Papa convoca Sínodo da Igreja com temas sensíveis e voto de mulheres
Principal colegiado deliberativo da Igreja Católica também terá maior participação de leigos
Ao longo de uma década como líder da Igreja Católica Romana, o Papa Francisco permitiu debates sobre temas antes tratados como tabus e desencadeou sutis mudanças liberalizantes que enfureceram conservadores por ter ido longe demais e frustraram progressistas por não avançar o suficiente.
Este mês, a partir de quarta-feira, o desejo de Francisco de que a Igreja discuta as preocupações dos seus fiéis, mesmo os temas mais delicados, terá vez no Sínodo dos Bispos, um encontro de religiosos dos mundo todo que, pela primeira vez, permitirá que mulheres votem e terá maior participação de leigos. As questões em discussão incluirão padres casados, o celibato sacerdotal, a bênção a casais LGBTQIA+, a extensão dos sacramentos aos divorciados e a ordenação de mulheres.
Os críticos desconfiam da própria natureza do Sínodo, apontado como uma maratona burocrática ou como um cavalo de Tróia para os progressistas corroerem as tradições da Igreja sob o manto do colegiado. Mas há os que enxergam uma oportunidade de botar em prática a visão de Francisco sobre a Igreja, como uma instituição inclusiva e que busca subverter a hierarquia tradicional e a força dos bispos, e ouvir e a trabalhar mais com os fiéis.
Para estes, mais do que qualquer questão em debate, e para além dos principais temas da “guerra cultural” que ficaram de fora da pauta[aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo ou eutanásia], é o processo de bispos e leigos trabalhado e votando juntos que representa uma mudança potencialmente transformadora.
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"Momento incrível"
"É um momento incrível" disse Renée Köhler-Ryan, reitora da Escola de Filosofia e Teologia da Universidade de Notre Dame Austrália, que participará e votará entre as primeiras mulheres a terem essa oportunidade.
O Sínodo dos Bispos é uma instituição permanente de aconselhamento do Papa que reúne bispos de todo o mundo, em encontros periódicos para discutir e votar propostas sobre orientações da Igreja que são enviadas para deliberação do Papa. O tema geral do evento deste ano gira em torno do estímulo ao maior envolvimento dos fiéis nas questões da Igreja.
Em abril, o Papa publicou as novas regras para este ano, que marcaram uma mudança histórica nas normas da Igreja. Pelo documento, a maior parte dos participantes ainda é formada por bispos, mas o Papa adicionou 70 integrantes além deles, com orientação de que 35 sejam mulheres e que a presença de jovens seja incentivada. O texto determina que, por serem integrantes, “eles terão o direito a voto". Além disso, cinco freiras vão se juntar aos 5 padres que também podem votar como representantes de ordens religiosas. Nos Sínodos passados, as mulheres puderam apenas atuar como auditoras.