Oposição se mobiliza na Venezuela após protestos deixarem 12 mortos
Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos pediram nesta terça-feira a apresentação das atas de votação
Aos gritos de "Liberdade!", milhares de opositores saíram às ruas da Venezuela nesta terça-feira (30) para reivindicar a vitória de Edmundo González Urrutia nas eleições presidenciais, após protestos que resultaram em 12 mortos e centenas de presos.
Apoiadores de González Urrutia e da líder opositora María Corina Machado se concentraram em Caracas e em outras cidades venezuelanas para contestar o resultado do pleito de domingo, que, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), alinhado ao governo, concede um terceiro mandato ao chavista Maduro.
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"Devemos permanecer nas ruas, não podemos permitir que nos roubem os votos tão descaradamente. Isso precisa mudar", disse a administradora Carley Patiño, de 47 anos, à AFP.
Liderada por María Corina Machado, a oposição afirma ter provas da sua vitória, enquanto a comunidade internacional pressiona por uma recontagem transparente dos votos.
Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos pediram nesta terça-feira a apresentação das atas de votação, ressaltando que as eleições na Venezuela representam “um momento crítico para a democracia no hemisfério”.
María Corina afirma possuir cópias de 84% das atas, que provariam a fraude, e as publicou em um site.
- Pedido de calma -
Durante a concentração em Caracas, González Urrutia pediu calma à Força Armada, após a morte de 11 civis em protestos, nos quais dezenas de pessoas ficaram feridas.
"Senhores da Força Armada: não há razão alguma para reprimir o povo da Venezuela, não há motivo para tanta perseguição", disse o rival de Maduro nas eleições.
O presidente responsabilizou González Urrutia e Machado pela violência nas manifestações e garantiu que "a justiça vai chegar".
"Responsabilizo o senhor, González Urrutia, por tudo o que está acontecendo na Venezuela, pela violência criminosa, pelos delinquentes, pelos feridos, pelos mortos, pela destruição", disse hoje Maduro, no palácio presidencial de Miraflores.
"A justiça será feita contra diabos e demônios. Haverá justiça. Saia da sua guarida, senhor covarde!", gritou o presidente mais tarde referindo-se a Urrutia e María Corina, diante de centenas de apoiadores que se concentraram em frente ao palácio.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, e o responsável pela diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediram respeito à manifestação pacífica dos opositores.
- 'Número alarmante' -
A ONG de defesa dos direitos humanos Foro Penal relatou que pelo menos 11 civis morreram nos protestos, incluindo dois menores de idade.
"Preocupa-nos o uso de armas de fogo nestas manifestações. O fato de terem ocorrido 11 mortes em um único dia é um número alarmante", considerou Alfredo Romero, diretor da Foro Penal.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, também relatou a morte de um militar e anunciou que 749 pessoas foram detidas.
A ONG Encuesta Nacional de Hospitales informou que 84 civis ficaram feridos nos protestos, enquanto o Ministério da Defesa mencionou que 23 militares sofreram ferimentos. O líder opositor Freddy Superlano foi preso hoje, no que a oposição chamou de "escalada repressiva".
A Força Armada, principal apoio do governo, expressou "lealdade absoluta e apoio incondicional" a Maduro, declarou o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, que respaldou a tese de golpe contra o presidente.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, pediu que aqueles que questionam e denunciam uma fraude eleitoral "não metam o nariz" nos assuntos internos da Venezuela.
O governo venezuelano expulsou o pessoal diplomático de Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai, em resposta ao que considera "ações intervencionistas" desses países.
Seis colaboradores de María Corina estão refugiados há seis semanas na embaixada argentina. A líder de oposição denunciou um cerco policial à sede diplomática. A Argentina afirmou que se trata de "assédio" contra sua sede diplomática.