OPINIÃO

Transformação digital no setor de saúde: uma revolução orientada por dados

Insistindo no tema do artigo anterior, cremos ser pacífico que há em curso uma mudança cultural radical em nossa sociedade, por mais um novo artefato tecnológico, fruto da inventividade humana. E, no cenário contemporâneo, onde a transformação digital redefine a essência dos negócios, o setor de saúde se encontra em uma posição singular. Os dados médicos, em todos os sentidos, serão como o combustível especial que fará os novos motores modernos da aplicação médica e da gestão dos negócios médicos funcionarem. Ajudarão os médicos e administradores a entenderem melhor a saúde dos pacientes, prever problemas e tomar decisões mais inteligentes e, para que tudo funcione bem, será necessário ter dados confiáveis, processos claros, tecnologia específica para cada negócio e a inteligência artificial aplicável para cada realidade e necessidade.

Imagine que você tem um supercomputador que é muito bom em aprender coisas e resolver problemas. Esse supercomputador poderá ser treinado para ajudar os médicos e enfermeiros a fazerem seu trabalho melhor e mais rápido. Pense em um médico amigo “robô” que poderá olhar para exames com raios-X, ou ressonâncias magnéticas, e identificar doenças com muita precisão. Ele terá aprendido a fazer isso estudando milhões de imagens de exames anteriores. Teremos Assistentes Virtuais que serão como "Siris" ou "Alexas" médicas que poderão responder perguntas dos pacientes, lembrar horários de medicamentos e até marcar consultas. Tratamentos Personalizados nos quais o supercomputador poderá analisar seu histórico médico e sugerir encaminhamentos específicos que funcionarão melhor para você, baseado em dados de milhões de outros pacientes. Poderão prever Epidemias, mediante análise de dados de várias fontes para poder identificar onde e quando uma determinada doença poderia ter se espalhado, ajudando a prevenir novos surtos.

Mas não somente isso, a Inteligência Artificial nos Negócios da Saúde também será uma realidade, impactando os modelos de negócio atuais que parecem não poder se sustentar no longo prazo, numa interação quase nunca satisfatória para usuários de seguros saúde, para as próprias seguradoras de saúde, hospitais, médicos e escolas de medicina. A inteligência artificial ajudará a tornar os hospitais, clínicas e empresas de saúde mais eficientes e produtivas, mediante a Gestão de Estoques, impedindo a falta de medicamentos ou outros suprimentos importantes porque um sistema inteligente gerenciará sempre quando e quanto comprar. No Atendimento ao Cliente, por exemplo, assistentes virtuais poderão responder perguntas de pacientes e resolver problemas simples, liberando tempo dos funcionários para tarefas mais complexas. Na Análise de Dados, com uma IA que poderá tratar grandes quantidades de dados financeiros e operacionais para encontrar maneiras de economizar e melhorar a eficiência, por exemplo, através da alocação inteligente de equipes. Ainda na Previsão de Demanda, aplicações de inteligência poderão antecipar quantos pacientes precisarão de certos serviços em um determinado período, facilitando o planejamento e alocação de recursos de forma mais eficaz.

Para aqueles que se prepararem, ferramentas digitais ajudarão os médicos a acompanhar o que está acontecendo em tempo real. Consultar um painel que mostrará todas as informações importantes, permitindo maior qualidade e tempestividade no atendimento. Se os dados mostrarem que um paciente poderá evoluir para um quadro mais grave, os médicos poderão agir antes que isso aconteça, oferecer tratamentos personalizados, tal qual um carro autônomo ajusta sua velocidade e direção para cada tipo de estrada.
Ferramentas de business intelligence (BI) e analytics possibilitarão a visualização de dados em tempo real, identificando padrões e tendências que poderão ser cruciais para a tomada de decisões. A aplicação de modelos preditivos, baseados em machine learning e inteligência artificial (IA), permitirão antever eventuais necessidades de leitos hospitalares e a eficácia de tratamentos.

A Medicina de Precisão, uma abordagem que levará em consideração a variabilidade individual nos genes, ambiente e estilo de vida de cada pessoa, erá um dos campos mais promissores beneficiados pela IA. Um trabalho de referência nesse campo é o realizado pelo National Institutes of Health (NIH) nos Estados Unidos, com a iniciativa "All of Us", projeto que visa coletar dados de um milhão de voluntários para acelerar a pesquisa em saúde e medicina de precisão, utilizando big data e IA para desenvolver tratamentos personalizados. Os impactos futuros da inteligência artificial para as pesquisas em saúde serão vastos. Espera-se que a IA facilite a descoberta de novos medicamentos, a personalização de tratamentos e a melhoria dos processos clínicos. A análise de grandes volumes de dados genômicos e clínicos permitirá a identificação de novas associações entre genes e doenças, proporcionando insights para terapias inovadoras e prevenção de doenças.

Nas experiências que temos acompanhado na cadeia de valor da saúde em Pernambuco, uma revolução silenciosa já está em curso. Nela, o aprendizado sobre a importância da disponibilidade e qualidade dos dados tem se mostrado o passo inicial de uma jornada sem volta para qualquer setor, principalmente para a saúde.

Infelizmente, boa parte dos gestores de saúde ainda se encontram “presos” a sistemas verticalizados, compartimentados em silos incomunicáveis, que reagem e impedem o embarque em uma cultura de dados. Tais sistemas deverão ser completamente repensados.

Uri Levine, em "Apaixone-se pelo Problema, Não pela Solução", enfatizava que a solução para os desafios complexos, como os encontrados no setor de saúde, reside na compreensão profunda do problema e na utilização eficaz dos dados para se desenvolver soluções inovadoras e, como bem diz Pierre Levy, em "As Tecnologias da Inteligência", a inteligência coletiva emergente da interconectividade digital transforma a maneira como resolvemos problemas e tomamos decisões, um conceito que se aplica perfeitamente à transformação digital no setor de saúde, desafio que o Estado de Pernambuco e a cidade do Recife, como Polo Médico, precisa abraçar.

 

*Psicólogo, CBPP e Mestre em Engenharia de Produção
**Doutor em Biotecnologia
***Advogado Especialista em Direito Autoral e Transformação Digital


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