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RIO DE JANEIRO

Veja quem são os envolvidos no caso do laboratório investigado por transplantes de órgãos com HIV

Sócios de laboratório suspeitos de emitirem laudos estão presos

Teste HIVTeste HIV - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou, nesta segunda-feira, uma operação para investigar o laboratório PCS Lab Salame, com sede em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, após a confirmação de que seis pacientes foram infectados pelo HIV após transplantes de órgãos.

O laboratório é apontado como responsável pela emissão de laudos fraudulentos que permitiram a utilização de órgãos contaminados.

Entre os principais investigados estão Walter Vieira, sócio do laboratório, e Ivanildo Fernandes dos Santos, ambos presos sob a suspeita de envolvimento na fraude.

A operação batizada de Verum resultou no pedido de prisão de dois funcionários do laboratório, Jacqueline Iris Barcellar de Assis e Cleber de Oliveira Santos, ambos investigados por sua participação em um esquema de fraude. Atualmente, eles são considerados foragidos da justiça.

Os investigados respondem a várias acusações, incluindo falsidade ideológica, falsificação de documentos, infrações sanitárias, crimes contra as relações de consumo e associação criminosa.

O processo também menciona outros sócios-administrativos sob investigação, como Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, filho de Walter e as irmãs do empresário, Márcia Nunes Vieira e Eliane Nunes Vieira.

Matheus e Márcia prestaram depoimento na manhã desta segunda-feira.

Relação de parentesco
Walter Vieira, ginecologista de 61 anos, é um dos principais alvos da operação. Além de ser sócio do PCS Lab Salame, ele mantinha o laboratório como um negócio familiar. Tinha como sócio-administrativo do laboratório suas irmãs Márcia Nunes Vieira e Eliane Nunes Vieira, que também são citadas no processo de investigação.

O médico era concursado em Nova Iguaçu e, segundo nota da Secretaria Municipal de Saúde da cidade, exercia o cargo de presidente do comitê de forma não remunerada. Ele foi afastado da função após a repercussão do caso.

Matheus assina contratos com a Fundação Saúde em nome da empresa. Ele é primo de Doutor Luizinho, que era secretário durante o processo de contratação.

No LinkedIn, Márcia, de 58 anos, se apresenta como "bióloga na Patologia Clínica Dr. Saleme".

A empresária também prestou serviço na Secretaria Municipal de Educação de Mesquita. Em março de 2020, ela foi dispensada da função de Agente de Pessoal no Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Professora Rosa Soares, no mesmo município.

Já Eliane Nunes, de 64 anos, é médica especializada nas áreas de patologia clínica e pediatria.

ssim como a irmã, Eliane também já ocupou um cargo público, prestando serviços na área de clínica médica pela Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de Itaguaí. Em nota, o município afirmou que a médica "não pertence ao quadro funciona da prefeitura na atual gestão".

Walter é casado com a tia do deputado federal e ex-secretário de Saúde do Rio Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, o Doutor Luizinho (PP), que de Brasília mantém uma teia de influência na pasta que já comandou.

O parlamentar foi secretário de saúde entre janeiro e setembro de 2023. O dono do Lab Saleme é pai de Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, também sócio, que assinou contratos com o governo do Estado do Rio.

Vieira, apesar de não estar entre os presos, foi conduzido pela polícia e prestou depoimento. O empresário é apontado pelo investigação como sócio-diretor da empresa.

Mudança na sociedade
A Patologia Clínica Doutor Saleme LTDA é uma empresa de pequeno porte fundada em setembro de 2005 por Walter Vieira e suas irmãs, Eliane e Márcia Nunes. O capital social inicial da empresa foi de R$ 21 mil, dividido em três cotas de R$ 7 mil para cada sócio.

Com sede em Nova Iguaçu, o laboratório também possuía uma filial em Belford Roxo, contando com cerca de 20 funcionários em cada unidade.

Em agosto de 2021, Eliane transferiu sua participação na empresa para seu sobrinho Matheus Sales.

Nesse mesmo período, os sócios decidiram alterar o objeto social da empresa, expandindo suas atividades para incluir serviços de laboratório clínico, anatomia patológica e citológica, vacinação e imunização humana, diagnósticos por imagem sem uso de radiação ionizante, além de diagnósticos gráficos por registro gráfico e outros exames analógicos. A empresa tinha 11 contratos para prestação de serviços em unidades de saúde estaduais.

Mandados de prisão
Ivanildo Fernandes dos Santos, de 61 anos, foi o segundo preso da operação, suspeito de envolvimento na emissão de laudos fraudulentos. Segundo as investigações, seria um dos responsáveis técnicos pelos laudos.

Ele, que foi detido usando uma roupa de enfermagem, já prestou depoimento na Delegacia do Consumidor (Decon), responsável por conduzir a investigação.

O responsável técnico do laboratório, até o ano passado, tinha um cargo de técnico em patologia clínica na Secretaria Estadual de Saúde. Fernandes também foi dirigente do serviço público na Fundação Saúde, além de ter atuado como técnico em, pelo menos, oito unidades de saúde particulares.

Cleber de Oliveira Santos é outro alvo de mandado de prisão na investigação sobre o laboratório. Ele atuava no protocolo dos exames em parceria com Ivanildo Fernandes dos Santos. Em 17 de novembro de 2015, o então secretário de Estado de Saúde, Felipe Peixoto, nomeou Santos como técnico de laboratório, com a responsabilidade de fiscalizar os serviços prestados nas unidades de saúde, dentro do âmbito da Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Tanto Cleber quanto Jacqueline Iris Barcellar de Assis, cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV e que também está foragida, são considerados peças-chave no esquema de fraude, segundo a polícia. Ambos têm mandados de prisão abertos por supostas atuações irregulares no protocolo dos exames laboratoriais.

Em entrevista ao O Globo, no domingo, Jacqueline negou qualquer envolvimento no esquema. Ela afirmou que seu nome foi utilizado sem seu conhecimento e que havia sido contratada recentemente como supervisora administrativa, alegando que a coleta de assinaturas eletrônicas era um procedimento padrão na empresa.

Vale destacar que a funcionária do laboratório já havia enfrentado problemas legais anteriormente. Em 2014, ela recorreu de uma demissão por justa causa da Fundação Saúde, argumentando que a decisão era injusta, uma vez que estava grávida e, portanto, em período de estabilidade.

Esse caso também incluiu um pedido de indenização por danos morais devido à dispensa. Jacqueline ingressou na instituição por meio de concurso público para atuar como técnica de laboratório.

O que dizem os citados
O deputado Dr. Luizinho, familiar de um dos investigados, por nota, classificou o caso como "gravíssimo" e exigiu uma investigação rápida e punição exemplar para os responsáveis.

"É inadmissível que um ser humano faça um transplante e, por erros que nunca poderiam ocorrer, adquira uma nova doença. Espero que o caso seja investigado de forma rápida e os culpados sejam punidos exemplarmente. Como médico há 27 anos, secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro por duas vezes, com uma vida pública e privada dedicada de forma praticamente integral a melhorar e fortalecer nosso sistema de Saúde, desejo punição rigorosa aos responsáveis por este caso sem precedentes".

Os outros citados no caso, até o momento, não se manifestaram.

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