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Órgãos infectados: técnica investigada assinou exames de ao menos cinco pacientes

Jacqueline Iris Barcellar de Assis não é biomédica e assinaturas constam com número de registro de outra profissional

A Polícia Civil investiga laboratório PCS LabsA Polícia Civil investiga laboratório PCS Labs - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Investigada no inquérito sobre o laboratório PCS Lab Saleme, a técnica em laboratório Jacqueline Iris Barcellar de Assis, de 36 anos, — cuja assinatura aparece em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV — assina ao menos cinco laudos no Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC).

A unidade, que funciona na Zona Norte da capital, é considerada uma das principais emergências do estado do Rio de Janeiro, e administrada pela Fundação Saúde. Os exames, os quais O Globo teve acesso, mostram a assinatura de Jacqueline e um número de registro no Conselho Regional de Biomedicina (CRBM) que, na verdade, pertence a outra profissional.

Alvo de um dos quatro mandados de prisão preventiva da Operação Verum, deflagrada pela Polícia Civil na última segunda-feira, a Jacqueline se apresentou no início da tarde de terça-feira. Outros dois investigados também estão presos: Walter Vieira, apontado pela Polícia Civil do Rio como sócio do laboratório, e Ivanilson Fernandes dos Santos. Já Cleber de Oliveira Santos segue sendo procurado pela polícia.

Os laudos são de exames laboratoriais, entre eles, hemograma, de glicose, de urina, de potássio, de sódio e de creatina. As coletas datam de fevereiro a junho desde ano. Ao final de cada exame consta "Conferido e liberado por Jacqueline Iris Barcellar de Assis", seguido da data e do horário da aferição.

Em um dos documentos do Governo do Estado do Rio de Janeiro sobre a contratação de empresas para a realização de exames de patologia clínica e de anatomia patológica, de 2022, consta que para o Hospital Estadual Carlos Chagas, a previsão era de realizar 267.221 em um ano, numa média mensal de 24.293.

De acordo com dados de produção ambulatorial efetuada no estado do Rio de Janeiro de janeiro a agosto deste ano, apenas no HECC foram feitos 27.477 exames de hemograma e 35.087 de glicose.

Investigada em caso de infecção de órgãos
Jacqueline se tornou um dos alvos da investigação sobre o laboratório PCS Lab Saleme após a confirmação de uma assinatura dela em um dos laudos que atestaram que os doadores de órgãos não tinham HIV. Ela possui formação técnica em laboratório, e não em Biomedicina, assim, a compete "auxiliar nas rotinas laboratoriais, sempre sob a supervisão de um profissional de nível superior habilitado", destaca o Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio de Janeiro (CRF-RJ), não sendo permitida a assinatura de laudos.

Em entrevista ao Globo, no último domingo, Jacqueline reconheceu que as rubricas nos documentos são suas, mas negou qualquer envolvimento no caso. Ela disse que sequer é biomédica. O número de registro no Conselho Regional de Biomedicina (CRBM) que consta no documento como sendo dela é de outra pessoa, que mora fora do Rio e não exerce mais a profissão, como mostrou a TV Globo.

Já o laboratório PCS Lab Saleme afirma que Jacqueline se apresentou como biomédica, e, em uma troca de mensagens datada de agosto, a funcionária apresenta um certificado de que seria biomédica. Entretanto, os laudos com a assinatura dela são de maio.

O laboratório PCS Lab Saleme disse em nota que a funcionária "induziu o laboratório a crer que ela tinha competência para assinar laudos" ao apresentar "documentação inidônea (um diploma de biomédica não reconhecido pela universidade Unopar Anhanguera e uma carteira profissional com habilitação em patologia que utiliza o registro de outra pessoa)".

O CRF-RJ destaca que um profissional de nível técnico, como técnico em laboratório, pode auxiliar nas rotinas laboratoriais, desde que sob a supervisão de um profissional de nível superior habilitado, este podendo ser farmacêutico, médico, biomédico ou biólogo, uma vez que estejam devidamente registrados em seus conselhos profissionais. Assim, destaca o órgão, "a assinatura de laudos deve ser realizada exclusivamente por profissionais de nível superior".

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