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OPINIÃO

Vamos deixar como está pra ver como é que fica?

Se por um acaso os gestores tiverem certeza de que vai melhorar, mexendo nos elementos e atores envolvidos, salvo situações de risco iminente como temos enfrentado, talvez seja melhor deixar como está para ver como é que fica.

A precipitação, de natureza política ou administrativa, requer prudência e extrema cautela na intenção de agir, pois qualquer gesto em falso pode colocar tudo a perder.

Em certa ocasião muito tempo atrás, ouvi de um velho e experimentado executivo de grande multinacional do ramo do comércio exterior, atuando há muitos anos no Brasil, respondendo minha inoportuna pergunta, “o que o senhor acha do Brasil?”, ao que ele respondeu, “— amigo, seu país é maravilhoso, estamos aqui há mais de sessenta anos e pretendemos ficar outros tantos se nos permitirem, o Brasil sempre foi previsível, por vezes para melhor, outras vezes para pior, mas sempre dentro do que chamamos internamente aqui na Companhia, de “padrão Brasil”.

Refletindo sobre a estória acima, não sei se o importante executivo estava elogiando, criticando discretamente, ou pior, achando bom, tirando partido do chamado “padrão Brasil”, a exemplo da situação que ora atravessamos, mergulhados em sobressaltos e situações que aludem à máxima do famoso e saudoso Barão de Itararé, “de onde menos se espera daí mesmo é que não sai”.

Por tudo isso, “mais ou menos” já é um retumbante sucesso, que não recomenda mudanças bruscas, quase sempre mal intencionadas, maculadas por inconfessáveis conveniências, frutos de ação ou reação de natureza político ideológica ou por pura oportunidade mesmo, no vai e vem de grupos de poder armados ou desarmados, não importa, pois todos se enquadram dentro do tradicional “padrão Brasil”, recomendando a todos nós, calma, muita calma, sem abrir mão da proteção da justiça e da Democracia, derradeiras ferramentas que ainda nos restam para enfrentar momentos especiais como o que ora atravessamos. 

Resgatando a primeira parte da resposta do empresário estrangeiro, ainda bem que o nosso amado Brasil é maravilhoso, apesar de desigual, corrupto, doente, inseguro, vítima de ódio, rachadinhas e rachadões, milícias e tantas outras históricas mazelas, mas também é lindo, gigante não somente de problemas, mas de inúmeras virtudes, povo alegre, carnaval, samba, frevo, imensas e chamuscadas florestas tropicais, precioso remanescente de povos originários, rico em tesouros naturais, e por incrível que pareça tem até gente boa, séria, decente, condutores de nossa esperança por dias melhores, incumbidos como nossos procuradores de melhorar o “padrão Brasil”.

Que bom seria se o “padrão Brasil” fosse um exemplo para o mundo, desarrumado como está, carente de paz e harmonia entre os povos, mitigando a desigualdade, dividindo o pão nosso de cada dia com todos, em nome da sobrevivência comum, socorrendo na origem os migrantes desesperados, evitando o desespero da morte certa, por afogamento nos oceanos, ou mesmo pelas balas no desembarque, preservando a fauna e a flora, respeitando a natureza que reage com vigor, secas, inundações, terremotos, alertando que talvez os que nos sucederem não tenham direito a um amanhã civilizado, referência global nesse utópico “padrão Brasil”, desmentindo a famosa e enfática declaração do presidente francês Charles de Gaule, “Le Brésil n'est pas un pays sérieux !”.


* Consultor empresarial
[email protected]

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