Palestinos comemoram cessar-fogo nas ruas de Gaza
Defesa Civil alertou moradores para que não disparem tiros para o alto durante a celebração para evitar que outras pessoas se machuquem
Centenas de palestinos foram às ruas de Gaza nesta quarta-feira comemorar o histórico cessar-fogo entre Hamas e Israel após 15 meses da guerra que deixou mais 40 mil palestinos e 1,2 mil israelenses mortos e fez cerca de 250 reféns no ataque de 7 de outubro, alguns ainda sob custódia do grupo terrorista no enclave.
Multidões se reuniram para acompanhar as notícias sobre o acordo — negociado por Catar, EUA e Egito — em televisores espalhados pelas cidades, e imagens mostram moradores indo às lágrimas após o anúncio.
Em Deir al-Balah, no centro do território, centenas de pessoas rapidamente expressaram sua alegria em frente ao Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, onde tantos mortos chegaram desde o início da guerra. As pessoas dançavam, tiravam fotos e agitavam bandeiras palestinas.
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— Esta é uma multidão maior do que esperávamos — reportou Hani Mahmoud, jornalista do canal catari al-Jazeera, diretamente do pátio do hospital após a notícia. — Muitos dos sentimentos que estamos vendo aqui foram reprimidos nos últimos 15 meses, já que a intensa campanha de bombardeios deixou as pessoas em um estado de incerteza e medo. Estamos vendo pessoas em lágrimas. Estamos vendo mães aqui, que vivem em tendas perto do hospital, abraçando e beijando seus filhos, agradecendo a Deus por terem sobrevivido.
Em entrevistas à emissora catari, palestinos de diferentes idades compartilharam o que estavam sentindo com a notícia. Por um lado, a felicidade se mistura à esperança de ver Gaza reconstruída depois da devastação deixada pela guerra. Por outro, eles destacam a saudade dos entes queridos que morreram durante o conflito.
— É claro que a felicidade e o alívio entraram em nossos corações e nos corações de todos os palestinos. Este pesadelo, este terror acabará. Voltaremos para nossas casas e veremos nossos entes queridos após mais de 15 meses de agressão implacável, assassinato e destruição — disse Haitham Doghmosh, de 22 anos, à al-Jazeera.
Aos 13 anos, Mohammed al-Nabahin disse que, apesar do cessar-fogo, muitas pessoas em Gaza não têm mais casa para voltar.
— Estou muito feliz. Queremos ver a Cidade de Gaza. Sentimos falta dela. É verdade que muitas pessoas de Gaza não têm casas para onde retornar, mas é bom estar em sua vizinhança, perto de seu povo e vizinhos — afirmou o jovem. — Mesmo com o cessar-fogo, ainda sentimos falta de parentes e entes queridos que foram martirizados.
Um Mohammed, de 44 anos, disse que os palestinos estão "exaustos" após tantos meses de guerra, e lembrou dos parentes que foram mortos e detidos nesse período. Ele também diz contar as horas para retornar para a casa, no norte do enclave, área sob cerco israelense há meses.
— Espero que esta guerra realmente acabe e que nos digam que podemos retornar para nossas casas no norte — contou. — Estou muito triste. Meu irmão e meu filho foram martirizados. Dois dos meus sobrinhos foram detidos. O mais importante é ter segurança, para que possamos proteger nossos filhos restantes sem ataques aéreos ou drones. A guerra foi difícil. Estamos exaustos, exaustos.
Aisha, de 70 anos, também afirmou que deseja retornar para o norte, mesmo em ruínas.
— Talvez Deus queira nos trazer paz e nos reunir com nossos filhos no norte, para que possamos ver nossas casas e viver o resto de nossas vidas lá, apesar da destruição e das ruínas — disse. — Nenhum dos Estados árabes ficou ao nosso lado, mas Deus do alto nos ajudou.
Autoridades pedem cautela
Apesar do clima de celebração, o Hamas, que governa o território desde 2007, orientou que os palestinos não se desloquem novamente até o início oficial do cessar-fogo, previsto para domingo.
"O Escritório de Mídia do Governo pede aos cidadãos honrados que não se movam antes do início oficial do cessar-fogo e que obtenham informações sobre o momento do cessar-fogo de fontes oficiais", disse o Hamas em um comunicado à imprensa.
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A Defesa Civil de Gaza também pediu aos moradores que não disparem tiros para o alto em comemoração ao acordo para evitar que outras pessoas se machuquem.
"Pedimos que se abstenham de disparar balas para o ar por medo de ferir as pessoas deslocadas nas tendas e abrigos", disse. "Não queremos ficar tristes com mais mártires e feridos."