Parentes de vítimas de naufrágio na Grécia criticam megaoperação por submarino com bilionários
Tragédia na costa grega deixou mais de 300 imigrantes mortos, mas não recebeu a mesma atenção da comunidade internacional que o sumiço do submersível Titan
Parentes de vítimas do naufrágio de uma embarcação superlotada com imigrantes, que virou no sul da Grécia, há duas semanas, criticaram os esforços internacionais e os "milhões de dólares" gastos nas buscas pelo submarino Titan, desaparecido durante uma expedição aos destroços do Titanic com bilionários a bordo.
O submersível perdeu contato com a superfície — numa "implosão catastrófica", como revelou a Guarda Costeira dos Estados Unidos — quatro dias depois da tragédia na Grécia e fez quatro países mobilizarem navios, aviões, robôs e outras tecnologias no resgate. Já o naufrágio da embarcação com imigrantes deixou mais de 300 pessoas mortas e dezenas de desaparecidos, mas não recebeu tamanha atenção da comunidade internacional.
— Nós ficamos chocados que milhões foram gastos nessa missão de resgate [pelo submersível Titan] — afirmou ao jornal "The Guardian" Anees Majeed, que perdeu cinco parentes no naufrágio. — Eles usaram todos os recursos, e várias notícias foram publicadas sobre as buscas. Mas não se incomodaram em buscar por centenas de paquistaneses e outras pessoas que estavam no barco grego.
Para Majeed, a comunidade internacional, "se quisesse", poderia ter salvado vidas ou mesmo ter recuperado os corpos das vítimas da tragédia no Mediterrâneo.
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"São dois pesos e duas medidas" destacou ele. "Não é culpa dos cinco homens [que estavam a bordo do Titan] que centenas de pessoas morreram na costa grega. Mas é culpa de um sistema em que as disparidades de classe são tão grandes."
A operação de resgate por vítimas do naufrágio continua, mas recebe críticas pela lentidão do processo desde o começo. O Ministério do Interior do Paquistão afirmou que havia pelo menos 350 paquistaneses na embarcação, Segundo relatos, cerca de 100 crianças e mulheres estavam presas no porão do barco de pesca, que levava estimadas 750 pessoas. O caso pode esconder um nebuloso esquema de tráfico humano, de acordo com autoridades gregas. Um grupo de sobreviventes identificou nove suspeitos, que escaparam do acidente e agora estão sob custódia da polícia.
Abdul Karim, que perdeu um primo e um tio no naufrágio, disse ao "Guardian" que era triste ver o contraste entre as buscas pelos imigrantes pobres e os turistas ricos.
"É triste que um submarino transportando cinco pessoas ricas tenha recebido muito mais consideração, cobertura e importância do que os migrantes no barco grego" disse ele. "Milhões de dólares devem ter sido gastos para resgatar os ricos, mas para os pobres essa chance não existe."
Duas das vítimas da implosão do submarino Titan tinham cidadania paquistanesa — Shahzada e Suleman Dawood, membros de uma das famílias mais ricas do país. O antropólogo Arsalan Khan disse ao "Guardian" que a disparidade na cobertura do caso de pai e filho dominou a mídia do Paquistão na última semana.
"A resposta ao submarino foi mais empática e chefia de pesar. Tais diferenças criam a impressão de que eles [os Dawood] merecem mais empatia e compaixão e destacam os valores desiguais atribuídos a diferentes vidas humanas, consciente ou inconscientemente, pela sociedade e pelos governos" afirmou o especialista.