Papa Francisco inspira política 'ambientalista' do novo primeiro-ministro italiano
Renomado economista foi formado no colégio jesuíta de Roma e acredita na doutrina social da Igreja e na solidariedade
O novo primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, em discurso nesta quarta-feira (17) perante o Parlamento, se inspirou nos princípios "ecológicos" do Papa Francisco para priorizar a defesa do meio ambiente, cuja destruição está entre as possíveis causas da pandemia.
"O espaço que algumas megacidades roubaram da natureza pode ter sido uma das causas da transmissão do vírus dos animais para os humanos. Como disse o Papa Francisco, 'as tragédias naturais são a resposta da Terra aos nossos maus tratos", assegurou Draghi pouco antes do voto de confiança nesta quarta-feira no Senado.
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“O aquecimento global tem efeitos diretos em nossas vidas e em nossa saúde”, alertou ele, listando os desafios históricos que deve enfrentar devido à pandemia de coronavírus que causou quase 100.000 mortes na Itália.
Os vínculos de Draghi com Francisco
Os laços de Draghi com o papa argentino - o primeiro pontífice jesuíta da história - são interessantes, já que o renomado economista foi formado no colégio jesuíta de Roma e acredita na doutrina social da Igreja e na solidariedade com esta.
Em julho passado, o papa Francisco o nomeou membro da Pontifícia Academia de Ciências Sociais, que inclui 26 outras personalidades, incluindo a turca Dani Rodrik, vencedora do Prêmio Princesa das Astúrias de 2020 em Ciências Sociais, e o americano Joseph E. Stiglitz, Prêmio Nobel em Economia.
"Draghi teve várias audiências privadas e telefonemas com o Papa Francisco. Ele há muito tempo é bem considerado dentro do Vaticano", escreveu a agência americana especializada em notícias católicas, a Catholic News Agency.
O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), que se define como um "socialista liberal", já foi colaborador do jornal oficial do Vaticano, L'Osservatore Romano, e é muito apreciado pelo diretor do jornal jesuíta La Civiltà Cattolica, Padre Antonio Spadaro, um dos religiosos mais próximos do Papa.
Segundo o jornalista Georgio Meletti, do jornal Domani, Draghi exerceu a liderança sem buscá-la, um dos grandes ensinamentos dos jesuítas.
“Quando estava à frente do banco central italiano, Draghi expressou sua visão de mundo e seus princípios. Suas intervenções foram muito poucas, para proteger sua imagem, e mais que um defensor do neoliberalismo, ele parecia um católico solidário, antecipando as saídas anti-capitalistas do jesuíta Francisco ", lembrou.
Em seu primeiro discurso como chefe de governo, Draghi também aderiu à encíclica "Laudato Sí" de Francisco, na qual vincula o chamado "cuidado da casa comum" à justiça social.
“Proteger o futuro do meio ambiente e conciliá-lo com o progresso e o bem-estar social exige uma nova visão”, alertou aos senadores.