Forças Armadas

Pais de mais de 900 soldados israelenses pedem que Forças Armadas não ataquem Rafah

Familiares acreditam que, após meses de avisos, o Hamas já teve tempo de 'preparar o local' para matar militares; autoridades dos EUA temem que ação provoque mortes de civis

Soldados israelenses Soldados israelenses  - Foto: Menahem Kahana/AFP

Os pais de mais de 900 soldados israelenses enviados para a guerra em Gaza assinaram uma carta em que istam o Exército a cancelar a ofensiva em Rafah.

No documento, eles classificam o ataque iminente como uma “armadilha mortal” para os seus filhos, publicou o Guardian nesta segunda-feira.

Na semana passada, as Forças Armadas de Israel (FDI) emitiram um alerta para que moradores do leste de Rafah, no sul do enclave, retirem-se da região.

O aviso foi visto como uma indicação de que a contestada operação militar na área deverá sair do papel.

“É evidente para qualquer pessoa com bom senso que, após meses de avisos e anúncios sobre uma incursão em Rafah, há forças do outro lado ativamente se preparando para atacar as nossas tropas”, diz o texto, enviado ao ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, e ao chefe do Estado-Maior das FDI, tenente Herzi Galevi, em 2 de maio. A carta foi inicialmente assinada pelos pais de cerca de 600 soldados, mas nos últimos dias mais 300 assinaram. “Nossos filhos estão fisicamente e mentalmente exaustos, e agora vocês pretendem enviá-los para esta situação perigosa? Isso parece ser nada menos que imprudência”.

Cerca de 360 mil pessoas fugiram de Rafah na última semana, após avisos de Israel sobre um ataque militar iminente, anunciou a UNRWA, a principal agência de ajuda humanitária da ONU em Gaza.

O órgão publicou que, ao mesmo tempo em que civis deixam a região, há registros de que no norte do enclave também houve bombardeios e ordens de evacuação que “criaram mais deslocamento e medo para milhares de famílias”, de modo que “ não há para onde ir”. Philippe Lazzarini, comissário-geral da organização, afirmou que a maioria dos palestinos se mudou, em média, uma vez por mês para evitar os bombardeios.

"A afirmação de que há ‘zonas seguras’ é falsa e enganosa. Nenhum lugar é seguro em Gaza. Ponto final — ", disse ele.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou a pressão dos Estados Unidos para adiar um combate em larga escala no local, onde cerca de 1 milhão de palestinos procuraram abrigo depois dos primeiros ataques do conflito.

Em reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, no último mês, Netanyahu afirmou que a ofensiva ocorrerá “com ou sem o apoio dos EUA”. Na ocasião, o chefe da diplomacia americana pontuou que uma grande incursão terrestre na região ameaçaria “isolar ainda mais Israel do mundo”. No último fim de semana, altos funcionários americanos repetiram as advertências, prevendo que a ação levaria a muitas mortes de civis.

"Rafah é uma armadilha mortal — disse Anat, mãe de um soldado das FDI, ao Guardian. — O [grupo terrorista] Hamas teve muito tempo para preparar o local para matar nossos soldados. Estamos preocupados e assustados. Nos primeiros meses de guerra, apoiamos toda a operação. Não havia outra escolha senão lutar e se livrar do Hamas em Gaza. Mas nos últimos meses, entendemos que não há um plano claro.

Último reduto do Hamas
Israel retratou Rafah como “o último reduto” terrorista no enclave, de modo que a invasão deve ser feita para que a destruição do Hamas seja completa.

Ainda segundo publicado pelo Guardian, porém, o grupo conseguiu reimpor sua autoridade após as operações das FDI em outras partes do território devastado pela guerra. No domingo, Blinken disse estar preocupado com a possibilidade de que a falha de Israel em estabelecer um modelo para governança da Faixa de Gaza signifique que suas vitórias podem não ser “sustentáveis”, sendo seguidas por “casos de anarquia e, em última instância, pelo Hamas novamente”.

À NBC, o secretário de Estado americano afirmou que o plano israelense em Rafah “corre o risco de causar enormes danos à população civil sem, no entanto, resolver o problema”.

Ao ser questionado se Washington considerava que morreram mais civis em Gaza do que terroristas do Hamas, ele respondeu que “sim”. Neste domingo, o Ministério da Saúde do enclave afirmou que mais de 35 mil palestinos foram mortos no conflito. Blinken conversou com Gallant, o ministro da Defesa israelense, e insistiu que os EUA são contrários a uma grande operação em Rafah. O governo americano ameaçou, inclusive, suspender a entrega de algumas categorias de armas a Israel caso o país lance uma grande ofensiva.

— Vimos o Hamas voltar às áreas que Israel libertou no norte, inclusive em Khan Yunis (localidade em ruínas perto de Rafah) — acrescentou o funcionário americano.

Autoridades dos EUA também afirmam que Yahya Sinwar, o principal líder do Hamas em Gaza, não está escondido em Rafah — algo que poderia enfraquecer a justificativa israelense para uma operação militar na cidade.

As mesmas fontes afirmaram, segundo o New York Times, que agências de inteligência israelenses concordam com a avaliação americana de que os líderes do grupo terroristas estão em outros locais. Para órgãos de espionagem dos dois países, Sinwar provavelmente nunca deixou a rede de túneis sob Khan Younis, onde as construções são mais profundas e chegam a até 15 andares. O líder do grupo também estaria cercado por reféns que ele usa como escudos humanos.

As autoridades israelenses não responderam à carta dos pais dos soldados. No entanto, durante cerimônia no Muro das Lamentações em Jerusalém no domingo, Halevi disse que era responsável por fornecer retornos às famílias de militares que foram mortos.

Ao todo, segundo autoridades israelenses, mais de 600 soldados morreram na guerra. Idit, mãe de um comandante de Israel, disse ao Guardian nesta segunda-feira que seu filho enviou uma mensagem pelo WhatsApp afirmando que os soldados estão “a caminho de Rafah”. Ela afirmou que ele não queria invadir o território, mas que fará isso porque é “leal ao Exército”.

— Estou aterrorizada. Não somos contra a missão de lutar contra o Hamas, mas entrar em Rafah não justifica esta missão. (Com AFP e New York Times)

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