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Papa Bento XVI: entenda o problema de saúde que levou o pontífice a renunciar

Insônia atinge um terço da população brasileira e, se não for tratada, pode aumentar risco de doenças cardiovasculares, metabólicas e neurológicas

Papa emérito Bento XVIPapa emérito Bento XVI - Foto: Reprodução/Twitter

Em carta enviada a seu biógrafo, Peter Seewald, semanas antes de sua morte, no último dia 31, o Papa Bento XVI revelou que o “motivo central” para sua renúncia, em 2013, foi a insônia. O documento foi divulgado nesta sexta-feira (27) pela revista alemã Focus. Mas afinal, o que causa a dificuldade para dormir e quais são seus riscos para a saúde?

Segundo a Associação Brasileira do Sono (ABS), 73 milhões de brasileiros sofrem com insônia – cerca de um terço da população. O quadro, caracterizado por problemas para iniciar ou manter o sono, pode ser causado por fatores ambientais, como estresse, piora da saúde mental e preocupação excessiva financeira e com o trabalho.

No entanto, pode também ser associado a outras doenças, como as neurológicas, ao consumo excessivo de estimulantes, como a cafeína, e ao uso de determinados medicamentos. Há ainda casos de insônia considerados genéticos, quando o distúrbio é provocado por uma predisposição do organismo.

Quais os riscos da insônia?
O problema pode ser identificado pelas consequências a curto prazo da privação de sono à noite, como problemas de memória, de foco e concentração, sonolência durante o dia e irritabilidade, o que traz prejuízos pessoais e profissionais. Uma das formas de suspeitar que é insônia, e não apenas uma dificuldade passageira, é monitorar se esses sintomas acontecem ao menos três vezes por semana durante um período de três meses.

A longo prazo, há uma série de graves condições de saúde que podem ser desencadeadas pela privação do sono, como doenças cardiovasculares e metabólicas. Um estudo de pesquisadores do Mayo Clinic, nos Estados Unidos, mostrou que dormir apenas cerca de 4 horas por noite leva a um aumento de 9% na área total da gordura abdominal e de 11% na gordura visceral – ligada a doenças cardíacas – em somente 21 dias.

O sono não suficiente aumenta ainda o risco para diabetes tipo 2, mostram estudos. A Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos recomenda que, em média, dos 18 aos 64 anos, o adulto durma de sete a nove horas por dia. Essa quantidade é maior para crianças e adolescentes. Além disso, é importante se atentar à qualidade do sono, e não apenas à duração.

O sono ruim é também associado a uma piora do sistema imunológico, o que aumenta a susceptibilidade a infecções. Outro ponto de alerta é pelo fato de ser enquanto dormimos que um mecanismo importante do cérebro chamado sistema glinfático atua limpando substâncias tóxicas do Sistema Nervoso Central (SNC).

Uma dessas substâncias é a proteína beta-amiloide, cujo acúmulo no cérebro é considerado uma das causas para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. No decorrer do tempo, essas substâncias podem provocar outros problemas neurológicos.

Como tratar a insônia?
A primeira linha de tratamento da insônia é a mudança de hábitos com a chamada higiene do sono. Eles envolvem evitar estimulantes, como alimentos e bebidas com cafeína, durante à noite, não utilizar aparelhos eletrônicos por ao menos duas horas antes de dormir, ter uma rotina de atividades físicas e garantir que o ambiente esteja devidamente confortável e escuro ao se deitar.

Quando as alterações no dia a dia não são suficientes, os médicos podem prescrever medicamentos que levam o corpo a “desligar” e adormecer. No entanto, eles são indicados para uso temporário – um dos mais famosos, o Zolpidem, tem o uso restrito para o período de quatro semanas. Isso porque eles contam com uma série de efeitos colaterais, como alucinações e sonambulismo, quando utilizados indevidamente.

Na carta, o Papa Bento XVI disse que a insônia o acompanhava desde 2005, meses depois de ter sido eleito sucessor de João Paulo II, e que o médico particular do pontífice receitou "remédios potentes" na época.

Em um primeiro momento, os fármacos permitiram a manutenção da carga de trabalho, porém atingiram seus "limites" com o tempo, contou o Papa Emérito. Um desses momentos teria sido um incidente durante uma viagem ao México e a Cuba em março de 2012, quando Bento XVI encontrou seu lenço "totalmente encharcado de sangue", segundo a carta citada pela revista Focus.

"Devo ter batido em alguma coisa no banheiro e caído", escreveu. Depois de um atendimento médico, os ferimentos não ficaram visíveis. Um novo médico insistiu, depois do incidente, por uma redução do uso de pílulas para dormir por parte de Bento XVI. Também recomendou que ele só participasse de eventos matinais durante as viagens ao exterior.

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