Logo Folha de Pernambuco

MUNDO

Países desenvolvidos e nações vulneráveis se enfrentam nas audiências climáticas da CIJ

A maioria das grandes economias, incluindo os Estados Unidos, China e Índia, argumentam que a CIJ não deve mudar a Convenção Quadro da ONU sobre Mudança Climática (UNFCCC)

Condições climáticas extremas, incluindo tornados, estão aumentando, causando danos em lugares como VanuatuCondições climáticas extremas, incluindo tornados, estão aumentando, causando danos em lugares como Vanuatu - Foto: Philippe Metois/OMS

Os países desenvolvidos, que defendem o marco jurídico atual, e as nações vulneráveis, que pedem mais ação, se enfrentam nas maratônicas audiências sobre a mudança climática que acontecem na mais alta corte da ONU em Haia.

As audiências na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, são históricas: nunca antes um caso envolveu tantos países e instituições que buscam influenciar os juízes em torno do marco legal da luta contra a mudança climática.

A maioria das grandes economias, incluindo os Estados Unidos, China e Índia, argumentam que a CIJ não deve mudar a Convenção Quadro da ONU sobre Mudança Climática (UNFCCC).

Esse acordo é "a expressão mais atualizada do consentimento dos Estados de estarem vinculados pelo direito internacional em matéria de mudança climática", afirmou a representante americana, Margaret Taylor.

Ela pediu à corte que "garantisse que sua decisão preservasse e promovesse a centralidade desse regime".

Tal opinião é compartilhada por outros grandes poluentes, como China e Índia, assim como pela Austrália e Alemanha.

"A corte deve evitar criar obrigações novas ou suplementares em cima das já existentes", expressou o representante da Índia, Luther Rangreji.

Do outro lado do debate, estão os representantes dos pequenos países insulares, alguns dos quais falaram ante a CIJ pela primeira vez na história de seu país.

Seus territórios estão sendo destruídos pela mudança climática, embora eles neguem ser responsáveis por esse fenômeno.

"É uma crise de sobrevivência. É também uma crise de equidade", declarou o representante de Fiji, Luke Daunivalu.

"Nosso povo (...) paga injustamente a fatura de uma crise que não acredito. Espera justiça, clareza e decisão desse tribunal", destacou Daunivalu.

"Seu assessoramento jurídico ressoará através das gerações, dando forma a um legado de responsabilidade, proteção e esperança para todos", acrescentou ante os juízes.

Mais de 100 países e organizações participam das audiências, que começam sua segunda semana nesta segunda-feira.

Depois de meses, até mesmo ano de negociações, a CIJ iá elaborar uma opinião consultiva não vinculante, um marco para o direito internacional na luta contra a mudança climática.

"Batalha"
As declarações de países ricos e grandes poluentes suscitaram a ira dos ativistas, que os acusam de "se esconderem atrás" dos acordos existentes, como o Acordo de Paris de 2015, às vezes considerado insuficiente.

"Assistimos a uma verdadeira batalha entre Davi e Golias", observou Joie Chowdhury, advogado do Centro para o Direito Ambiental Internacional, com sede nos Estados Unidos e Suíça.

"Alguns dos grandes poluidores do mundo, como Estados Unidos e Austrália, tentaram ignorar seu comportamento histórico e seu conhecimento de longa data sobre as causas e consequências da mudança climática", declarou Chowdhury.

A ONU pediu à CIJ que se pronunciasse sobre duas questões.

Quais são as obrigações os Estados, segundo o direito internacional, de proteger a Terra contra as emissões de gás de efeito estufa?

Quais são as consequências jurídicas dessas obrigações quando os Estados, "por seus atos e omissões", causaram danos importantes ao sistema climático?

É necessário mais dinheiro para combater os efeitos das mudanças climáticas, dizem os países em desenvolvimento decepcionados com o anúncio de 300 bilhões de dólares (1,8 trilhão de reais) por ano até 2035 prometido na recente COP29 em Baku.

“Quando caminho ao longo de nossas costas, vejo apenas a erosão do litoral, vejo o desaparecimento das pegadas de gerações de habitantes que viveram em harmonia nessas ilhas”, disse o representante das Ilhas Marshall, John Silk.

“O povo das Ilhas Marshall tem um ditado: 'Wa kuk wa jimor', que significa 'estamos todos na mesma canoa'”, disse Silk. “Hoje, estendo esse princípio à nossa comunidade internacional”.

Veja também

Newsletter