Oposição convoca protestos pela terceira noite seguida em Istambul
Manifestações começaram na quarta-feira após detenção do principal rival de Erdogan, considerada um golpe político por seu partido; ao menos 88 pessoas foram presas até o momento
O presidente Recep Tayyip Erdogan disse nesta sexta-feira que o governo da Turquia não se intimidaria com o "terror das ruas", enquanto manifestantes se preparam para o terceiro dia de protestos após a prisão do poderoso prefeito de Istambul e principal rival do líder turco, Ekrem Imamoglu, detido sob acusações de corrupção e terrorismo, que a oposição denuncia como golpe político.
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— A Turquia não se renderá ao terror das ruas — declarou Erdogan, depois que o presidente do Partido Republicano do Povo (CHP, de viés social-democrata), Özgur Özel, pediu aos turcos que fossem às ruas na noite desta sexta-feira para protestar contra a prisão de Imamoglu. — Deixe-me dizer em alto e bom som: os protestos de rua que o líder do CHP convocou são um beco sem saída.
O popular e carismático prefeito de Istambul, membro do CHP, foi detido na quarta-feira em uma operação que também prendeu quase 100 de seus aliados, parlamentares e membros do partido. Imamoglu é acusado de "corrupção" e "apoio a uma organização terrorista", segundo o ministro da Justiça, Yilmaz Tunç.
O prefeito de 53 anos, que seria anunciado no domingo como candidato de seu partido para as próximas eleições presidenciais de 2028, foi levado para uma delegacia de polícia, segundo sua comitiva.
A medida provocou dois dias de protestos que começaram em Istambul e rapidamente se espalharam por pelo menos 32 das 81 províncias da Turquia, de acordo com uma contagem da AFP. Apesar do governador de Istambul ter proibido comícios e manifestações até domingo, milhares de pessoas foram às ruas nas últimas duas noites.
O líder do CHP, Ozgur Ozel, convocou um terceiro protesto noturno do lado de fora da Prefeitura de Istambul, às 20h30 (14h30 em Brasília), pedindo aos manifestantes que saiam às ruas em toda a Turquia ao mesmo tempo, apesar de o ministro da Justiça ter alertado que tais convocações eram “ilegais e inaceitáveis”.
Na sexta-feira, o governador de Istambul fechou a Ponte Galata e a Ponte Ataturk, que cruzam o estuário do Chifre de Ouro e são as principais rotas de acesso à península histórica onde está localizada a Prefeitura.
Ele também estendeu a proibição de protestos para a capital Ancara e para a cidade costeira de Izmir, no oeste do país.
Apesar disso, milhares de pessoas se reuniram em frente à prefeitura de Istambul nas duas últimas noites. Inicialmente, a polícia demonstrou moderação, mas na quinta-feira usou gás lacrimogêneo e balas de borracha para impedir que os manifestantes entrassem na icônica Praça Taskim. Também houve manifestações em Ancara, a capital, e Izmir, a terceira maior cidade do país.
Até o momento, pelo menos 88 manifestantes foram presos, segundo a mídia turca, e o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, disse que 16 policiais ficaram feridos. A polícia também deteve outras 54 pessoas por postagens online consideradas como “incitação ao ódio”, disse ele.
"Drama da oposição"
Na quinta-feira à noite, Erdogan minimizou os distúrbios — os piores protestos de rua da Turquia em anos — considerando-os apenas “dramas da oposição”. Mas ele aumentou a aposta com seu discurso na sexta-feira, acusando o líder da oposição de “grave irresponsabilidade”
Ozel havia prometido na quinta-feira que os protestos continuariam.
— De agora em diante, ninguém deve esperar que o CHP faça política em salões ou prédios, estaremos nas ruas e nas praças — disse ele à multidão na prefeitura.
O partido DEM, de oposição pró-curda, também disse que participaria da manifestação desta sexta-feira em Istambul.
As autoridades disseram que Imamoglu e seis outros estavam sendo investigados por “ajudar uma organização terrorista”, ou seja, o grupo militante curdo PKK, que foi banido. Ele também está sendo investigado em um processo de corrupção que envolve cerca de 100 outros suspeitos.
Os investigadores começaram a interrogar Imamoglu na tarde desta sexta-feira, informou a mídia local, dizendo que todos os suspeitos deveriam comparecer ao tribunal na manhã de domingo.
Primárias
Apesar da detenção de Imamoglu, o CHP prometeu que prosseguiria com suas primárias no domingo, nas quais o nomearia formalmente como seu candidato para a disputa de 2028. O partido disse que abriria o processo para qualquer pessoa que quisesse votar, não apenas para os membros da sigla, afirmando: “Compareçam às urnas e digam 'não' à tentativa de golpe!”
Observadores disseram que o governo poderia tentar bloquear as primárias para evitar uma nova demonstração de apoio a Imamgolu.
— Se um grande número de pessoas comparecer e votar em Imamoglu, isso o legitimará ainda mais internamente — disse à AFP Gonul Tol, chefe do programa de estudos turcos do Middle East Institute, com sede em Washington. — Isso pode realmente levar as coisas em uma direção que Erdogan não quer.
As restrições às mídias sociais e ao acesso à internet que estavam em vigor desde a prisão de Imamoglu foram suspensas na manhã desta sexta-feira, disse o monitor de acesso à internet EngelliWeb.
A medida contra Imamoglu foi um duro golpe para a lira turca e, na sexta-feira, a bolsa de valores BIST 100 estava sendo negociada em baixa, caindo 6,63% pouco depois das 15h (9h em Brasília).