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Educação

Países com rede de ensino forte fecharam escolas por menos dias, diz OCDE

O levantamento mostra que a maioria dos países tentou fazer adaptações para manter o aprendizado mesmo com as restrições da pandemia

Estudantes em sala de aulaEstudantes em sala de aula - Foto: Pexels

 Países que já tinham uma rede escolar de boa qualidade -medida pelo desempenho de seus alunos no teste global Pisa- conseguiram reduzir o número de dias fechados por causa da pandemia, mostra relatório recém-divulgado pela OCDE (grupo de 38 países ricos e emergentes).

"Em outras palavras, os sistemas de educação já com resultados de aprendizagem mais fracos perderam mais oportunidades de aprendizagem em 2020", afirmou Andreas Schleicher, diretor de educação e habilidades da organização.
Uma rede de ensino mais forte explica 54% da variação do número de dias em que escolas secundárias ficaram fechadas no ano passado, mostra o relatório, e isso não acontece só porque os países sejam mais ricos ou porque tivessem sido menos atingidos pela pandemia.

Mesmo quando os números são controlados pelo PIB per capita, a qualidade da educação explica 31% da variação, e há entre os que reabriram antes países em que a taxa de infecção era alta. "O que explica a diferença é que nesses países há uma rede de ensino estruturada e confiável, capaz de criar ambientes seguros mais rapidamente", diz Schleicher.
 


Entre os 38 países da OCDE, o número de dias em que escolas primárias e secundárias ficaram fechadas no ano passado variou de menos de 20, na Dinamarca, para quase 180, na Costa Rica -a média no grupo foi de 68 dias.

Áustria e Itália, países europeus que não estão entre os que obtêm as melhores notas no Pisa, cancelaram aulas presenciais por quase três meses, enquanto Irlanda, Finlândia e Coreia do Norte -com alto desempenho de aprendizado- não chegaram a dois meses.

"Isso significa que a crise não amplificou apenas desigualdades de educação dentro dos países, mas é provável que também tenha ampliado a lacuna de desempenho entre diferentes países", afirmou o diretor da OCDE. Para Schleicher, não há dúvidas de que a suspensão das aulas prejudica a formação de crianças e jovens.

"O aprendizado é um fenômeno social; escolas não são apenas um local de transmissão de conhecimento acadêmico, mas de contato humano e formação de várias outras habilidades", disse ele.

Embora seja difícil prever exatamente como os confinamentos afetarão o desenvolvimento futuro dos alunos, a OCDE citou estimativas dos economistas Eric Hanushek e Ludger Woessmann feitas no ano passado. Segundo eles, cada trimestre de aprendizagem perdida, considerando estudantes do 1º ao 12º ano, provocaria perda de 3% na renda por toda a vida profissional.

Isso, segundo os economistas, representa um custo de longo prazo que varia de US$ 504 bilhões (R$ 2,868 bi) na África do Sul a US$ 14,2 trilhões (R$ 80,82 tri) nos Estados Unidos, a cada três meses de aprendizagem perdidos.

No nível pessoal, diz Schleicher, o impacto das mudanças forçadas pela pandemia também deve ter sido diverso. "Para os estudantes que conseguiram se integrar no ensino online e aprenderam a aprender sozinhos, pode ter sido libertador. Mas, para quem não teve recursos e apoio, foi devastador."

O levantamento mostra que a maioria dos países tentou fazer adaptações para manter o aprendizado mesmo com as restrições da pandemia, com o uso de aulas online, programas de TV e rádio, aulas presenciais em locais abertos ou aumento dos dias letivos.

De acordo com o levantamento da OCDE, três países tinham em 1º de fevereiro deste ano todos os níveis escolares funcionando normalmente: Japão, Nova Zelândia e Noruega. Eram 60% os que já haviam retomado o ensino primário, total ou parcialmente, e 7 em cada 10 tinham escolas infantis abertas.

Apesar dos prejuízos causados pela pandemia, Schleicher disse esperar que a crise tenha trazido algumas mudanças positivas. Uma delas é que os pais passaram a entender mais claramente as dificuldades do ensino e do aprendizado.
"Até antes da pandemia, as escolas eram cada vez mais prestadores de serviço e os pais, clientes, e todos querendo empurrar o problema para o outro", afirmou. O diretor da OCDE disse que pode haver um ganho num maior envolvimento dos pais com o aprendizado dos filhos.

"Isso não significa ficar três horas ajudando na lição de casa, mas mostrar que considera importante a educação. A simples pergunta 'como foi seu dia na escola' traz muito mais benefícios."

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