EQUADOR SOB ATAQUE

Países vizinhos oferecem ajuda ao Equador em guerra contra gangues

Conflito armado interno já deixou 12 mortos e 329 detidos. Presidente equatoriano endureceu o discurso

Membros das Forças Armadas do Equador em operação nas ruas de QuitoMembros das Forças Armadas do Equador em operação nas ruas de Quito - Foto: STRINGER/AFP

Um dia após decretar estado de conflito armado interno diante de uma grave crise de segurança causada por ataques do narcotráfico em várias cidades — inclusive a hospitais, uma emissora de TV pública e duas universidades — o presidente do Equador, Daniel Noboa, recebeu o respaldo de países vizinhos, que emitiram uma carta conjunta de apoio político, além de oferecerem ajuda militar, policial e de inteligência, entre outras. Desde a declaração de conflito interno, as Forças Armadas prenderam 329 pessoas em todo território nacional, 12 pessoas morreram e cerca de 140 guardas carcerários foram sequestrados por detentos.

O presidente equatoriano endureceu o discurso e afirmou que seu governo vai considerar “terroristas” também juízes e promotores que “apoiarem” os criminosos, assim como membros da Polícia Nacional e das Forças Armadas.

A carta conjunta foi articulada pelo Chile, que está na presidência do Consenso de Brasília, formado pelos países da América do Sul, que manifestaram “seu mais enérgico rechaço” à violência cometida por grupos do crime organizado. E transmitiram “seu explícito e inequívoco respaldo e solidariedade ao povo e às autoridades do Equador”. O Mercosul também emitiu nota.

Em outras iniciativas, Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia e Estados Unidos prometeram apoio ao Equador contra as gangues criminosas. Ao g1, o diretor-geral da Polícia Federal do Brasil, Andrei Rodrigues, disse que trocou mensagem com o diretor da polícia do Equador, Cesar Zapata, colocando a PF à disposição do país vizinho. Ele disse que também se comunicou com os demais diretores da Ameripol, organização que engloba as polícias de 12 países da América Latina semelhante à Interpol.

Por sua vez, a ministra de Segurança argentina, Patricia Bullrich, disse que a crise no Equador é uma questão continental e ofereceu apoio militar ao país.

"Estamos dispostos a ajudá-los e a enviar forças de segurança, se necessário, para ajudar o Equador", disse Bullrich em entrevista ao canal TN da Argentina. É uma questão continental. O que acontece no Equador, na Colômbia, no Peru, na Bolívia influencia a Argentina. Temos que nos proteger disto [narcóticos] como país e como continente.

Já o presidente boliviano, Luis Arce, escreveu na rede social X (antigo Twitter) que o país manifesta sua “predisposição de apoio” para que o Equador volte à normalidade. Ele também aproveitou a ocasião para reforçar sua ideia de criar uma aliança latino-americana de combate ao crime organizado.

“Ressaltamos que é urgente trabalhar na regionalização do combate ao tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, bem como na criação de organizações supranacionais como a Aliança Latino-Americana Antinarcóticos — ALA, sob os princípios da soberania e da dignidade dos nossos povos; propostas pelo nosso país em diversas reuniões internacionais”, escreveu Arce.

Em Washington, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que o país “condena fortemente” os ataques de grupos armados no Equador e que está empenhado em cooperar com parceiros para que os criminosos sejam levados perante a Justiça. Por sua vez, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, publicou no X uma mensagem dizendo que está “atento a todo apoio que o governo do Equador solicite”.

Tanto a Colômbia como o Peru reforçaram suas fronteiras com o Equador.

Pelo decreto em que estabeleceu estado de conflito armado interno (CAI), Noboa deu às organizações criminosas status beligerante e ordenou aos militares “neutralizar” 22 grupos, que passaram a ser considerados “organizações terroristas”.

"Os juízes e promotores que estejam com os delinquentes também serão considerados parte do terrorismo", disse o presidente em entrevista à Rádio Canela, acrescentando que a mesma lógica se aplicará a policiais e militares: "Serão processados porque estarão dando assistência a terroristas".

Segundo Noboa, que decretou estado de exceção após a fuga do líder da maior facção criminosa equatoriana, o país se encontra em “estado de guerra” depois de três dias de violência do narcotráfico, com 12 mortes registradas em Guayaquil, a maior cidade do país. Nesse sentido, afirmou, o CAI “é uma mensagem de que nós [o Estado] não vamos ceder, não vamos deixar que a sociedade morra lentamente”. O estado de exceção vai vigorar por 60 dias, inclusive nos presídios, dominados por gangues do narcotráfico, com toque de recolher entre 23h e 5h.

Desde a declaração de conflito interno, as Forças Armadas puseram nas ruas 22.400 militares e prenderam 329 pessoas em todo território nacional. Noboa afirmou que o Equador está “lutando pela paz” contra as organizações criminosas e se comprometeu a enfrentar sem trégua “mais de 20 mil” de seus membros.

Em represália à pressão do governo, quadrilhas criminosas lançaram uma dura ofensiva que deixou 12 mortos, cerca de 140 guardas carcerários sequestrados por detentos, a população em pânico e jornalistas amedrontados. Na terça-feira, uma invasão foi transmitida ao vivo a todo o país quando homens armados com fuzis e granadas tomaram a sede do canal público TC Televisión durante o noticiário do meio-dia, em Guayaquil.

"Minha posição é de que todos os grupos terroristas são objetivos militares", afirmou Noboa, que assumiu o cargo em novembro.

A crise se seguiu à fuga de Adolfo Macías, o “Fito”, chefe da principal organização criminosa do país, a gangue Los Choneros, que estava preso em uma penitenciária de Guayaquil e sumiu domingo.

Em meio à situação de perigo intenso, os equatorianos tentam se adaptar para seguir com suas rotinas da melhor forma possível: as aulas migraram para o formato on-line, o comércio fecha as portas mais cedo e apenas serviços de emergência estão disponíveis nos hospitais. As ruas e os transportes públicos estão vazios, e quem se arrisca em público caminha apressado. O medo é onipresente.

"Há medo, é preciso ter cautela, olhar para um lado, olhar para outro, decidir se pego ou não esse ônibus, [pensar] no que pode acontecer", disse à AFP uma mulher de 68 anos que não quis revelar a identidade e que, mesmo “aterrorizada”, saiu para trabalhar num escritório em Quito.

Na capital, centenas de soldados guardam as ruas desertas em torno do Palácio Carondelet, sede do governo equatoriano, enquanto o parque La Carolina, o maior da cidade de quase 3 milhões de habitantes, está vazio sem os habituais praticantes de esportes.

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