'Paciente zero' de Covid-19 veio de mercado de Wuhan e vendia frutos do mar, diz estudo
O estudo reacendeu o debate sobre a origem do coronavírus, que permanece inconclusiva
O primeiro caso conhecido de Covid-19 no mundo foi de uma vendedora que trabalhava em um mercado de frutos do mar da cidade chinesa de Wuhan e sentiu os primeiros sintomas em 11 de dezembro de 2019, e não um contador que vivia a quilômetros de distância e parecia ter alguma relação com o local, de acordo com um estudo publicado na revista Science nessa quinta-feira (18).
O estudo reacendeu o debate sobre a origem do coronavírus, que permanece inconclusiva. A busca pelo marco zero da pandemia contribuiu para especulações, inicialmente levantadas pelo governo de Donald Trump, de que o vírus poderia ter vazado por acidente durante experiência com vírus originários de morcegos no Laboratório de Virologia de Wuhan. A especulação elevou as tensões entre Estados Unidos e China.
Um estudo conjunto da China e da Organização Mundial de Saúde (OMS) neste ano descartou a teoria de que o Sars-Cov-2 vazou do laboratório. A pesquisa apontava que a hipótese mais provável era a infecção natural de humanos, provavelmente por meio do comércio de animais selvagens, que também eram vendidos no mercado de Huanan, em Wuhan.
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Uma equipe de especialistas liderada pela OMS passou quatro semanas em Wuhan e seus arredores com cientistas chineses e disse em um relatório conjunto em março que o vírus provavelmente foi transmitido de morcegos para humanos por meio de um animal intermediário, mas indicou que mais pesquisas eram necessárias. O estudo apontava o contador, que vivia a quilômetros do mercado, como o provável primeiro caso registrado.
Agora, o cientista Michael Worobey, chefe de ecologia e biologia evolutiva da Universidade do Arizona e um dos principais especialistas em rastrear a evolução de diferentes vírus, encontrou discrepâncias na linha do tempo ao investigar informações já tornadas públicas em periódicos médicos e meios de comunicação.
Ele argumenta que os laços da vendedora com o mercado e uma nova análise das primeiras conexões dos pacientes hospitalizados sugerem fortemente que a pandemia começou ali, possibilidade que inicialmente já era considerada a mais provável.
Uma série de especialistas, entre eles um investigador indicado pela OMS, Peter Daszak, afirmaram que o trabalho de Worobey é sólido, e endossaram a tese de que o primeiro caso conhecido de Covid-19 é potencialmente a vendedora de frutos do mar.
O contador, que antes foi considerado a primeira pessoa infectada pelo coronavírus, afirmou que seus primeiros sintomas apareceram em 16 de dezembro de 2019, vários dias depois do inicialmente relatado, segundo Worobey, e cinco dias depois do relato da vendedora. O estudo aponta que a confusão foi causada por um problema dentário que o homem teve em 8 de dezembro. Conforme a publicação, a maioria dos primeiros casos sintomáticos estava ligada ao mercado.
Worobey foi um dos especialistas que defendeu a consideração da tese de que o vírus poderia ter vazado do laboratório em Wuhan. No artigo publicado nesta qunta-feira, ele sustenta que a nova pesquisa "fornece fortes evidências da origem da pandemia no mercado de animais vivos".
"Nesta cidade de 11 milhões de habitantes, metade dos primeiros casos está relacionada a um lugar do tamanho de um campo de futebol", disse Worobey ao jornal americano The New York Times. — É muito difícil explicar esse padrão se o surto não tiver começado no mercado.
A OMS propôs no mês passado um novo painel de especialistas para complementar a investigação da origem do coronavírus.