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Guerra na Ucrânia

Órfãos encontram refúgio no extremo oeste da Ucrânia

Escola virou ponto de acolhimento para 93 crianças retiradas de trem na semana passada da capital ucraniana

Crianças ucranianas brincam em orfanato próximo à fronteira com a HungriaCrianças ucranianas brincam em orfanato próximo à fronteira com a Hungria - Foto: Attila Kisbenedek/AFP

Uma escola vazia e isolada no tranquilo e extremo oeste da Ucrânia virou um refúgio seguro para 93 crianças órfãs retiradas de trem na semana passada de Kiev.

"Nos sentimos seguros aqui, é tranquilo", declarou Mykola Topolov, de 17 anos, integrante do grupo que chegou ao orfanato improvisado na localidade de Perekhrestya, a 800 quilômetros da capital.

As crianças moravam na área da linha de frente na região de Donetsk, mas estavam no acampamento infantil de Artek, perto de Kiev, quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.

"As crianças estavam dando uma pausa da tensão em Donetsk quando a guerra começou", disse Galyna Ivazenko, 57 anos, diretora do acampamento que acompanhou as crianças. 

"Nós havíamos acabado de chegar quando ouvimos duas explosões de bombas e soubemos que os russos haviam atacado", disse Mykola, que é do norte da região de Donetsk.

"Foi assustador. Alguns dias depois, quando fomos colocados em um trem, ele ficou parado na estação de Kiev por oito horas", recorda o menor de idade.

O trem finalmente cruzou a cordilheira dos Cárpatos até a região da Transcarpátia, antes de chegar a Perekhrestya, perto da fronteira com a Hungria, na sexta-feira passada.

Ilha de paz
Isolada do resto do país pelas montanas, a Transcarpátia tem fronteiras com Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia, países membros da União Europeia (UE) e da Otan, uma das poucas regiões ucranianas que não foi atacada pela Rússia.

"É uma ilha de paz, um lugar seguro, por isto as autoridades decidiram trazer as crianças para cá", declarou à AFP Mykhailo Glynka, diretor do complexo.

O local, que já foi um internato para crianças doentes, ficou um ano fechado antes de o governo regional ordenar a reabertura, afirmou Glynka.

Crianças ucranianas em orfanato próximo à fronteira com a HungriaCrianças ucranianas dormem em orfanato próximo à fronteira com a Hungria (Foto: Attila Kisbenedek/AFP)

Autoridades municipais, organizações de ajuda e moradores ajudaram a preparar o edifício para os novos hóspedes e entregar suprimentos, incluindo brinquedos para as crianças.

Enquanto as crianças tentam se divertir, os voluntários preparavam sola e salada.

Mykhailo, que disse que seus pais biológicos o abandonaram no nascimento, contou à AFP que depois da guerra pretende retomar um curso de programação que começou em Kramatorsk, perto de Donetsk.

"Depois que a Ucrânia vencer a guerra, quero voltar para casa e ajudar a reconstruir o país", disse.

Ivazenko, com medo por seus pais em Mykolaiv, onde aconteceram combates violentos, espera o fim da guerra para retornar para casa.

"Eu perdi contato com eles, não sei onde estão ou como estão", declarou, tentando conter as lágrimas.

Ajuda dos países vizinhos
"Fazemos o possível para ajudar", afirmou Jozsef Sipos, pastor de uma igreja protestante em Perekhrestya, que tem 800 habitantes, em sua maioria de origem húngara.

Mais de 180 mil refugiados atravessaram a fronteira com a Hungria desde 24 de fevereiro, 10% do total que fugiram da Ucrânia.

"Quando a guerra começou, nós corremos para a fronteira para entregar alimentos e bebida", lembra Sipos, de 47 anos, que dirige uma fundação de ajuda à infância chamada "Kegyes" ("Piedoso" em húngaro).

"Soube dos órfãos que estavam chegando e comecei a organizar e entregar ajuda para eles também”, disse à AFP, depois de retirar de um veículo remédios, alimentos, roupas e materiais de higiene enviados da Hungria.

"É o mínimo que podemos fazer por eles", completou.

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