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Palácio de La Moneda sofre ataque de vândalos durante marcha em memória dos 50 anos do golpe militar

Presidente chileno, Gabriel Boric, participou da caminhada neste domingo e lidera na segunda a cerimônia oficial em memória do aniversário do início da ditadura de Augusto Pinochet

Vidros quebrados no entorno do Palácio de La Moneda, no Chile Vidros quebrados no entorno do Palácio de La Moneda, no Chile  - Foto: Javier Torres/ AFP

Vândalos encapuzados atacaram a fachada e o entorno do Palácio de La Moneda, neste domingo, durante uma marcha organizada para marcar a véspera do aniversário de 50 anos do golpe de Estado no Chile, que deu início a uma das ditaduras mais sangrentas da História da América Latina. O presidente chileno, Gabriel Boric, participou de uma parte da caminhada que reuniu cerca de 5 mil pessoas no centro de Santiago.

Um grupo de vândalos destruiu com pedras e paus as janelas do prédio do governo, pichou as paredes com spray e derrubou as cercas em volta do percurso do protesto, que percorreu ruas do centro da cidade até o cemitério geral da capital chilena. Agentes de segurança dispersaram os agressores com gás lacrimogêneo e veículos com jatos d’água. Três pessoas foram detidas e três policiais ficaram feridos, de acordo com o comunicado do governo.

"Como Presidente da República, condeno categoricamente esses atos sem nenhum tipo de matiz. A irracionalidade de atacar aquilo pelo que Allende e tantos outros democratas lutaram é vil e mesquinha", reagiu Boric em sua conta na rede social X [antigo Twitte], em referência ao presidente deposto pelo golpe do general Augusto Pinochet, Salvador Allende, que teve a morte atribuída a suicídio no mesmo 11 de setembro de 1973.

Durante a marcha também ocorreram confrontos entre policiais e manifestantes que lançaram pedras e coquetéis molotov e ergueram barricadas que foram incendiadas. A maior parte do grupo que participava da caminhada marchou pacificamente, levando bandeiras chilenas e de partidos de esquerda, além de faixas com lemas como "Verdade e justiça agora" e "Allende vive".

Ascensão da direita
O aniversário do golpe ocorre em um momento em que o Chile vive uma crescente tensão política, marcada pela ascensão da ultradireita, que inflama versões negacionistas sobre a ditadura e revisionistas a respeito do passado do país. Uma pesquisa recente da Mori Consultores revelou que apenas 42% dos chilenos consideram que o ditador Augusto Pinochet (1973-1990) destruiu a democracia do país. Há dez anos, o percentual era de 63%, e em 2006, ano da morte de Pinochet, atingiu 68%.

Na quinta-feira, Boric e quatro ex-presidentes chilenos assinaram um compromisso pela defesa da "democracia das ameaças autoritárias". O documento foi referendado pelos ex-presidentes de centro-esquerda Eduardo Frei [1994-2000], Ricardo Lagos [2000-2006] e Michelle Bachelet [2006-2010/2014-2018], e o ex-mandatário de centro-direita Sebastián Piñera [2010-2014/2018-2022], mas partidos de direita não aceitaram o convite para participar e lançaram sua própria declaração, na qual pediram o "fortalecimento da democracia". O Partido Republicano, de extrema direita, não aderiu a nenhum dos dois movimentos para marcar a data.

Aos 37 anos, Boric é o presidente mais jovem do Chile e o único nascido após a ditadura, entre os que lideraram o país após o fim do regime militar. O esquerdista enfrenta a baixa popularidade de seu governo e um conturbado processo de tentativa de mudança constitucional. A primeira tentativa de redigir uma Carta que substitua a Constituição atual, que é um resquício da ditadura, foi rejeitada no ano passado por 62% da população. E em outra derrota maciça para o governo, a extrema direita saiu vitoriosa em maio, na eleição para escolher os 50 integrantes do novo Conselho Constituinte. (Com AFP e El País)

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