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Opinião

Uma vida de bastidores na Orquestra Criança Cidadã

Sem o brilho do vernáculo de Marcos Vilaça e tantos outros escritores que passaram pela minha terra, Limoeiro, além de desprovida da irretocável oratória de Dr. João Targino, magistrado de primeira ordem, tentarei fazer algumas confissões com ousadia e coragem, relembrando o que vi, vivi e convivi nos bastidores da Orquestra Criança Cidadã.

Sinto-me privilegiada e abençoada com esse presente que a vida me deu: a oportunidade de, nos últimos 18 anos, abraçar uma missão de voluntariado enriquecedora, participando de todos os consertos da transformação social, via bastidores, e aplaudindo calorosamente os concertos de grandes compositores, deslocando-me dos camarins para a plateia.

Esses consertos, no início do projeto, se fizeram necessários para burilar aquelas primeiras crianças carentes oriundas da comunidade do Coque, tornando-as cidadãos e cidadãs plenos. Isto feito, a segunda etapa podia seguir com as noções de respeito e disciplinas essenciais para se percorrer mais dois caminhos: o do aperfeiçoamento musical e o dos aplausos que receberiam em nove países de três continentes até o presente momento.

Com alegria juvenil e os olhos brilhando pela motivação de incontáveis sonhos, Dr. Targino levou o nome da comunidade do Coque e do distrito de Camela, em Ipojuca, a lugares inimagináveis (e, daqui a algum tempo, será o da localidade de Chã de Cruz, onde se situa o terceiro núcleo da Orquestra Criança Cidadã). Sempre visionário, Dr. Targino antevia esse estrondoso sucesso. Em momento algum, ele desacreditou que aqueles jovens se apresentariam nos palcos mais desejados para todo artista, em tablados suntuosos.

O então projeto de sonhos agigantou-se diante das dificuldades — mais do que as financeiras, as de descrença, pois quem tem as condições de investir pode não acreditar que você seja capaz de crescer e dar frutos. Foram dias, meses e anos de grandes emoções, onde cada acorde era acompanhado de intensos batimentos cardioafetivos.

Dentre todos os concertos a que assisti nesses 6.574 dias — uns extremamente brilhantes e significativos, outros nem tanto, mas todos com regentes de excelência e músicos de primeiríssimo naipe —, o de 18 anos do projeto, na última terça-feira, consolidou a maturidade não só etária, como também a artística e social daqueles meninos e meninas que só precisavam de uma porta para ingressarem no universo da música.

Peço perdão por não me deter na tão sonhada e falada maioridade, já que para mim eles continuam sendo os Meninos do Coque. Peço vênia a todos os jornalistas que descreveram magnificamente o que aconteceu no célebre Teatro de Santa Isabel.

Faço minhas as palavras dos profissionais de imprensa: esse concerto ficará registrado nos grandes espetáculos da primavera, não só na memória, mas no coração do povo pernambucano, como a Sinfonia da Cidadania. Dr. Targino e Dra. Myrna, recolham agora os louros que lhes pertencem: são seus!


*Advogada.

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