Oposição da Venezuela protesta contra reeleição de Maduro, que se blinda
O Ministério Público abriu uma investigação criminal contra Machado e González, enquanto Maduro pede a prisão de ambos
Centenas de opositores venezuelanos protestam nesta quarta-feira (28), um mês após a questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro, que blindou seu gabinete com um homem forte à frente da ordem pública.
Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos nas presidenciais de 28 de julho, que a oposição liderada por María Corina Machado denuncia como fraudulentas e afirma ter provas de que seu candidato Edmundo González Urrutia venceu.
"Liberdade, liberdade! Maduro rouba votos e tampouco venceu!": eram algumas das palavras de ordem dos manifestantes que ao meio-dia entoaram o hino venezuelano à espera de Machado, que apesar de estar na clandestinidade, participou de protestos anteriores.
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"Não somos oposição, somos governo", dizia o cartaz exibido por María José de Castro, de 61 anos. "A opção do chavismo é lutar até morrer, a nossa é lutar até vencer. A Venezuela não tem mais tempo a perder, não temos seis anos para dar para essa gente", declarou à AFP.
O Ministério Público abriu uma investigação criminal contra Machado e González, enquanto Maduro pede a prisão de ambos. Ele os culpa pelos atos de violência nos protestos pós-eleitorais, que deixaram 27 mortos – dois deles militares –, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos.
Leidy Molina, uma nutricionista de 60 anos, afirmou ter medo de ser presa. "Mas temos que seguir na luta e ver se respeitam a Constituição e nosso voto (...) Marcho para recuperar nossa democracia. Não queremos viver em uma ditadura."
O chavismo também convocou uma mobilização na quarta-feira para "celebrar" a vitória de Maduro, não reconhecida por Estados Unidos, União Europeia e vários países da região.
O dia de protesto também ocorre um dia após Maduro nomear Diosdado Cabello, considerado o número dois do chavismo e linha dura, para chefiar o Ministério do Interior, responsável pela polícia e pela ordem pública.
Nova convocação?
"Sei que estes últimos 30 dias foram duros", escreveu González Urrutia nas redes sociais, "mas também foram uma prova de nossa unidade e determinação. A cada dia que passa, nossa voz se faz mais forte e nossa luta, mais firme."
O diplomata de 74 anos ignorou na terça-feira, pelo segundo dia consecutivo, uma intimação do Ministério Público, que o investiga pela suposta prática de "usurpação de funções" e "falsificação de documento público".
Esses crimes podem, teoricamente, acarretar uma pena máxima de 30 anos de prisão.
Ele também é investigado, junto com Machado, pelo site onde a oposição publicou cópias de mais de 80% das atas, que afirmam ser prova de que González venceu com mais de 60% dos votos.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro com 52% dos votos, sem publicar a votação detalhada mesa por mesa, conforme exigido por lei. Argumentou que foi alvo de hacking, o que especialistas e opositores descartam.
De qualquer forma, o Tribunal Superior validou o resultado. Ambas as organizações são acusadas de servir ao chavismo.
Na manifestação da oposição, muitos levaram impressas cópias das atas de seus centros. "Ata mata sentença!", gritavam.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) realiza uma reunião extraordinária nesta quarta-feira na qual a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) abordará a situação da Venezuela.
Prisão de advogado
Na terça-feira, Perkins Rocha, assessor jurídico de Machado, foi preso e levado à "força" por indivíduos "não identificados", segundo a oposição.
"Não sabemos onde está nem como está. Tememos que algo possa acontecer com ele", declarou seu filho Santiago Rocha ao canal NTN24.
A prisão se soma a uma lista de mais de 100 ativistas da oposição detidos após colaborarem com Machado e González Urrutia durante o ciclo eleitoral.
Seis colaboradores de confiança da oposição, incluindo sua chefe de campanha, Magalli Meda, estão refugiados na embaixada argentina, atualmente administrada pelo Brasil.