última semana em Palmas, capital do Tocantins. E lá estive como convidado da Secretaria de Cultura do Governo do Estado, para proferir mais uma palestra sobre a importância da Economia Criativa, com ênfase nas produções culturais ditas mais convencionais.
À minha velha persistência de registrar a ordem de grandeza das distintas cadeias produtivas, que representam pesos significativos para as economias locais, regionais e nacional, preciso revelar e relevar aqui a experiência de mais um conhecimento sobre essa diversidade chamada Brasil.
O que, infelizmente, para muitos pode passar como algo desprezível e até tratado como um mero sinal econômico de pobreza, representa a maior tradução de uma riqueza por ser priorizada, valorizada e executada. Justo neste momento, em que o produto intangível e a humanização das relações econômicas se tornam essenciais e iminentes.
A iniciativa de se promover mais um de tantos seminários sobre o papel da Economia Criativa, nos quais tenho atuado como expositor, por si só, bem representa uma decisão das mais acertadas, pelo ciclo e ritmo que a dinâmica econômica tem-se pautado na atualidade. Pena que iniciativas outras, públicas ou privadas, não tenham despertado para tamanha evidência, no real entendimento do que se projeta como desenvolvimento sustentável.
No entanto, tão importante quanto o realismo dessa percepção de mudança no mundo, foi mesmo ver de perto, fazer uma imersão serena, em torno dos valores culturais tocantinenses. De fato, minha experiência só confirmou que o Brasil é uma mina extraordinária de talentos criativos, de uma diversidade que revela uma riqueza, que ainda carece bastante de tratamento econômico.
No modelo de execução do evento, além dos debates sobre a urgência de se colocar a emergente “indústria criativa" no seu devido lugar, todos os participantes foram levados para conhecer, através da música, um verdadeiro caldeirão de ritmos, muito bem conduzido por instrumentistas e intérpretes de inegáveis capacidades artísticas.
Foi mesmo algo ímpar, pois num Estado tão comprometido com o sucesso comercial do estilo musical dito "sertanejo", assistir ao espetáculo dessa diversidade, foi além de surpreendente. Diria, sem qualquer dúvida, que foi mesmo algo convincente, no sentido do Estado de Tocantins confirmar a força do seu patrimônio cultural.
Apesar dos 3 D, do desconhecimento da sociedade, da desinformação constituída e do desleixo das políticas públicas, o exemplo concreto desse patrimônio imaterial, tem lá seu lado animador, caso se consiga avançar na direção do que o mundo sinaliza.
Com um pouco mais de consistência na análise histórica dos ciclos econômicos, cria-se o fundamento teórico de que a promoção do desenvolvimento de modo sustentado, estabelece-se por dois eixos muito bem definidos e articulados: 1) pela realidade econômica que está bem consolidada pelo ciclo da produção de intangíveis; 2) pela capacidade humana de criar, fazer ciência e inovar no uso de tecnologias.
Ou seja, diante de um rigoroso contexto de preservação ambiental, a expressão melhor da dinâmica econômica passa a depender da capacidade criativa e inovadora dos seres humanos.
Nisso tudo, um detalhe vital: que tais eixos só engrenam a contento se a educação for a base da transformação desejada. Ela é o retrato maior do conhecimento, capaz de fortalecer a cultura, a ciência e a tecnologia. E o meio ambiente, respeitado e ensinado como um espaço apropriado de qualidade de vida para toda sociedade.
Enfim, o convite da Secretaria de Cultura do Tocantins, no nome do secretário (o poeta e compositor Tião Pinheiro) e toda sua equipe, fechou com "chave de ouro" as experiências que acumulei ao longo do ano. Assim, só confirmei minha tese de que o melhor do "Homo sapiens" está em ser, por agregação de valores, "culturae" (cultural), "susteneri" (sustentável) e "libratum" (equilibrado).
Por isso mesmo, cabe-me realçar um “duplo sentido”. Palmas para o criativo e sustentável. É mais um, entre tantos casos espalhados pelo Brasil, de fonte de inspiração no intangível e na criatividade.
* Economista e colunista desta Folha de PE.
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