Países debatem sobre as finanças da mudança climática na COP26
A conferência sobre a mudança climática de Glasgow deve terminar na sexta (12)com um documento que inclua um compromisso mais forte dos países para a redução de emissões de gases do efeito estufa
Os quase 200 países participantes na COP26 debatem nesta quinta-feira (11) o financiamento da luta contra a mudança climática, um dos principais obstáculos para o documento final, ao lado das novas metas para o meio ambiente que devem ser impostas a médio prazo.
"Quero ser claro, ainda não chegamos ao objetivo", declarou o presidente das negociações, o britânico Alok Sharma.
"Me preocupa a quantidade de temas pendentes na área de finanças, a um dia do fim oficial da conferência", afirmou.
"Nossos líderes foram claros no início da reunião de cúpula: querem que demonstremos ambição e a construção de um consenso", alertou o britânico aos ministros e negociadores.
A conferência sobre a mudança climática de Glasgow deve terminar na sexta-feira (12) com um documento que inclua um compromisso mais forte dos países com a redução de emissões de gases do efeito estufa, com a transição energética, e como tudo será financiado.
Além disso, os participantes devem desenvolver regras de vigilância mútua, de transparência, harmonizar as datas e a maneira como apresentam seus objetivos climáticos, e inclusive como devem ser indenizadas as perdas provocadas pela mudança climática, e quem paga por isso.
Todos são pontos do Acordo de Paris, assinado em 2015, que agora devem ser elaborados.
E sem tempo, alertam os cientistas especializados na questão climática: eles destacam que a temperatura nédia do mundo já aumentou em +1,1 ºC na comparação com a era pré-industrial, quando o objetivo desejável seria +1,5 ºC até o fim do século.
Rascunho repleto de parênteses
O mais recente rascunho de declaração final, divulgado pela presidência da COP26 nesta quinta-feira, está repleto de parênteses na parte sobre finanças, e sem mencionar valores.
O mundo desenvolvido estabeleceu oficialmente o valor de 100 bilhões de dólares por ano para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar a gigantesca tarefa de reduzir as emissões de poluentes, além da adaptação para as mudanças.
O valor é uma base, insistem os países pobres. E o Acordo de Paris já previu a necessidade de renegociação para depois de 2025.
Leia também
• Cientistas do clima pedem ação imediata à COP26
• COP26: acordo entre China e Estados Unidos reacende expectativas
• Tempo está acabando, adverte papa aos líderes da COP26
"Para chegar ao objetivo de 1,5 ºC... sabemos que já gastamos 50% do orçamento de carbono", ou seja, de emissões, criticou Diego Pacheco, principal negociador boliviano e porta-voz do denominado 'Like Minded Group of Developing Countries' (LMDC, Grupo de Países em Desenvolvimento com Ideias Semelhantes).
"Não somos responsáveis pelo fosso entre as promessas de corte de emissões e a realidade", completou o boliviano.
Esta postura é combatida por alguns países ricos, que criticam o fato de nações como China, maior poluente do mundo, ou Índia, grande consumidora de carvão, se protegerem sob as demandas dos países em desenvolvimento.
Sobre a mesa aparecem esporadicamente valores astronômicos, o mais recente da ordem de 1,3 trilhão de dólares por ano, que devem ser gastos em partes iguais entre adaptação e mitigação, segundo uma proposta de países da América Latina, África e Ásia.
Quase 200 cientistas especializados em mudança climática pediram aos participantes da COP26 a adoção de medidas imediatas e de grande porte para combater o aquecimento do planeta.
"Destacamos a necessidade de ações imediatas, fortes, rápidas, sustentáveis e em larga escala para limitar o aquecimento abaixo de +2°C e para continuar com os esforços para limitá-lo a 1,5°C, como está previsto no Acordo de Paris", pedem os especialistas em uma carta aberta.
Eles defendem as medidas "para limitar os riscos futuros e as necessidades de adaptação para as próximas décadas, inclusive séculos".
As discussões em Glasgow se complicam ainda por exigências de partes que não estão entre os negociadores, como os grupos indígenas, e as organizações não governamentais, ativas dentro e fora da sede da COP26.