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Censo 2022

Para especialistas, resultados do Censo mostram que país precisa investir em política de cuidados

População brasileira caminha para "superenvelhecimento". Contingente com 65 anos ou mais cresceu 57,4% desde o levantamento feito em 2010, somando 22,1 milhões de pessoas

Centro do RecifeCentro do Recife - Foto: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

O Censo 2022, divulgado ontem pelo IBGE, mostrou o retrato de um Brasil envelhecido. Nos últimos 12 anos, a população brasileira envelheceu mais rapidamente do que nas décadas passadas. Os números, de acordo com especialistas, apontam que o país caminha para o “superenvelhecimento” e precisará de políticas voltadas aos idosos.

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O contingente com 65 anos ou mais cresceu 57,4% desde o levantamento feito em 2010, somando 22,1 milhões de pessoas. Entre elas, já há 4,6 milhões com mais de 80 anos. A idade mediana dos brasileiros reforça o cenário de envelhecimento do país. Metade da população tem 35 anos ou mais. Em 2010, era 29 anos.

— É uma população (de 80 anos ou mais) que vai demandar cuidados. É necessária uma política de cuidados, principalmente por haver menos membros na família para cuidar dos mais velhos — destaca Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que acrescenta que gastos com saúde e com a requalificação das pessoas de 60 a 79 anos que estão com relativamente boas condições de saúde precisam aumentar.

Direito a envelhecer
A demógrafa Dalia Romero, pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz), ressalta, no entanto, que no Brasil o direito a envelhecer não é de todos:

— Uma mulher negra que desde criança cuida do irmão, e mais tarde cuida dos filhos, não tem uma grande expectativa de vida. Um indígena tem uma idade média muito abaixo da população branca. Quando se olha para quem conseguiu envelhecer, olhamos para uma parcela branca e feminina da população. Precisamos investir na redução da desigualdade e trazer o homem para os cuidados. Não é só olhar para quem envelheceu, mas para quem não envelheceu.

Menos crianças e adolescentes
Se por um lado a população está envelhecendo, Censo mostrou, por outro, que há menos crianças e adolescentes de até 14 anos. Para o economista professor do Insper Naercio Menezes Filho, o número menor desse grupo pode trazer impactos positivos para o futuro da educação e para a segurança pública.

— Com menos crianças, o gasto per capita vai aumentar crescentemente, se for mantido nos níveis atuais. O problema é saber gastar bem esse recurso, o que não conseguimos fazer até agora: transformar esse recurso em melhoria do aprendizado.

Para o economista, essa mudança no perfil etário também pode ter impacto positivo na segurança pública, já que “a criminalidade é maior na faixa etária entre 14 e 19 anos”.

Mas a conta vai ficar maior tanto na Previdência Social, com menos jovens e adultos no futuro para sustentar as aposentadorias, quanto nos gastos com saúde para atender a população que está envelhecendo. Para dar conta dessas questões, será necessário aumentar a produtividade do mercado de trabalho, ainda concentrado em ocupações de baixa qualificação.

— Os jovens em sua maioria estão empregados em Uber, em aplicativos de entregas e no setor informal. Com isso, é muito difícil crescer a produtividade com tanta gente empregada nesses setores. Temos ainda as meninas que saem do mercado quando engravidam. Estamos nisso há bastante tempo.

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