Papa corta fundos de Secretaria de Estado da Santa Sé
Decisão se deu após o escândalo desencadeado por investimentos polêmicos
O papa Francisco deixou a Secretaria de Estado do Vaticano sem fundos próprios, após o escândalo desencadeado por investimentos polêmicos, incluindo a compra de uma propriedade de luxo em Londres, explicou o porta-voz do Vaticano nesta quinta-feira (5).
Por despacho do pontífice, os fundos, administrados há décadas pela Secretaria de Estado, serão administrados pela Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA) e controlados pela Secretaria de Economia, disse em nota Matteo Bruni, diretor da assessoria de imprensa do Vaticano.
A decisão foi anunciada no dia 25 de agosto e tem como objetivo garantir maior transparência nas contas financeiras da Santa Sé, centro do escândalo de seus investimentos pouco transparentes.
Os arranjos financeiros do Secretário de Estado, com uma rede de relações com empresas e consultorias, quase todas italianas, acabaram por criar um rombo de mais de 454 milhões de euros, denunciou em agosto a revista italiana L'Espresso.
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O papa ordenou na carta que uma comissão verifique e controle o cumprimento de suas disposições nos próximos três meses. Ele também ordenou o corte de todos os laços com o suposto fundo de investimento, disse Bruni.
Com a decisão inédita, o papa argentino ordenou em setembro o afastamento do cardeal italiano Angelo Becciu, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, que também retirou todos os seus direitos de cardeal por estar envolvido no escândalo.
Becciu é mencionado em várias ocasiões no quadro de uma investigação interna ordenada pelo papa sobre os opacos arranjos financeiros da Santa Sé.
O prelado de 72 anos, que nega qualquer apropriação indébita dos fundos, será processado durante um julgamento interno.
Para muitos observadores, o papa lançou uma campanha final para limpar dentro do Secretário de Estado, considerada até recentemente intocável.
“Chegou a hora da transparência”, advertiu o Papa Francisco há alguns meses.
Francisco, na carta enviada em agosto ao cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, e divulgada esta quinta-feira, ordena o abandono dos investimentos denunciados.
“Atenção especial deve ser dada aos investimentos feitos em Londres e ao fundo Centurion, do qual é preciso sair o quanto antes ou pelo menos dispor deles de forma a eliminar todos os riscos de reputação”, questiona Francisco.