Países da África Ocidental aprovam intervenção militar no Níger "assim que possível"
União Africana e UE pedem libertação imediata do presidente deposto; filha de Mohamed Bazoum que está na França diz que família está sem luz e sob condições "desumanas"
Os países da África Ocidental aprovaram uma intervenção militar no Níger para reverter o golpe militar que derrubou o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum, no mês passado, afirmou nesta quinta-feira o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattarao, dizendo que a intenção é que a operação comece “assim que possível”.
"Os chefes de Estado-Maior terão outras reuniões para finalizar os detalhes, mas eles têm o acordo da Conferência de Chefes de Estado para que a operação comece assim que for possível" disse Ouattara ao retornar a seu país, após participar de uma cúpula de emergência da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao).
Mais cedo, a Cedeao havia ordenado a mobilização de sua força de reserva, indicando a intenção de "restaurar a ordem constitucional no Níger", como confirmou o presidente do bloco, Omar Touray, depois da cúpula regional em Abuja, capital da Nigéria.
Na noite de quinta, depois do anúncio da mobilização da força de reserva da Cedeao, o Ministério das Relações Exteriores da França afirmou, em nota, que o governo francês dá "pleno apoio ao conjunto das conclusões" adotadas durante a cúpula do bloco africano, sobre o Níger. Além disso, Paris também disse que "reitera sua firme condenação à tentativa de golpe em curso no Níger, assim como o sequestro do presidente Bazoum e sua família".
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O Níger é afetado em diversas partes de seu território pela violência jihadista que se estende pelo Sahel e era comandado pelo presidente Bazoum, eleito democraticamente, dede abril de 2021. Estados Unidos e França mantêm contingentes militares no país, como parte de um esforço de combate ao terrorismo e à instabilidade que atinge a região.
Com o Níger, já são seis governos derrubados por militares na África subsaariana desde 2020: nos últimos três anos foram registradas iniciativas desse tipo no Mali, na Guiné e em Burkina Faso, além de uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau. Conhecida como Sahel, a região empobrecida é localizada entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul, e sofre desde 2011 com a violência de grupos jihadistas como o Estado Islâmico e organizações ligadas à al-Qaeda.
"Condições desumanas"
Em Washington, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, também expressou apoio "à liderança e trabalho da Cedeao" para restabelecer a ordem constitucional. "Os Estados Unidos apreciam a determinação da Cedeao de explorar todas as opções para a resolução pacífica da crise", disse Blinken, em um comunicado.
Em um primeiro encontro após o golpe de 26 de julho, os líderes da Cedeao deram um ultimato aos militares para restabelecer o poder do presidente Mohamed Bazoum, sob pena do uso da força. O prazo expirou no domingo e foi ignorado pelo novo regime, que deu sinais de querer se consolidar no poder. Na segunda-feira, os militares nomearam um primeiro-ministro civil, Ali Mahaman Lamine Zein, e anunciaram, nesta quinta, a formação de um Executivo com 20 ministros, que inclui dois generais à frente das pastas do Interior e da Defesa.
O presidente deposto do Níger é mantido em condições desumanas junto a família, em Niamei, denunciou uma das filhas de Mohamed Bazoum que estava de férias na França quando o golpe ocorreu. Zazia Bazoum disse ao jornal The Guardian que a família teve a eletricidade cortada e vive sem água potável e com pouco acesso a comida.
"A situação da minha família está muito difícil" disse ela, por telefone, ao Guardian. Na entrevista, Zazia Bazoum contou que os parentes estão perdendo peso rapidamente, em meio às condições precárias.
A União africana condenou veementemente a detenção de Bazoum, nesta sexta-feira, classificando o tratamento dado ao líder e sua família de “inaceitável”. Em um comunicado, o bloco exigiu a libertação imediata do presidente democraticamente eleito do país e expressou apoio à Cedeao.
Também nesta sexta, a União Europeia (UE) também se manifestou e declarou “profunda preocupação” com as condições em que o presidente nigerino é mantido na capital do país. A UE defendeu a sua libertação imediata e de sua família.