Releitura de Maquiavel: o fascínio que mobiliza multidões
Maquiavel dizia, no Príncipe, que para governar, os políticos devem ser temidos ou amados. O filósofo se referia a um tempo de profunda agressão, coisa que, atualmente, custamos a ver nas democracias convencionais, salvo alguns redutos atrasados do País. Hoje, acredito que não há mais espaço para os políticos temidos, apenas para os amados.
Temer um político é sinônimo de atraso, o que não significa que o tal governante não tenha meios para fazer valer sua vontade. A violência para solucionar conflitos deu lugar às “pedras de papel”, no dizer do cientista político Adam Przeworski. O convencimento é o grande mecanismo da política dos dias atuais.
Há candidatos que conseguem contagiar uma cidade, um estado e até um país, acumulando milhões de seguidores, com vídeos virais e arregimentando votações expressivas, comprovando que as redes são instrumentos eficazes de persuasão. É possível constatar, Brasil afora, exemplos no Legislativo e no Executivo, de como o político exerce esse fascínio com os seus eleitores.
O fenômeno se assemelha mesmo a essa ideia de contágio, utilizando a metáfora do “meme”, como uma ideia que viraliza e se propaga, mudando a forma de enxergar a realidade. Uma mensagem engraçada quebra a resistência do espectador, que passa a consumir o conteúdo e se identifica com o político como se fosse uma celebridade, um personagem de uma história.
A comunicação não resolve uma eleição, que depende de fatores estruturais para acontecer, mas sem dúvida a comunicação faz o eleitor sair de casa – animado, sobretudo – para votar em alguém. Maquiavel, sem dúvida, compreendeu, no seu tempo, que a imagem de um político fala por ele mesmo e contribui para a construção da história.
Nesse sentido, me preocupo com a ferramenta “comunicação”, que permite ao político passar sua mensagem para a sociedade. “Comunicação não é o que você fala, mas o que o outro entende.” É necessário planejar, pensar, estudar mesmo o cenário, para fazer as coisas com intencionalidade.
É onde entra a estratégia para construção de um posicionamento. A comunicação utilizada para conectar pessoas, para resolver problemas, para traduzir fenômenos que não compreendemos muito bem. A comunicação, acima de tudo, para conduzir-nos numa direção comum.
O eleitor não pode mais ser intimidado. Esse tempo passou. As redes sociais produzem um contexto onde há pesos e contrapesos operando no teatro da opinião pública. Todos produzem sentido juntos e o carisma, para citar uma expressão cara ao pensador Max Weber, é a grande moeda de troca das relações no mundo da política. É preciso se preparar para esse cenário.
* Assessor de comunicação política, com trabalhos em seis eleições desde 2014.
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