Papuda: presídio onde estão golpistas de Brasília já recebeu Carlinhos Cachoeira, Marcola e Battisti
Complexo penitenciário para onde os bolsonaristas radicais foram levados ficou famoso ao receber políticos do Mensalão e da Lava-Jato
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Os golpistas que foram presos depois de terem participado dos ataques terroristas em Brasília, no último domingo, foram encaminhados para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. A área de segurança máxima ganhou notoriedade depois de ter recebido políticos condenados em casos de grande repercussão nacional e internacional, como o mensalão e a Lava-Jato. Veja abaixo algumas das pessoas que já passaram pelo local.
Carlinhos Cachoeira
O bicheiro Carlinhos Cachoeira foi preso durante as operações Monte Carlo e Saint Michel, da Polícia Federal, em fevereiro de 2012. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), porém, revogou a prisão pela Operação Monte Carlo. Cachoeira foi transferido para a Papuda em abril, após decisão do desembargador Tourinho Neto, onde ficou em uma área destinada a presos da Polícia Federal (PF). De dentro da Papuda, Cachoeira foi suspeito de comandar uma quadrilha que explorava cassinos no Distrito Federal.
Em novembro daquele ano, deixou a prisão depois te ter sido condenado a cinco anos de prisão em regime semiaberto. De acordo com a decisão da juíza, Cachoeira foi condenado a dois anos pelo crime de formação de quadrilha e a três anos por tráfico de influência, além de 50 dias multa (sendo cada um deles no valor de cinco salários mínimos).
Marcola
Marcos Camacho, mais conhecido como Marcola, é considerado o líder de uma das principais organizações criminosas do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC). Em 2019, os indícios sobre a elaboração de um plano para resgatá-lo, colocaram em alerta o Ministério da Justiça.
Em janeiro de 2020, uma semana depois do então secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, enviar uma carta para o governo federal alertando para os riscos da presença de líderes de facções criminosas no presídio federal de Brasília, uma penitenciária administrada pelo DF registrou a fuga de três presos. Os detentos saíram por um buraco aberto em uma das celas da Papuda.
Além de Torres, o então governador Ibaneis Rocha, afastado do poder esta semana, depois de ter sido reeleito, por conta dos ataques terroristas em Brasília, já havia criticado a transferência de líderes de facções criminosas, como Marcola, para o presídio federal do DF.
Cesare Battisti
O ex-ativista italiano Cesare Battisti, considerado culpado pelo assassinato de quatro pessoas e condenado à prisão perpétua pela Justiça da Itália em 1988, fugiu para o Brasil em 2004. Três anos depois, teve a prisão preventiva decretada. Na época, morava no Rio de Janeiro e foi transferido para a Papuda, em Brasília. Battisti teve reconhecida a condição de refugiado político pelo Ministério da Justiça brasileiro.
Em 2010, o então presidente Lula negou a extradição de Battisti, alegando que isso agravaria a situação do integrante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo. No ano seguinte, a defesa pediu que o ex-ativista fosse solto. O governo italiano contestou a decisão. Em junho de 2011, o STF rejeitou o pedido de extradição, por seis votos a três, e decidiu pela libertação de Battisti. Logo em seguida, ele deixou a penitenciária da Papuda e permaneceu no país, onde se tornou escritor.
Geddel Vieira Lima
Suspeito de guardar R$ 51 milhões em espécie em apartamento em Salvador, o ex-ministro Geddel Vieira Lima foi preso e encaminhado para a Papuda em setembro de 2017. Geddel foi preso preventivamente em julho daquele ano pela Operação Cui Bono, suspeito de atrapalhar investigações. Ele obteve o direito de cumprir prisão domiciliar, determinada pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região. Geddel havia deixado o Presídio da Papuda no dia 13 de julho e, menos de dois meses depois, retornou para o local.
Em junho de 2018, a cúpula da Papuda foi afastada depois da descoberta de regalias que eram condedidas ao ex-ministro. Foram apreendidos pendrives e diversos itens proibidos nas celas de Geddel e do ex-senador Luiz Estevão. Em fevereiro de 2019, a coluna de Ascânio Seleme revelou que Geddel chorava todos os dias na prisão.
Luiz Estevão
Depois de ter sua prisão determinada, em março de 2016, o ex-senador Luiz Estevão se entregou à polícia. Ele já havia sido condenado a 31 anos de prisão em 2006, por fraudes na construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRF2), na cidade de São Paulo. Desde o momento em que foi condenado até ser efetivamente preso, na Papuda, dez anos depois, Estevão apresentou 34 recursos.
Em 2016, ele foi denunciado pelo Ministério Público por ter financiado a reforma do local onde estava preso. Em 2017, o ex-senador foi colocado em isolamento, por dez dias, por falta disciplinar. Foram encontrados cafeteira, cápsulas de café, chocolate e macarrão importado, entre outros itens proibidos no presídio, na sua cela e na cantina. Em 2018, foi transferido para o pavilhão de segurança máxima junto com Geddel, depois do caso das regalias terem vindo à tona. A decisão da juíza em questão citou a suspeita levantada na Operação Bastilha de que Estevão atuava como “dono” da Papuda.
José Dirceu
}Ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no escândalo do mensalão, no fim de 2012. Em novembro do ano seguinte, teve a prisão decretada e ficou quase um ano preso na Papuda, onde lia livros e fazia tarefas como varrer o pátio, com a intenção de reduzir a sua pena.
Em maio de 2018, em decorrência das investigações da Lava-Jato, ele foi condenado a 30 anos e nove meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Mais uma vez o ex-ministro ficou na Papuda, dessa vez por pouco mais de um mês, quando foi solto após decisão da Segunda Turma do Superior Tribunal Federal (STF).
José Genoino
O ex-presidente do PT, José Genoino, foi condenado em 2013 a uma pena de quatro anos e oito meses de prisão em regime semiaberto por corrupção ativa, no processo do mensalão. Na Papuda, ficou pouco tempo, pois passou mal dentro da cela, sentindo fortes dores no peito. Seus advogados argumentaram que o estado de saúde do petista tinha se agravado e que, por isso, ele devia voltar para casa e cumprir a pena em sua residência, o que acabou acontecendo.
Em maio do ano seguinte, o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, determinou a volta de Genoino à prisão. A decisão foi tomada após laudo médico atestar que o ex-deputado não enfrentava problemas graves de saúde que justificassem um tratamento diferenciado. Ele voltou para a Papuda no dia seguinte.
Natan Donadon
O então deputado Natan Donadon foi condenado à 13 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de peculato e formação de quadrilha, em junho de 2013, e foi levado para a Papuda. Ele foi o primeiro deputado em exercício preso por uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) desde a promulgação da Constituição em 1988. Em agosto daquele ano, a Câmara dos Deputados decidiu pela manutenção do mandato de Donadon.
Maluf
Condenado a mais de sete anos de prisão por lavagem de dinheiro no período em que foi prefeito de São Paulo (de 1993 a 1996), o então deputado federal Paulo Maluf chegou na Papuda para cumprir a pena em dezembro de 2017, aos 86 anos. A defesa de Maluf pediu por uma prisão domiciliar por conta da idade avançada e de problemas de saúde. Em janeiro do ano seguinte, a Justiça do DF negou o pedido.