Papa Francisco critica o 'vergonhoso' fracasso da diplomacia no Oriente Médio
'Há um ano, acendeu-se o pavio do ódio, que não foi apagado, mas explodiu em uma espiral de violência, na vergonhosa incapacidade da comunidade internacional', declarou o pontífice
O papa Francisco criticou nesta segunda-feira a "vergonhosa incapacidade" da comunidade internacional de pôr fim ao conflito no Oriente Médio, no primeiro aniversário do letal ataque do Hamas em Israel.
"Há um ano, acendeu-se o pavio do ódio, que não foi apagado, mas explodiu em uma espiral de violência, na vergonhosa incapacidade da comunidade internacional e dos países mais poderosos de silenciar as armas e pôr fim à tragédia da guerra", afirmou o pontífice em uma carta aberta aos católicos do Oriente Médio.
Sob bombardeios desde outubro de 2023, que deixaram 41,6 mil mortos e 100 mil feridos, o enclave tem diante de si um dos maiores desafios de reconstrução da História recente, que inclui, além da destruição física, impactos humanos difíceis de serem reparados.
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Segundo a UNRWA, a agência da ONU para os palestinos, 1,9 milhão de pessoas deixaram suas casas, bairros e cidades desde outubro de 2023, quando Israel invadiu a Faixa da Gaza após o ataque do grupo terrorista Hamas. Isso corresponde a quase 90% da população do enclave.
Mesmo se os combates fosse interrompidos imediatamente, o que parece longe de acontecer, a maior parte não teria para onde retornar — cerca de 80% das estruturas em Gaza foram destruídas, incluindo casas, usinas de dessalinização de água e geradores de energia. Para centenas de milhares de pessoas, tendas improvisadas em bolsões cada vez mais reduzidos são e serão seus lares por um período incerto.
Um levantamento da ONU, de agosto, mostrou que há cerca de 42 milhões de toneladas de escombros no território, suficiente para formar uma linha de caminhões carregados que se estenderia do Rio de Janeiro até Nova Délhi.
Além de não terem para onde retornar, os moradores de Gaza viram suas fontes de alimentação evaporarem: a entrada de suprimentos foi bruscamente reduzida através dos postos de controle de Israel, e uma análise de imagens de satélite feita pela rede Al Jazeera mostra que até 60% das terras agricultáveis foram devastadas, assim como poços (46%), estufas (33%) e painéis solares (65%). A fome extrema atinge cerca de 22% da população, apontou relatório da ONU, em junho.