Logo Folha de Pernambuco

Vaticano

Papa Francisco recusa encontro com Pompeo, e Vaticano se posiciona contra uso político da Igreja

De acordo com os diplotamas do Vaticano, o Papa recusou o convite porque evita se encontrar com políticos antes de eleições

Papa FranciscoPapa Francisco - Foto: Vincenzo PINTO / AFP

O Vaticano informou, nesta quarta-feira (30), que recusou o pedido de Mike Pompeo por uma audiência com o papa Francisco e acusou o secretário de Estado americano de tentar arrastar a Igreja Católica para a o contexto político das eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Os dois principais diplomatas do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, e o arcebispo Paul Gallagher, ministro das Relações Exteriores, disseram que o pontífice não quis se encontrar com Pompeo porque evita se encontrar com políticos antes de eleições.

"Sim, ele pediu. Mas o papa já havia dito claramente que figuras políticas não são recebidas em períodos eleitorais. Essa é a razão", disse Parolin.

Nos últimos dias, o americano tem apelado à "autoridade moral" da Igreja para se posicionar contra um acordo entre Vaticano e Pequim para nomear bispos católicos chineses. "A Igreja tem uma enorme autoridade moral e queremos encorajá-la a usar essa autoridade moral para melhorar as condições dos fiéis, certamente os católicos, mas fiéis de todas as religiões dentro da China", disse Pompeo, em entrevista à agência de notícias católica CNA.

Em um artigo publicado no mês passado, o secretário afirma que "a situação dos direitos humanos na China piorou severamente sob o governo autocrático de Xi Jinping". Pompeo menciona denúncias de esterilização e abortos forçados contra minorias muçulmanas em Xinjiang, no oeste da China, além de ataques a padres católicos e igrejas protestantes como parte de uma campanha chinesa "para subordinar Deus ao Partido [Comunista] enquanto promove promove o próprio Xi como uma divindade ultramundana".

De acordo com o americano, a Igreja coloca em risco sua autoridade moral se renovar o acordo com a China, segundo o qual o papa é ouvido por Pequim para nomear bispos chineses. Com expiração prevista para este mês, o acordo deve ser renovado pela Santa Sé, que o considera um avanço depois de décadas em que católicos chineses exerceram sua fé na clandestinidade.

Parolin e Gallagher classificaram as críticas públicas de Pompeo como uma surpresa. "Normalmente, quando você está preparando essas visitas entre funcionários de alto escalão, você negocia a pauta sobre o que vai falar em particular, confidencialmente. É uma das regras da diplomacia", disse Gallagher.

O discurso anti-China tem sido uma das principais bandeiras do presidente Donald Trump, na tentativa de demonstrar poder contra a ascensão chinesa que ameaça a hegemonia americana no âmbito global. Por isso, Pompeo foi acusado por críticos de não estar de fato preocupado com os católicos chineses, e sim alimentando a retórica de Trump contra Pequim.
"Alguns interpretaram desta forma, que os comentários [de Pompeo] eram acima de tudo para uso político doméstico. Eu não tenho prova disso, mas certamente esta é uma maneira de ver as coisas", disse Parolin, para quem o acordo Vaticano-China "é um assunto que nada tem a ver com a política americana" e "não deve ser usado para esse tipo de fim".

Questionado durante uma entrevista coletiva se estava tentando "começar uma briga" contra o Vaticano por causa da China e se isso poderia impactar os eleitores americanos católicos, Pompeo limitou-se a responder: "Isso é loucura."
Em seu discurso, o secretário não abordou diretamente o acordo entre Pequim e a Igreja, mas voltou a se referir à China como o país que mais fere direitos religiosos no mundo.

"Em nenhum lugar a liberdade religiosa está mais sob ataque do que na China", disse Pompeo. Segundo ele, o regime de Xi Jinping está tentando "apagar a lâmpada da liberdade em uma escala horrorizante". Na manhã desta quinta, Parolin e Gallagher receberam Pompeo em reunião que durou 45 minutos, de acordo com um comunicado oficial do Vaticano.

"As partes apresentaram suas respectivas posições concernentes às relações com a República Popular da China, num clima de respeito, descontraído e cordial. Falou-se, ademais, sobre algumas áreas de conflito e de crise, particularmente o Cáucaso, o Oriente Médio e o Mediterrâneo Oriental", disse Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter