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OPINIÃO

Visão em alerta: o crescimento preocupante dos casos de conjuntivite

Olhos vermelhos, coceira, lacrimejamento, secreção… Quando estamos com sintomas do tipo, pensamos logo em conjuntivite. Apesar de ser uma condição ocular comum, essa é uma doença frequentemente subestimada. Esta inflamação da membrana transparente que cobre a parte interna das pálpebras e o globo ocular não apenas causa desconforto, mas também representa uma ameaça real à saúde dos olhos. Embora muitos casos se resolvam sem complicações, a conjuntivite pode levar a problemas mais sérios, como úlceras corneanas, cicatrizes e outras lesões.

Nos últimos meses deste ano, percebemos um grande aumento no número de casos da conjuntivite. Para se ter uma ideia, no HOPE é possível observar um crescente aumento no número de atendimentos no hospital por conta da doença. Em dezembro, 66% dos casos na urgência foram de pacientes com conjuntivite; em novembro, 64%; em outubro, 55%; em setembro, 51% e em agosto, 47%.

A conjuntivite é a inflamação da conjuntiva, a membrana transparente que reveste o globo ocular. Ela pode ter causa infecciosa (bactérias ou vírus, como o vírus do resfriado ou da gripe), causa alérgica (não contagiosa) ou até mesmo causa química, por algum agente ou produto que tenha contato com os olhos. Atualmente, é esse primeiro tipo que vem sendo responsável pelo surto de casos. 

Em alguns casos, se cria uma pseudo-membrana na conjuntiva que dificulta muito o tratamento. Alguns pacientes precisam ir quase que diariamente ao hospital para remover essa pseudo-membrana enquanto a conjuntivite ainda está ativa. Nos quadros mais graves, a doença pode demorar até quase um mês para ser curada. 

A conjuntiva pode ficar vermelha e inchada. Pode haver sensação de areia, lacrimejamento ou secreção, e as pálpebras chegam a ficar inchadas e grudadas, especialmente pela manhã. A visão pode dar a sensação de embaçamento devido ao excesso de lágrimas, secreção ou inflamação da córnea (ceratite). O paciente também pode ter sintomas semelhantes aos da gripe, como dor de garganta, febre, dor muscular e mal-estar geral, se associado a quadro gripal.

O aumento da doença pode ser explicado por alguns fatores: como a chegada do calor e da umidade nesta época do ano (já que o vírus circula com mais facilidade no ar) e o maior número de pessoas aglomeradas nos mesmos locais (como em confraternizações). Outro fator que agrava o quadro é o relaxamento das medidas de higiene que costumávamos ter na época mais crítica da pandemia da Covid-19, como o uso de máscaras e a lavagem frequente das mãos.

Segundo o Ministério da Saúde, o tratamento da conjuntivite é determinado pelo agente causador da doença. Para a conjuntivite viral não existem medicamentos específicos. Já o tratamento da conjuntivite bacteriana inclui a indicação de colírios antibióticos, que devem ser prescritos por um médico, pois alguns colírios são altamente contraindicados, porque podem provocar sérias complicações e agravar o quadro.

Cuidados especiais com a higiene ajudam a controlar o contágio e a evolução da doença, como evitar compartilhar pratos e talheres com quem está infectado, e até tomar cuidado ao falar perto de pessoas com a doença, já que a conjuntivite também se transmite pela saliva. Qualquer que seja o caso, porém, lavar os olhos e fazer compressas com água gelada, que deve ser filtrada e fervida, ou com soro fisiológico comprado em farmácias ou distribuído nos postos de saúde ajudam. 

Mas é fundamental, na maioria dos casos, procurar ajuda médica. Fazendo isso, você estará não apenas se protegendo, mas também cuidando dos seus e evitando o risco de complicações graves. 

*Oftalmologista e coordenadora do setor de urgência do HOPE ([email protected])

- Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria para possível publicação. 


 

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