Logo Folha de Pernambuco

saúde

Pandemia leva à redução de consultas no pré-natal e de apoio para cuidar de bebês

A pesquisa foi feita com 2.753 mulheres (1.713 grávidas e 1.040 puérperas), de todas as classes sociais, feita entre 23 de julho e 8 de agosto em todas as regiões do País

Mulher grávidaMulher grávida - Foto: Pixabay

Redução de consultas e exames no pré-natal, menos participação dos parceiros no acompanhamento da gravidez, queda de rendimentos e falta de apoio para cuidar do bebê. Esses são alguns dos transtornos que a pandemia de coronavírus tem trazido às gestantes e puérperas brasileiras, segundo pesquisa online inédita. Para 84% delas, a experiência da gravidez ficou mais difícil devido à crise sanitária.

A pesquisa foi feita com 2.753 mulheres (1.713 grávidas e 1.040 puérperas), de todas as classes sociais, feita entre 23 de julho e 8 de agosto em todas as regiões do País. A margem de erro é de 2,9 pontos percentuais.

O estudo foi feito pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da ONU Mulheres e da plataforma BabyCenter, em parceria com o Unicef, Organização Pan-Americana da Saúde e Fundo de População das Nações Unidas.

Segundo o levantamento, uma em cada três gestantes diminuiu a ida a consultas de pré-natal e a realização de exames presenciais durante a pandemia.

A maioria (52%) relata muita preocupação em sair de casa para monitorar a gestação.

"O medo aliado à falta de informação sobre o coronavírus podem estar prejudicando a saúde e colocando em risco inúmeras mulheres e bebês em formação, um impacto negativo que ainda não é possível medir, mas que certamente trará consequências futuras", diz Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, organização que atua pelos direitos das mulheres.

Embora a oferta geral de consultas virtuais tenha crescido nesse período no setor da saúde, 59% das grávidas ainda preferem o acompanhamento presencial da gravidez. Das que se consultaram a distância, 58% se sentiram satisfeitas, contra 85% das que fizeram consultas presenciais.

Ainda há muita desinformação. Por exemplo, só 32% das entrevistadas se sentem bem informadas sobre medidas que a maternidade está tomando para evitar o contágio.

Mais da metade das entrevistadas diz não saber se pode haver transmissão vertical (da mãe para a criança) em caso de infecção na gravidez. Ainda estão sendo realizados estudos para comprovar essa relação.

Apesar de a quase totalidade das mulheres (98%) ter relatado vontade de amamentar (ou dizer que já estava amamentando), 49% dizem que não o fariam se estivessem com o vírus.

O índice sobe para 67% nas classes D e E. Estudos recente mostram que o vírus não é transmitido pelo leite materno.

"A ciência ainda não tem respostas para várias questões, mas, para as quais já existem, é preciso que sejam passadas de forma clara. Isso diminui muito a angústia, o medo", diz Maíra Saruê, diretora de pesquisa do Instituto Locomotiva

Mais da metade (53%) das gestantes também não sabia se poderia ter acompanhante no hospital no pós-parto, o que é garantido por lei desde 2005. Mas em muitas maternidades públicas isso não tem ocorrido.

Em estados como Amazonas, Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Tocantins e no Distrito Federal, as Defensorias Públicas têm atuado para assegurar esse direito das mulheres.

Para Jacira Melo, é urgente que sejam desenvolvidos protocolos específicos de informações para essas mulheres pelas áreas de gestão em saúde e maternidades.

"Embora precisem ter os mesmo cuidados e precauções que as outras pessoas para evitar a Covid-19, considerando as mudanças no corpo e no sistema imunológico, as grávidas podem ser afetadas de forma mais severa."

Estudo publicado em julho na revista médica International Journal of Gynecology and Obstetrics colocou o Brasil como recordista no mundo em mortes maternas relacionadas à Covid-19. À época, o país tinha 124 óbitos –um mês depois, já somava mais de 200, o que representava 77% das mortes maternas no mundo.

Segundo dados do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, as grávidas e puérperas têm mais chances de desenvolver complicações da Covid-19, com 1,5 mais internações em UTIs e 1,7 maior necessidade de ventilação mecânica e óbito, em relação a outras mulheres.

A necessidade de distanciamento social trouxe outras consequências para o período de gestação: 39% das entrevistadas dizem que houve diminuição da participação do cônjuge nas consultas de pré-natal e puerpério e 87% afirmam não ter apoio para cuidar do bebê.

Por exemplo, uma em cada três mulheres não sabe onde vai deixar o bebê após a licença-maternidade.

É o caso da bancária Marta de Souza, 35, que busca uma babá para ficar com o filho Pedro, de seis meses.

Com os pais morando no interior e o marido, também bancário, já em trabalho presencial, ela havia planejado, antes da pandemia, deixar o bebê em um berçário conveniado com o banco, mas o local continua fechado devido à pandemia.

"Vai ser um enorme aperto financeiro [contratar uma babá], mas não tem jeito. Não posso abrir mão do meu emprego nesse momento", diz ela.

Entre as 16% das mulheres que, assim como Marta, pretendiam deixar seus bebês nas creches após a licença maternidade, 44% ainda não sabem quem tomará conta da criança.

Para Maíra Saruê, a pesquisa revela que, nos momentos mais delicados da maternidade, na gravidez e no pós parto, as mulheres estão sentindo inseguras e abandonadas.

"Elas perdem a rede de apoio quando mais precisam. O companheiro sai para trabalhar, ela tem medo de receber visitas. Mais do que nunca precisam de apoio psicológico, de acolhimento."

O impacto financeiro já é sentido pelas maioria das entrevistadas: 60% tiveram redução de rendimentos, segundo o estudo.

"Muitas mulheres já abandonavam os empregos antes da pandemia por não ter com quem deixar o bebê.
Não encontravam vagas em creches públicas, não tinham condições de pagar uma babá. Agora a situação está ainda mais delicada", afirma Sauê.

Principais resultados da pesquisa:
- 31% não tiveram orientação sobre como evitar a contaminação durante as consultas de pré-natal
- 58% têm medo de sair de casa para fazer os exames de acompanhamento gestacional
- 32% se sentem bem informadas sobre medidas adotadas pela maternidade para evitar contágio
- 53% tiveram algum sintoma compatível com a infecção pelo coronavírus
- 85% delas não fizeram nenhum teste para confirmação da suspeita
- 87% dizem que não têm ou terão ajuda para cuidar do bebê
- 60% tiveram queda da renda familiar
- 31% não sabem com quem ficará o bebê quando acabar a licença maternidade
- 18% dizem que as brigas domésticas aumentaram
- 75% querem sair mais rápido da maternidade para evitar contaminação
- 54% não permitem ou permitirão visitas ao bebê por medo de contágio

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter