OPINIÃO

Um Prêmio Nobel que o Brasil ganhou

Hoje poucos sabem que os integrantes do Batalhão Suez foram os ganhadores do Prêmio Nobel da Paz em 1988, ao lado das Forças de Paz na ONU. Acontecia o seguinte:

Além de Israel e Egito, os dois países diretamente envolvidos na guerra, grandes potências mundiais, como a Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética, tinham interesse em jogo na região. A Iminência de um conflito de grandes proporções levou a ONU a convocar a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança para tentar controlar as atividades bélicas na região. 

Um dos motivos que gerariam o conflito foi a nacionalização do Canal de Suez pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, em 1956, atitude que prejudicava os interesses Franco/Britânicos, além de restringir a navegação israelense pela passagem. O local é ponto estratégico para a economia mundial, fazendo a ligação marítima mais curta entre vários países da África, Ásia e da Europa.

Nasser assumiu uma postura totalmente contrária às pretensões de várias nações ocidentais, entre elas os Estados Unidos. Em retaliação, França e Inglaterra formaram uma espécie de coalizão com Israel e atacaram o Egito.

Por tratar-se de um momento delicado da Guerra Fria, a disputa entre a União Soviética e os Estados Unidos pela liderança política e econômica mundial, a ONU agiu prontamente para impedir maiores consequências. A primeira força de emergência das Nações Unidas ou, no original, First United Nations Emergency Force (UNEF I), foi formada em 1956. Tropas de Paz foram enviadas para a região. O Brasil foi um dos dez países convidados a participar da missão, juntamente com Índia, Canadá, Noruega, Finlândia, Colômbia, Dinamarca, Indochina, Suécia e Iugoslávia.

Juscelino então presidente, aceitou prontamente a indicação, tratando de convocar o exército para integrar as tropas internacionais. O Brasil tinha fortes interesses estratégicos na missão. As intenções de JK com relação à política externa tornaram-se claras. A participação do Brasil na Tropa de Paz era uma oportunidade de projetar o Brasil no cenário internacional, ambição que perseguia na época

Ao longo de dez anos o governo brasileiro enviou vinte contingentes de tropa para a região, num total de 6.300 militares. Cada grupo permanecia na região aproximadamente um ano e a cada seis meses metade do contingente era trocada.

Para identificar com mais facilidade, a imprensa, no decorrer do conflito, chamou os brasileiros de Batalhão Suez por conta da proximidade com o referido canal.

Os militares que faziam parte destes contingentes, destacados para atuar no deserto, foram encaminhados para ficar no interior de buracos feitos dentro da areia do deserto, apenas com a chaminé do lado de fora. Tudo isto por conta das tempestades de areia. O vento muito forte levava a areia fina, que penetrava pelo nariz, traqueia e cortava as mucosas, ocasionando hemorragias que, se não tratadas a tempo, poderia infeccionar e causar muitos outros problemas sérios, como foi o caso de vários companheiros nossos que ficaram sequelados. Voltando para o Brasil, muitos evoluíram para tuberculose.

Nosso Batalhão retirou aproximadamente 2.000 minas terrestres, usando a ponta da baioneta, em um trabalho de formiguinha, não se descartando a possibilidade de ter ficado muitas outras. De vez em quando burricos, camelos, veículos e nativos passavam pelas minas e eram destroçados. Qualquer operação que envolvesse deslocamento era extremamente perigosa!

A missão no Oriente Médio durou 10 anos e seu final foi dramático. Em 1967 eclodiu a Guerra dos 6 Dias. Israel solicitou a retirada das Tropas da ONU e invadiu o Egito no dia 5 de junho as 9 horas da manhã. Jatos Mirage de Israel cortaram o espaço aéreo egípcio lançando um ataque devastador, aniquilando boa parte das defesas inimigas.

Problemas de logística e falta de comunicação fizeram com que o Batalhão Brasileiro não fosse retirado a tempo, ficando no meio do fogo cruzado. Neste episódio morreu um cabo brasileiro, Adalberto Ilha de Macedo. Outros incidentes mataram outros militares brasileiros e muitos outros ficaram gravemente feridos. 

De volta ao Brasil, todos os cabos e soldados foram desligados sumariamente do exército, só ficando os militares de carreira. Não houve por parte do exército ou do governo brasileiro nenhuma consideração, nem mesmo assistência médica. Muitos jovens militares com problemas psíquicos, heróis de guerra, sem outra experiência profissional, foram encontrados em situação econômica bastante difícil, alguns muito doentes, outros em situação de mendicância.

Quanto à guerra atual, não existe previsão para o término, porque o motivo continua e enquanto continuar não haverá acordo. Nenhuma das duas partes pode perder esta guerra, pois quem perder pode deixar de existir. O Hamas quer destruir os judeus e o Estado de Israel. Já Israel só aceita a convivência lado a lado com um Estado Palestino, depois que destruir o Hamas e todos aqueles grupos que querem a sua destruição e a de seu povo. Então...  

Resta o conforto de termos ganho o Prêmio Nobel da Paz, em 1988, de forma coletiva, junto com os militares das Forças de Paz da ONU de outros nove países. Foi o único destes Prêmios dado a brasileiros, embora poucos saibam da sua existência. 

*18º Contingente do Batalhão Suez
Representante Norte-Nordeste

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