Papa diz que Trump, antimigrantes, e Kamala, pró-aborto, são 'contra a vida'
Pontífice falou pela primeira vez sobre a eleição americana, descrevendo a rejeição de migrantes como um "pecado grave" e "crueldade", e o aborto como "assassinato"
Questionado sobre seu conselho aos eleitores católicos nas próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o Papa Francisco disse nesta sexta-feira que eles devem escolher o "menor dos dois males" porque "ambos são contra a vida" — Kamala Harris por seu apoio aos direitos ao aborto, e Donald Trump por fechar a porta para imigrantes.
— Mandar migrantes embora, não deixá-los crescer, não deixá-los ter vida é algo errado, é crueldade — disse Francisco em uma entrevista coletiva no avião papal ao retornar a Roma após sua longa viagem ao Sudeste Asiático e Oceania. — Mandar uma criança para longe do ventre da mãe é assassinato porque há vida. E devemos falar claramente sobre essas coisas.
Leia também
• Trump exaltado e Kamala questionada em região de extração de gás de xisto na Pensilvânia
• Trump impulsiona o "medo dos vermelhos" contra Kamala Harris
• EUA impõe tarifas de 100% aos carros elétricos chineses
Quando perguntado se seria moralmente admissível votar em alguém que favorecesse o direito ao aborto, ele respondeu:
— É preciso votar. E é preciso escolher o mal menor. Qual é o mal menor? Aquela senhora ou aquele cavalheiro? Não sei. Cada pessoa deve pensar e decidir de acordo com sua própria consciência — disse sem mencionar nenhum dos candidatos pelo nome.
Os comentários foram feitos no momento em que o Pontífice, de 87 anos, concluiu uma exaustiva excursão de 11 dias pela região da Ásia-Pacífico, que incluiu paradas em Jacarta, Timor Leste e Cingapura, demonstrando seu comprometimento em alcançar os fiéis no que ele chama de "periferias" e construir uma igreja menos eurocêntrica que olhe para a Ásia.
Sua posição sobre a corrida presidencial americana reflete a divisão entre os eleitores católicos nos Estados Unidos, que em eleições anteriores foram tão divididos entre os partidos quanto o eleitorado em geral.
A conferência dos bispos americanos aconselha similarmente os católicos a levarem em conta o conjunto de ensinamentos da Igreja na cabine de votação e não endossa candidatos — embora alguns bispos opinem mais explicitamente.
A Igreja Católica considera o aborto um pecado grave, e o Papa frequentemente se refere ao aborto como assassinato, mesmo no caso de um feto doente ou com distúrbios patológicos. Em 2018, ele comparou o aborto a contratar "um assassino de aluguel para resolver um problema", e em seu documento papal mais recente, emitido este ano, reafirmou firmemente a rejeição da Igreja ao aborto, à pena de morte e à eutanásia.
Ao mesmo tempo, ele fez da situação dos migrantes o centro de seu papado, pedindo compaixão e caridade para com os milhões que foram forçados a deixar suas terras natais por causa da guerra, pobreza ou fome.
Sua primeira viagem como Papa, em 2013, foi para Lampedusa, a ilha ao largo da Itália que nas últimas décadas se tornou o ponto de entrada para a Europa para inúmeros migrantes que cruzavam o Mediterrâneo. Lá, ele denunciou a "globalização da indiferença" à situação.
Desde então, ele tem denunciado implacavelmente o tráfico de pessoas e clamado por rotas de migração seguras, e tem dito repetidamente que rejeitar migrantes é um pecado grave.
Também não é a primeira vez que ele comenta uma corrida presidencial dos Estados Unidos.
Em 2016, sugeriu que Trump "não era cristão" por causa de suas promessas de campanha de deportar mais imigrantes e forçar o México a pagar por um muro ao longo da fronteira.
— Uma pessoa que pensa apenas em construir muros, onde quer que estejam, e não em construir pontes, não é cristã — disse o Papa na época.