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OPINIÃO

Qual o motivo da estupefação? Trump é filho da cultura americana

O espanto que pode ter atingido muitos com a ascensão do presidente Donald Trump à presidência dos Estados Unidos não encontra ressonância em passado histórico e longínquo de uma Nação, que entre os séculos XVIII e XIX formava um país que se situava entre o Maine, localizado na região da Nova Inglaterra, no extremo nordeste do país e a Flórida, localizada na região sudeste.

O território que corresponde aos Estados Unidos foi colonizado pelos ingleses até a insurgência dos colonos que empreenderam o movimento de independência durante a ocupação, que seria efetivamente concretizada posteriormente.

As colônias estavam em número de treze e agrupadas no território compreendido entre os Grandes Lagos, os rios Ohio e Mississipi e os Montes Apalaches e devidamente listados em ordem geográfica do Norte para o Sul. Não obstante os Estados Unidos tenham sido colonizados pelos ingleses, foram os espanhóis que primeiro ali chegaram em 1492 e estabeleceram-se.

A expansão territorial norte-americana começou em 1803 quando Napoleão pretendia ocupar a Louisiana que pertencia a França que estava sendo liderada pelo Imperador. Era presidente na época Thomas Jefferson, que o comprou por 15 milhões de dólares, para surpresa de Monroe, que emprestou seu nome a Doutrina Monroe, que tinha como dogma o lema: “A América para os americanos”. O expansionismo não cessou. México, Havai etc. 

Não ficou nisso. O extermínio dos povos nativos que se estima em 12 milhões de pessoas foi terrível, levando quase à destruição da etnia. O pior é que o extermínio era glamourizado em filmes de faroeste onde os invasores eram os heróis e os índios nativos das regiões, os vilões. Era a grande marcha para o Oeste.

Barbosa Lima Sobrinho, autor de Estudos Nacionalistas e outras obras, exerceu intensa atividade em vários campos da cultura e da política brasileira, foi conciso: “Quando uma Nação consegue multiplicar 17 vezes o seu território inicial não se poderá considerar extemporânea a indagação se já alcançou os limites das suas aspirações ou se ainda continua a pensar em acrescentar novas unidades à sua bandeira de 50 estrelas”.

Existem dois livros que merecem ser lidos para se compreender a cultura norte-americana. São eles: A História não contada dos Estados Unidos, escrito por Oliver Stone e Peter Kuznick e Estas verdades, escrito por Jill Lepore.

Oliver Stone é consagrado diretor e produtor de grandes filmes. Peter Kuznick é PHD em história e diretor do Instituto de Estudos Nucleares da American Universiry. 

Jill Lepore é professora de história americana em Harvard e redatora da The New Yorker. É autora do best-seller A história secreta da Mulher-Maravilha. Elio Gaspari, Jornalista e historiador intensamente comprometido com o fim do arbítrio que se instalou no Brasil a partir de 1º de abril d 1964, em artigo publicado no Jornal do Comércio do dia 25 de outubro de 2020 afirmou: “Os personagens da obra têm carne e osso. A autora olha para os magnatas, os poderosos, os negros, os índios e as mulheres”.

Para os editores de A história não contada dos Estados Unidos “O livro é um arquivo importantíssimo e raro”.

Ao ser reconduzido à presidência dos Estados Unidos Donald Trump aguça as contradições internacionais competitivas impondo tarifas e taxações sobre as indústrias, deixando o mercado brasileiro sob expectativa. Não bastasse tudo isso, o reempossado oferece protagonismo descabido ao bilionário Elon Musk em manifestações coreográficas no mínimo hilárias, como se o mesmo fosse o próprio presidente.

Ao desvario Trumpista se antepõe a China que vem ameaçando a preponderância americana, em diversas áreas sensíveis do capitalismo, e levaram a nova realidade para arbitragem da Organização Mundial do Comércio (OMC). É “briga de cachorro grande”, como se diz no jargão popular.

Fazendo reflexões sobre os tempos futuros, Mikhail Gorbatchov, que governou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas de 1985 a 1991 oportunidade em que se desmoronou o comunismo na região, e era figura exponencial nos tempos da Guerra Fria, fazendo digressões sobre o porvir, foi razoável: “A história é uma dama imprevisível, não quero irritá-la”.

No que concerne ao turvo momento que se apresenta ao Brasil, as bravatas aguçam as preocupações principalmente depois que Donald Trump anunciou que pretende transformar a Faixa de Gaza em uma “Riviera do Oriente Médio, proposta que que nem o próprio Netanyahu acredita exequível, até porque Yassen Arafat em 26 de agosto de 1981 já afirmava: “o Estado de Israel é uma criação artificial, à custa da população “palestina”. Apesar da contundência da afirmação o líder palestino tornou-se conciliador afirmando: “Nesse caso a solução do problema passaria antes pelo reconhecimento das duas realidades”.

O Estado de Israel foi criado em 14 de maio de 1948 por David Ben-Gurion, líder do movimento sionista. A Assembleia Geral da ONU adotou a resolução 181 sobre a divisão da Palestina, na época sob mandato britânico, para a criação de dois Estados, um judeu e outro árabe, com a cidade de Jerusalém com um status internacional.
A solução já existe. Falta o cumprimento. 


* Procurador de Justiça do Ministério Público de Pernambuco. Diretor consultivo e fiscal da Associação do Ministério Público de Pernambuco. Ex-repórter do Jornal Correio da Manhã (RJ).

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