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Os desafios de Daniel Noboa para enfrentar a violência do narcotráfico no Equador

O presidente eleito, de 35 anos, pretende frear o terror vivido pelo país que se tornou centro de operações para cartéis de drogas do México e da Colômbia

Daniel Noboa, presidente eleito do EquadorDaniel Noboa, presidente eleito do Equador - Foto: Marcos Pin/AFP

O presidente eleito do Equador terá um desafio colossal. Empresário bem-sucedido e com pouca experiência política, Daniel Noboa pretende tirar o país do tormento da violência causada pelo narcotráfico e devolvê-lo à calmaria de anos atrás.

Propostas como a implementação de um sistema judicial para tratar de crimes graves, militarizar as fronteiras com a Colômbia e o Peru - os maiores produtores mundiais de cocaína - e criar embarcações prisionais para os detentos mais violentos lhe deram o voto de 52% dos eleitores equatorianos com um objetivo unânime: mais segurança para o país em meio a uma guerra entre cartéis.

A questão é se Noboa conseguirá frear o terror vivido no Equador, que nos últimos anos se tornou um centro de operações para cartéis de drogas do México e da Colômbia. Associados a gangues locais, estes grupos também introduziram métodos criminosos sangrentos: corpos desmembrados, queimados ou pendurados em pontes.

Entre 2018 e 2022, os homicídios quadruplicaram e atingiram a taxa de 26 por 100.000 habitantes. Além disso, os sequestros, extorsões e tiroteios também aumentaram.

Estes são os desafios que o novo presidente de 35 anos, filho de um dos homens mais ricos do país e com apenas dois anos de experiência política no Congresso, deverá enfrentar.

1. Controlar os presídios
Um dos principais sintomas da violência foram os massacres simultâneos em quatro prisões em fevereiro de 2021, executados por facções rivais. Desde então, ao menos 460 detentos morreram nos confrontos.

Imagens de corpos desmembrados e queimados, compartilhados nas redes sociais, mostram o descontrole dentro dos presídios, que se transformaram em centros de operações do tráfico de drogas.

Neste contexto, a proposta de isolar os prisioneiros em navios-prisão, sob a vigilância de agentes de segurança "altamente incorruptíveis", corre o risco de fracassar, diz à AFP Renato Rivera, coordenador do Observatório Equatoriano do Crime Organizado.

Para ele, as instituições de segurança não confiam umas nas outras, logo, os funcionários podem ser cooptados pelo crime organizado e "as soluções vão se tornar um problema adicional", acrescenta.

Além disso, surgem dúvidas a respeito dos direitos humanos dos reclusos e o elevado orçamento que esta mudança exigiria. "Isso é algo que eu acho que levará muito tempo" para ser implementado, afirma.

2. Varredura nas forças de segurança
Segundo especialista, os traficantes de drogas se fortalecem com a participação de agentes da força pública.

"É essencial uma depuração muito agressiva, rápida e eficaz das forças de segurança que estão evidentemente infiltradas pelo crime organizado", afirma David Chávez, analista político da Universidade Central.

Mas a população ainda confia nas Forças Armadas, afirma Rivera.

O governo de Guillermo Lasso aproveitou o apoio dos equatorianos para ordenar numerosos estados de exceção que lhe permitem enviar soldados para as ruas e presídios.

Entretanto, a militarização "sem objetivos claros" tem "impactos marginais" na luta contra a insegurança, analisa o coordenador.

3. Reforçar a Inteligência
Considerado um aparato de espionagem contra opositores durante o mandato do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), o serviço de Inteligência no Equador foi reestruturado por governos de direita posteriores.

Rivera sinaliza que este sistema de Inteligência, no entanto, está "totalmente enfraquecido", não prevenindo ou gerando alertas para combater o crime e reduzir as mortes.

Para ele, a taxa de homicídios é o principal termômetro para medir a atuação do novo presidente. Se conseguir "reduzir a taxa de homicídios em pelo menos dois ou três pontos ou frear essa tendência de alta, poderá ter resultados bem-sucedidos em 17 meses" de governo, analisa.

Noboa governará o Equador até maio de 2025, até o fim do mandato de Lasso, que dissolveu o Congresso para evitar o impeachment em um julgamento por corrupção, levando a eleições antecipadas.

Os esforços do novo governo para conter os assassinatos deveriam concentrar-se nas áreas mais afetadas pelo tráfico de drogas, como a cidade portuária de Guayaquil (sudoeste) e a fronteira com o Peru, sugere Rivera.

Especialistas estimam que o Equador poderá fechar o ano de 2023 com um recorde de 40 homicídios por 100 mil habitantes, mais que o México ou sua vizinha, Colômbia, "que têm um histórico criminal muito maior e mais longo", afirma o analista.

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